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Debate sobre gestão da saúde marcou início de curso para A.C. Camargo

Encontro deu a largada para o Programa de Desenvolvimento de Lideranças, customizado para o hospital de São Paulo referência em oncologia

Encontro deu a largada para o Programa de Desenvolvimento de Lideranças, customizado pelo Insper para o hospital de São Paulo referência em oncologia

 

Bruno Toranzo

 

No dia 29 de junho, o Insper promoveu em seu auditório um evento para discutir o ecossistema da saúde do Brasil. Participaram como convidados o médico sanitarista Gonzalo Vecina, fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e um dos idealizadores do Sistema Único de Saúde (SUS), e o engenheiro de produção Ricardo de Oliveira, ex-secretário de Saúde do Espírito Santo e ex-vice-presidente do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Sáude (Conass). A mediação do bate-papo foi de Isabela Furtado, coordenadora acadêmica do MBA Executivo em Saúde do Insper.

O evento marcou o início do Programa de Desenvolvimento de Lideranças A.C. Camargo, um curso do Insper customizado para o hospital de São Paulo que é referência em oncologia. “Temos aqui vários doutores, pós-doutores e profissionais com experiência internacional. Eles são altamente qualificados, mas também abertos para aprender”, disse Victor Piana de Andrade, diretor geral do A.C. Camargo, na abertura do evento. “Nem todas as instituições reservam milhões para investir em pessoas, mas acreditamos que esse investimento trará retornos para cada indivíduo, para a instituição, para nossos pacientes e para a sociedade como um todo. Vamos cuidar melhor dos pacientes, formar melhores alunos e inovar ainda mais após este curso”, afirmou Piana, que fez o MBA de Gestão de Serviços de Saúde no Insper, em 2017.

Rina Pereira, coordenadora de Programas Customizados de Educação Executiva do Insper, explicou o conteúdo do curso, que será oferecido a partir de agosto para diferentes turmas de profissionais do A.C. Camargo, como diretores, superintendentes, gerentes e coordenadores. “Nosso programa tem como objetivo impulsionar as competências do A.C. Camargo, e é altamente personalizado. Queremos ampliar a visão de negócios, promover discussões relevantes e aprimorar o entendimento do negócio dos participantes”, disse Rina.

O curso busca apoiar o desenvolvimento de competências em soft e hard skills, permitindo que os alunos ampliem sua visão de negócios e entendimento das pessoas como elemento fundamental para o sucesso do hospital. Os encontros serão presenciais e síncronos via Zoom e terão os seguintes pilares: gestão de negócios e excelência operacional; liderança, gestão de pessoas e equipes; e cocriação de projetos.

 

Estratégia Saúde da Família

Durante o debate, o sistema de saúde foi analisado sob uma perspectiva de negócio, com destaque para o modelo de gestão. “Nosso sistema é uma cópia do inglês. Na atenção primária à saúde, temos a Estratégia Saúde da Família, também chamada de ESF, que cobre 60% da população. Os outros 40% têm cobertura assistencial por meio dos médicos que trabalham nas unidades básicas de saúde, realizando 16 consultas diárias em quatro horas. Esses profissionais são contratados, portanto, para trabalhar meio período por dia”, explicou Vecina.

Na ESF, há uma equipe multiprofissional responsável pelo atendimento formada por médico generalista, especialista em saúde da família ou médico de família e comunidade; enfermeiro generalista ou especialista em saúde da família; auxiliar ou técnico de enfermagem; e agentes comunitários de saúde. “Os agentes representam nossa inovação em relação ao modelo inglês. Eles vão até as pessoas em suas casas identificando situações de risco. Isso faz uma diferença fantástica no nosso modelo de atenção primária à saúde”, completou o idealizador do SUS.

Cada equipe de ESF, de acordo com o Ministério da Saúde, deve ser responsável pelo atendimento de 4 mil pessoas no máximo, embora a média ideal seja de 3 mil. A recomendação é que o número de pessoas atendidas por equipe considere o grau de vulnerabilidade das famílias daquele território. Sendo assim, quanto maior o grau de vulnerabilidade, menor deve ser o número de pessoas por equipe. “A assistência primária à saúde tem capacidade de resolver 85% da agenda epidemiológica da população”, afirmou Vecina.

Na Inglaterra, apenas 5% da população tem plano de saúde. Por lá, na visão do especialista, há apenas duas diferenças do atendimento privado em relação à saúde pública: sofisticação, como internação em quarto individual, e fuga de fila. “A fila faz parte da assistência à saúde em todo o mundo, pois saúde não é algo que se possa estocar. A questão é que a fila precisa ser transparente e democrática, como sabemos fazer no SUS com transplante de órgãos, mas não conseguimos com cardiologia, cirurgia, radioterapia, entre outros, que são problemas a serem resolvidos”, disse Vecina.

 

Desafios técnicos e políticos na gestão do SUS

Para Ricardo de Oliveira, o desafio em relação à gestão da saúde é mais complexo no setor público do que no privado, já que a visão dos gestores precisa ser de todo o sistema, e não apenas do meu hospital ou negócio. “Se você olhar na Constituição Federal, perceberá que o Brasil só tem um sistema de saúde: o SUS. O setor privado é complementar. As pessoas têm a impressão de que existem dois sistemas, o público e o privado, mas essa não é a realidade constitucional”, observou. “Ainda segundo as regras da Constituição, é preciso atender às necessidades de saúde da população em qualquer hora e em qualquer lugar. Em um país continental como o Brasil, essa determinação é desafiadora. Ser eficiente no Amazonas em relação a esse dispositivo é diferente do que em São Paulo por causa do gasto com logística, havendo necessidade de barco, helicóptero e avião para chegar às comunidades que precisam de atendimento de saúde”.

Segundo Oliveira, esses desafios técnicos e também políticos têm sido enfrentados desde a promulgação da Constituição, e muita coisa já foi feita, motivo pelo qual o debate em saúde precisa considerar que não estamos saindo do zero, pois existem boas iniciativas em curso no país. “A gestão, com desperdício enorme de recursos, e o financiamento são dois problemas do SUS. Sobre o segundo, há um amplo conjunto de interesses institucionais, políticos e econômicos disputando a direção das políticas públicas e seu orçamento, o que é natural em um regime democrático”, observou.

Por fim, Oliveira comentou sobre o argumento de que o crescimento do setor privado, dos planos de saúde, melhoraria o atendimento no SUS. “É simplista porque ignora o fato de a população brasileira não ter dinheiro para pagar convênio médico. Quem paga está com dificuldade para manter essa despesa. Nos Estados Unidos, o custo de saúde é fator de empobrecimento da classe média. O que interessa mesmo é organizar o sistema público de saúde de forma eficiente, fazendo com que o usuário não precise passar por várias etapas para obter um atendimento satisfatório ao realizar, por exemplo, um exame médico”, finalizou.

Assista aqui ao evento na íntegra.

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