O contador e docente de Contabilidade fez sucesso nos anos 1990 como vocalista da banda Stay Puff e ainda se apresenta esporadicamente
O professor Fábio Henrique de Souza leciona Contabilidade Financeira na graduação e Contabilidade para Gestão de Negócios nos cursos de MBA do Insper desde 2014. Além disso, administra seu próprio escritório contábil. Aos 54 anos, nascido e criado em São Paulo, ele ainda encontra tempo para, sempre que possível, se dedicar a uma antiga paixão: a música. Fábio Henrique é vocalista de uma banda de rock chamada Stay Puff, que surgiu nos tempos em que cursava Economia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, no final dos anos 1980.
A banda começou com sete integrantes, alunos de diferentes cursos, como Engenharia, Economia e Administração. “Nós nos conhecemos num bar ao lado da faculdade e éramos todos gordinhos”, conta o professor. O grupo resolveu formar uma banda para brincar com o universo das pessoas com quilinhos a mais — o nome Stay Puff pode ser traduzido como “Fique gordinho”. Segundo um material recente de divulgação, “a banda caracteriza-se por ter em sua formação somente sujeitos gordos com mais de 100 quilos (mesmo todos tendo feito a cirurgia bariátrica)”.
Fábio Henrique se interessa por música desde a adolescência, quando começou a aprender a tocar bateria, aos 16 anos. Na Stay Puff, ele iniciou como baterista, mas depois se tornou vocalista. A banda tem um repertório autoral, com composições próprias — Fábio Henrique é autor de algumas das letras, sempre bem-humoradas. O grupo viveu seu momento áureo nos anos 1990, quando chegou a participar de programas de TV — foi entrevistado por Jô Soares no célebre “Jô Onze e Meia”, quando o programa era transmitido pelo SBT. A banda apareceu também em reportagens da revista Veja, do jornal Folha de S. Paulo e de vários outros importantes veículos.
Com mais de 30 músicas de autoria própria, a banda tocou em várias casas noturnas e bares de São Paulo, como Aeroanta, Brittania, Victoria Pub e Teatro Hall, além de realizar shows em cidades no interior paulista. O grupo também teve a oportunidade de tocar com a banda Mamonas Assassinas (que na época ainda se chamava Utopia), cujos integrantes acabariam morrendo tragicamente em um acidente aéreo na Serra da Cantareira, em 1996.
Em 1998, a Stay Puff venceu um festival caça-talentos promovido pela Fundação Itaú, com a música Os gordos saem de férias. Nesse mesmo ano, a banda gravou um CD demo intitulado Deixem o gordo em paz!“Eu brinco que o CD já nasceu clássico”, diz Fábio Henrique, destacando que o disco contou com a participação especial de músicos renomados, como Zé Rodrix (cantor, compositor e multi-instrumentista falecido em 2009), Próspero Albanese (vocalista da banda Joelho de Porco) e Nuno Mindelis (músico nascido em Angola e um dos mais conceituados guitarristas de blues no Brasil).
Esse foi o único CD produzido pela banda, apesar de haver material para gravar mais. “Fizemos mil cópias do CD. Eu ainda tenho um pouco em casa”, conta Fábio Henrique. “O rock é uma coisa atemporal. Até hoje recebo notícias de alguma rádio em cidades longínquas tocando nossas músicas.”
Embora a Stay Puff tenha conquistado fãs e atraído a atenção da mídia, seus integrantes optaram por não investir na carreira profissional. “Chegamos a conversar com uma gravadora, mas ela não oferecia quase nada em termos financeiros. Todos os membros da banda tinham empregos e dependiam de seus salários para pagar as contas. Não dava para cair na estrada contando só com a renda dos shows”, diz Fábio Henrique, que nessa época trabalhava como gerente de um banco. “Decidimos não apostar. Ficamos só na diversão mesmo.”
Apesar de não ter seguido a carreira musical, Fábio Henrique mantém forte conexão com o rock. Ele guarda com carinho uma coleção com mais de 500 vinis e 1.000 CDs. “Eu mantive o rock como hobby. É uma forma de aliviar o estresse, de relaxar”, diz o professor, que atualmente está terminando o mestrado em Controladoria na Universidade Mackenzie (ele já concluiu dois MBAs na área de Contabilidade Internacional e Finanças na Fipecafi).
O último grande show da Stay Puff ocorreu pouco antes da pandemia. Embora tenha reduzido o ritmo das apresentações, a banda — hoje com quatro integrantes, sendo dois remanescentes do grupo original — se mantém ativa. “A gente se reúne para ensaiar e, quando aparece algum convite para tocar em alguma festinha, a gente comparece”, diz Fábio Henrique. De preferência, com pizza para viagem.
Nota: o professor Fábio Henrique fez questão de agradecer à professora Camila Boscov, sua colega no Insper. “Ela me encorajou a dar essa entrevista e mostrar o meu lado B”, brinca.
A seguir, confira a letra de Ditadura Diet, que faz parte do CD Deixem o Gordo em Paz!, gravado em 1998:
Isto é uma loucura
Parar com tanta gostosura
Pizza com guaraná no jantar
E após almoçar é tortura pensar
E acabar num spa
Emagreça que é legal
Faça tratamento facial
Não pegue anorexia
Nem pare no hospital
Chega de ditadura
A vida já é tão dura
Pare com essa frescura
Só porque sua cintura tem tamanha envergadura
Solicitado a comentar sobre algumas de suas bandas favoritas, o professor Fábio Henrique de Souza não esconde sua paixão pelo rock nacional irreverente. Aqui estão suas indicações:
Joelho de Porco: “É uma das minhas bandas favoritas. Suas letras engraçadas e criativas sempre me cativaram, como a famosa Mardito fiapo de manga. O Joelho de Porco é uma mistura de tudo o que eu gosto em diversas vertentes do rock. A banda acabou, mas o Próspero Albanese continua com carreira solo. Ele é muito bom mesmo e era conhecido como o Paul McCartney brasileiro. Suas letras são fenomenais.”
Ultraje a Rigor: “Lembro-me de uma ocasião em que, quando éramos mais jovens, o Roger, líder do Ultraje a Rigor, nos assistiu tocar no Aeroanta. Eu contei para ele que a gente tocava alguns covers do Ultraje a Rigor e não sabia a quem pedir permissão. Aí ele disse: ‘Está autorizado. Se alguém perguntar, pode falar comigo, que as letras são minhas mesmo’. Eu gostava muito das letras dele da época do Nós vamos invadir sua praiae de outras que se seguiram, ainda mais por causa desse gesto de carinho do Roger.”
Premeditando o Breque e Língua de Trapo: “Eu considero essas duas bandas como uma só, pois seguem a mesma linha, juntamente com o Tubaína do Demônio, que depois acabou se tornando apenas Tubaína. Esses grupos, de certa forma, fazem parte do que chamamos de rock underground paulistano e sempre me encantaram muito. Lembro-me especialmente da música Concheta, do Língua de Trapo, que todo mundo adorava.”