Realizar busca

Startup criada por alunos ajuda na busca do primeiro emprego

Bolsistas do Insper fundaram a Preparo, que chamou a atenção do empresário Jorge Paulo Lemann e recebeu um aporte total de 1,6 milhão de reais de um grupo de investidores

Bolsistas do Insper fundaram a Preparo, que chamou a atenção do empresário Jorge Paulo Lemann e recebeu um aporte total de 1,6 milhão de reais de um grupo de investidores

Marcos Vinícius, Jorge Paulo Lemann e Luiz Felipe Lazzaron
Marcos Vinícius, Jorge Paulo Lemann e Luiz Felipe Lazzaron

 

Françoise Terzian

 

O dramaturgo Ésquilo (525-456 a.C.), pai da tragédia grega, dizia: “Quando um homem tem força de vontade, os deuses dão uma ajuda”. Certamente, foi essa força de vontade, unida à incansável busca por conhecimento, que levou os jovens Marcos Vinícius (25 anos) e Luiz Felipe Lazzaron (26 anos), ambos de origem humilde, a chegar ao Insper, fundar a startup de tecnologia Preparo e chamar a atenção de um dos homens mais ricos do Brasil.

Marcos é catarinense (de Chapecó) e Luiz Felipe, paranaense (de Curitiba). Incentivados pelos pais desde pequenos, eles acumulam participações em olimpíadas científicas e também conquistas de medalhas e bolsas de estudo. Luiz Felipe, por exemplo, é tech fellow da Fundação Estudar. No ensino médio, ele fez um curso de técnico em mecânica e desenvolveu uma cadeira de rodas para terrenos irregulares, baseada em um modelo do Massachusetts Institute of Technology, o MIT. “Foi aí que descobri minha paixão por tecnologia e produtos.”

Foi assim, com determinação, enquanto estudavam para entrar no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), que eles descobriram o Insper e se apaixonaram pela proposta da instituição. “Morávamos em um alojamento em Fortaleza com bolsistas do Brasil todo. Muitos falavam do Insper, da possibilidade de conquistar uma bolsa para estudar lá e da chance de empreender durante a graduação. Como sempre tivemos interesse em empreender, nos candidatamos e conseguimos uma bolsa.” Hoje, eles cursam o terceiro ano de Engenharia de Computação no Insper e, durante os dois primeiros anos de graduação, moraram na Toca da Raposa, alojamento estudantil que funciona em um prédio doado pela Fundação Brava, da família de Carlos Alberto Sicupira, sócio de Lemann na 3G Capital.

 

Hult Prize

Sempre ativos, os dois participaram, em 2019, do Hult Prize, prêmio internacional que desafia jovens a resolver alguns dos problemas mais urgentes do mundo por meio do empreendedorismo social. Todos os anos, a equipe vencedora recebe 1 milhão de dólares em financiamento para transformar sua ideia em realidade. A temática do ano em que Marcos e Luiz Felipe participaram foi o desemprego entre os jovens.

A dupla, ao lado de outros dois bolsistas, foi ultrapassando cada etapa dentro do Insper, depois do Brasil, até chegar à semifinal em Quito, no Equador. Para viajar, eles conseguiram ajuda de empresários para arcar com o custo da passagem aérea. E, graças ao Insper, foram se aproximando de grandes empresários, como Jorge Paulo Lemann (da 3G Capital), André Street (da Stone) e André Esteves (do BTG). Embora o time de bolsistas não tenha chegado à final, ele chamou a atenção de Lemann e, posteriormente, de outros investidores, que, juntos, já aportaram 1,6 milhão de reais na startup. Foi assim que a Preparo deixou de ser um projeto para virar, de fato, uma startup. Assim, atraiu os fundadores da infratech Vórtx (Juliano Cornacchia e Alexandre Assolini) e um membro da Stone que também faz parte da Comunidade Alumni do Insper, que também investiram no negócio.

“Vimos muitos valores do Lemann que refletem os nossos — sonhar grande e ver o empreendedorismo como meio de transformação da sociedade. Foi assim que falamos sobre nós e vendemos nosso sonho”, conta Marcos Vinícius. Luiz Felipe acrescenta que a missão da Preparo é democratizar o acesso às oportunidades para jovens em busca do primeiro emprego. Hoje, esse número gira em torno de 30 milhões no Brasil e inclui os que se encontram dentro de uma instituição (graduação ou ensino técnico), os recém-formados ou da “geração nem-nem” (nem trabalha, nem estuda). A maioria não consegue se informar sobre as oportunidades existentes. “Quando eu morava em Chapecó, Santa Catarina, minha terra natal, não ficava sabendo nem de 1% das oportunidades”, recorda Marcos.

