Uma grande firma varejista típica, que comercializa uma larga variedade de itens, reajusta os preços dos seus produtos de forma relativamente sincronizada. Para otimizar seus custos com o processo de reajuste, concentra em alguns dias as mudanças de um conjunto de seus preços, em vez de adotar alterações mais uniformes, item a item.
Uma base de dados única em Israel, país que por lei obriga grandes redes vendedoras de alimentos a postarem diariamente na internet os preços praticados de todos os seus produtos, permitiu aos pesquisadores Marco Bonomo (Insper), Carlos Carvalho (PUC-RJ), Oleksiy Kryvtsov (Banco do Canadá), Sigal Ribon (Banco de Israel) e Rodolfo Rigato (Universidade Harvard) analisar esse comportamento de modo detalhado.
O estudo coletou mais de 500 milhões de observações diárias, de maio de 2015 a outubro de 2019, de 71 varejistas israelenses, cada um disponibilizando mais de 7 mil produtos em média a seus clientes. Descobriu que, num dia de pico de reajustes, a rede típica modifica, para cima ou para baixo, o preço de cerca de 10% de seu catálogo, volume 20 vezes maior do que o dos reajustes praticados fora desses dias.
Nenhum fator externo à dinâmica da empresa — como sazonalidades, feriados, prática de descontos e diferenças entre preços online e na loja física — explica essa sincronização parcial de reajustes. Todos os varejistas da amostra adotaram essa prática concentrada em dias de pico, que ocorreram em média a cada 19 dias.
Os pesquisadores justificam esse comportamento pela existência de dois tipos de custos no processo de ajustamento de preços. Um custo fixo necessário para ajustar qualquer preços, o que geraria uma tendência à sincronização. Mas também postulam a existência de um custo individual de ajustamento, que levaria a firma a ajustar somente os preços que tivessem grande defasagem. A existência desses dois tipos de custo levaria então à sincronização parcial dos reajustes de preço de um grande varejista.
A sincronização total de reajustes de preços havia sido usada na literatura de macroeconomia para justificar efeitos mais fortes da política monetária. Os autores então examinam as implicações para a potência da política monetária de um modelo com sincronização parcial de reajustes de preços calibrado com base nos dados de Israel.
Como no modelo de reajuste parcial, as firmas escolhem reajustar somente os preços mais defasados. O tamanho médio dos reajustes de preço em resposta a um choque monetário é maior do que num modelo em que todos os preços são reajustados simultaneamente. Como consequência, o efeito da política monetária na atividade econômica é mais tênue no modelo com sincronização parcial do que no modelo com sincronização total.
Leia o estudo: Multi-Product Pricing: Theory and Evidence from Large Retailers