Trabalho de acolhimento e rodas de conversa ajudam estudantes a superar desafios emocionais
Michele Loureiro
Cerca de 10% dos alunos do Insper são bolsistas. Em 2022, a escola contava com 305 alunos com bolsas, integrais e parciais, de 23 estados brasileiros. Desses, 50 estavam alojados no residencial Toca da Raposa e outros 88 recebiam auxílio-moradia. Como a maior parte desses alunos deixa suas cidades de origem e mergulha em um novo universo, o tema de saúde mental é uma das preocupações do Insper.
Para garantir o cuidado com a parte emocional dos estudantes, a instituição conta com uma área de acolhimento e aprendizagem, que foca na saúde e no bem-estar dos alunos. O contato acontece já na chegada dos bolsistas, com uma semana de boas-vindas, e se estende por todo o período da graduação.
“Há o impacto de chegar em um lugar com cultura diferente. Muitos alunos vêm de outros estados e relatam o susto com a mudança de ritmo. Dizem que em São Paulo é tudo mais acelerado, há muito trânsito, os locais são distantes. São características com as quais alguns alunos demoram um tempo para se familiarizar e podem gerar ansiedade, e até mesmo depressão, em alguns casos”, diz Ana Cristina Monteiro de Barros de Sena, psicóloga do Insper.
Além dessa mudança na rotina, entram na conta fatores como a distância da família, a divisão de quarto com pessoas até então desconhecidas, a necessidade de lidar com uma rotina que demanda cuidados domésticos e o acompanhamento do curso. “Ainda há a questão da diferença socioeconômica com os outros alunos. É um universo totalmente novo”, diz Ana Paula, assessora de aprendizagem e bem-estar do Insper.
O acompanhamento é essencial para ajudar os bolsistas a lidarem com as transformações da rotina e fazer com que elas sejam mais amenas. Ana Paula explica que um dos principais pontos é a gestão de tempo. “Focamos muito no processo de organização dos alunos e ajudamos a montar um planejamento que inclua tempo para estudo e tarefas domésticas, como fazer comida e lavar a roupa, por exemplo”.
Entre os problemas mais comuns vivenciados pelos bolsistas está a ansiedade por não dar conta de tudo. “Os problemas de saúde mental começam com essa pressão pela produtividade. Nós acolhemos e ajudamos com essas questões, mas não temos a pretensão de fazer terapia. O suporte emocional da área de acolhimento está dentro desse contexto acadêmico e, quando identificamos altos graus de sofrimento, recorremos à rede de apoio psicológico”, explica a assessora.
Segundo ela, é comum que os alunos bolsistas passem por um tempo de adaptação e se agrupem com outras pessoas que vivem situações semelhantes. Como boa parte mora na Toca da Raposa, no local há interações para ajudar na adaptação, como oficinas culinárias, por exemplo. Com isso, os bolsistas acabam formando uma comunidade. “Geralmente, eles têm dificuldade de interagir com outros alunos, mas isso costuma ser temporário”, diz Ana Paula.
Os cuidados com a saúde mental também têm os alunos como protagonistas. Durante a pandemia, alguns deles decidiram falar sobre o tema e criaram o InsperCare, um grupo que a princípio se reunia por videochamadas para compartilhar sentimentos e agora se encontra semanalmente para rodas de conversa.
A iniciativa ganhou apoio do MultiInsper e recebe alunos sem necessidade de inscrição. “Aprendemos sobre como o ato de escutar é importante, e é diferente de tentar achar soluções para os problemas de alguém. É sobre ter empatia e admitir que você não vai conseguir trazer a solução de todos os problemas de alguém. Então, tudo que você pode fazer é dar seu tempo e atenção”, diz Thiago Teixeira dos Santos, aluno bolsista de Engenharia Mecatrônica, um dos primeiros a frequentar o InsperCare.
Ele conta que foi aprovado no Insper durante a pandemia. “Entrar na faculdade sem sequer ver as pessoas com quem eu estava estudando foi desmotivador. Por isso, quando eu soube do grupo para falar sobre saúde mental, topei na hora”, diz.
Lincoln Rodrigo Pereira Melo, aluno bolsista de Engenharia de Computação, também é um dos participantes do grupo. “Meu primeiro ano de faculdade foi totalmente online, o que tornou difícil manter o ânimo. Sentia-me um pouco solitário, afinal, era complicado conhecer as pessoas sem vê-las pessoalmente. Foi então que um jovem gravou um vídeo convidando as pessoas para criar algo relacionado à saúde mental. Aceitei o desafio de imediato”, lembra.
Sete alunos participam ativamente do grupo, que está aberto e espera acolher novos interessados. “Quando estudei no Colégio da Polícia Militar do Ceará, houve um período em que me senti muito solitário, e sempre imagino que pode haver pessoas passando por uma situação semelhante. Gostaria de poder ajudar aqueles que enfrentam uma situação como essa”, afirma Lincoln.
Para atrair mais alunos, o InsperCare conta com perfil no Instagram (@insper_care), grupo de WhatsApp, cartazes, e recomendação do MultiInsper. “Sempre que uma pessoa vai pela primeira vez e fala que se sentiu acolhida, já consideramos um grande sucesso”, diz Lincoln.