A Preparo saiu na frente por diferenciais como desenvolver uma estratégia de expansão para mais de 400 instituições de ensino ao redor do país (devendo chegar a 800 até o final do ano), descomplicando o lado das empresas que buscam os jovens candidatos. “Hoje, com um clique, uma empresa consegue anunciar uma vaga e, por meio de um algoritmo, alcançar o perfil do jovem procurado, levando em conta o perfil técnico, profissional e também a diversidade. Na busca, dá para incluir gênero, raça, orientação sexual e outros critérios”, conta Marcos.

De quebra, o sistema também permite o acesso a todos os interessados de forma justa, já que a grande maioria não fica sabendo das vagas. Até pouco tempo atrás, o RH de muitas empresas compartilhava suas vagas com algumas instituições de ensino, que, por sua vez, disparavam as vagas no e-mail acadêmico dos alunos. Atualmente, pela plataforma da Preparo, são divulgadas vagas variadas de primeiro emprego — de estágio regular ou de férias, de assistente, de analista júnior e recém-formado, de trainee e de aprendiz.

Outro diferencial da Preparo é permitir que os jovens tenham acesso a um raio X de suas hard skills. “Estamos desenvolvendo uma tecnologia para mapear as características de cada candidato e passamos um feedback para ele em tempo real. Assim, ele consegue saber suas habilidades”, diz Marcos.

O mesmo se aplica ao mapeamento das habilidades de soft skills dos jovens, o que é passado para as empresas. Para isso, a Preparo estuda fechar parceria com edtechs e instituições mais tradicionais — uma forma extra de monetizar seu negócio, hoje pago pelas empresas usuárias. Inclusive, para falar com o jovem de uma forma fácil e descomplicada, a Preparo propõe uma experiência gamificada (emprego de técnicas comuns aos games) e com reaproveitamento de dados em sua plataforma. O contato das empresas interessadas em recrutá-los também é feito da maneira que eles mais usam — por WhatsApp. “A forma de o jovem se comunicar mudou, mas muitas empresas não se adaptaram a isso. Também investimos no TikTok e no Reels do Instagram para falar com nosso público”, diz Luiz Felipe.

Para eles, o acesso à plataforma é gratuito. Os fundadores da Procuro enxergam que a cobrança de uma taxa seria mais uma barreira de entrada para o mercado de trabalho. “Nosso primeiro objetivo é dar acesso. O segundo é proporcionar uma tecnologia que dê transparência não só ao processo, mas também às habilidades de cada um. E a terceira refere-se ao desenvolvimento de cada jovem”, afirma Marcos.

 

Crescimento do negócio

Com um time atualmente de 15 pessoas, contando os dois fundadores, a Preparo ainda não atingiu o break-even. O momento ainda é de investimento em produtos e desenvolvimento. Não por acaso, boa parte da equipe é focada no desenvolvimento de produtos. Inclusive, a dupla já teve duas propostas de venda de uma fatia significativa na empresa, o que injetaria muito capital e liquidez ao negócio. Mas os fundadores não acharam ser o momento ideal para essa entrada.

A startup de tecnologia, no entanto, já gerou mais de 25 milhões de reais em contratos para os cerca de 30 mil jovens que conseguiram uma oportunidade com sua ajuda. “Até o final do ano, queremos ter 1 milhão de jovens cadastrados na plataforma”, diz Marcos.

 

Hub de Inovação

A Preparo é uma empresa residente do Hub de Inovação do Insper, um misto de HR tech e edtech. “Esse ecossistema criado pelo Insper foi um dos principais catalisadores do nosso negócio. Fazemos parte da trilha de empreendedorismo e já contamos com a ajuda de professores como Guilherme Fowler, que ocupou a Cátedra Endeavor”, diz Marcos.

Incansáveis, os dois jovens participam, no momento, do processo seletivo da Y Combinator, a maior aceleradora de startups do mundo. Sempre que um investidor pergunta à dupla se o seu objetivo é vender ou virar gigante, eles respondem: “Queremos gerar um impacto grande na sociedade. Portanto, não enxergamos como algo de que queiramos nos livrar. Queremos transformar a Preparo em algo grande e de relevância”.

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