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Prêmio Pensamento Crítico estimula a lógica e o estilo da argumentação

Os professores Fernando Schüler e Leandro Consentino contam como as atividades da disciplina Pensamento Crítico e Ética desenvolvem o diálogo e o protagonismo dos estudantes

Os professores Fernando Schüler e Leandro Consentino contam como as atividades da disciplina Pensamento Crítico e Ética desenvolvem o diálogo e o protagonismo dos estudantes

Cena do filme "Bad Education"
Cena do filme “Bad Education”, um dos materiais que serviram de provocação aos alunos

 

Leandro Steiw

 

O Prêmio Pensamento Crítico é o reconhecimento a uma das tarefas tradicionais da disciplina Pensamento Crítico e Ética, ministrada no primeiro semestre das graduações em Administração e Economia do Insper. Os estudantes devem assistir a um filme, participar do debate com um convidado e escrever um texto crítico baseado na teoria apresentada em aula. Os melhores trabalhos são publicados, posteriormente, no site do Insper — no final desta página, veja os links para ler, na íntegra, os textos escolhidos em 2023.

O resultado costuma surpreender. “Existe a preocupação de melhorar a redação, na composição do uso da linguagem, na lógica da argumentação e até na elegância do texto”, diz Fernando Schüler, professor da disciplina. “A ideia é que o aluno não se prenda ao modelo tradicional de redação. Então, textos com alguma inovação estética e até formal ou formas mais provocativas são muito bem recebidos. Chamou a atenção que os alunos vêm se soltando um pouco mais.”

No primeiro desafio, eles conectaram uma obra clássica do economista britânico John Stuart Mill (1806-1873) com o tema da liberdade de expressão e o longa-metragem O Povo contra Larry Flynt, do tcheco Milos Forman (1932-2018), e debateram com o advogado Marco Antonio Sabino. Na segunda metade do semestre, as ideias do economista comportamental americano Dan Ariely conduziram a pauta dos pequenos delitos e da ética das nossas escolhas com o filme Má Educação, do americano Cory Finley. O debate foi com Vinícius Müller, professor de história econômica no Insper.

Outras iniciativas instigam os alunos da disciplina, comenta o professor Leandro Consentino. No Desafio da Leitura, eles devem ler uma obra clássica da literatura durante o semestre e elaborar uma resenha crítica, como meio de exercitar a leitura longa e adquirir uma formação cultural mais geral. Na atividade “Buchanan Talks”, os grupos produzem um vídeo de cinco minutos relacionado à teoria da escolha pública — que rendeu o prêmio Nobel Memorial de Economia de 1986 para o americano James McGill Buchanan Jr (1919-2013).

Da experiência de Schüler na Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos, montou-se o Advocacy Project, um jogo de argumentação sobre sete temas da ética contemporânea cuja solução é complexa tal a diversidade de visões. Por exemplo, o uso comercial de barrigas de aluguel ou o uso de tortura na guerra contra o terror. “São todas questões muito delicadas, e os grupos precisam argumentar a favor e contra”, explica Schüler. “Só que existem algumas regras na argumentação. Não se podem usar falácias ou frases soltas, sem referências ou por mera opinião. Não vale o ad hominem, ou seja, eles têm que tratar do argumento, e não do adversário.”

Conforme Schüler, a filosofia é desenvolvimento de competências para escrever e se expressar oralmente, portanto, um elemento de retórica. “Podemos achar muita coisa na vida, mas estamos na academia, e a questão é argumentar com base em algo”, afirma Schüler. “O Insper tem a tradição de trabalhar com evidências, com fontes e com argumentos consistentes. Além disso, a produção de vídeos é uma linguagem contemporânea, que requer poder de síntese e uso da tecnologia para seduzir o espectador.”

Os estudantes aprendem que a ética é uma decisão pessoal. “Um dos primeiros textos que analisamos com eles é exatamente a diferença entre o pluralismo e o monismo ético e como a sociedade é marcada por diferentes visões”, diz Schüler. “Nem se quiséssemos nós ensinaríamos ética, porque existem diferentes visões sobre a própria ética. O que fazemos é esclarecer esse debate e, a partir desse esclarecimento, cada um vai formando a sua própria visão. E as atividades de aula permitem que eles, gradativamente, tomem posições sobre temas relevantes e contemporâneos, como a liberdade de expressão proposta no Prêmio Pensamento Crítico.”

 

Espaço de expressão

Na disciplina, a aprendizagem é centrada no aluno, no diálogo e no cotejo de ideias. “É essencial que o próprio aluno forme as suas convicções e pense com autonomia”, afirma Schüler. “Para que faça isso, ele tem que ter o protagonismo e precisa participar, escrever, desenvolver as ideias, ser desafiado, ser colocado numa situação de incerteza. Ele tem que sair da zona de conforto e se expor. Todas as atividades da disciplina são um espaço de expressão.”

Consentino reforça que a série de atividades promovidas durante o semestre mantém os estudantes engajados nesse diálogo, não restringindo a avaliação às notas das duas provas. “Até por causa do avanço das ferramentas de inteligência artificial, já tínhamos o antídoto na disciplina, que é buscar o protagonismo e o aprendizado nas evidências, escapando daquele modelo cansativo de aulas expositivas, para o qual o ensino específico de ética não faz muito sentido”, diz.

Na era da internet e da inteligência artificial generativa — aquecida pelo lançamento do ChatGPT —, descomplicou-se o acesso à informação e a produção de textos. O desafio tornou-se a curadoria dessa abundância, acredita Consentino. Os alunos da graduação que demonstram certa experiência na escrita, trazidas das habilidades e dos interesses cultivados no ensino médio, acabam se destacando nas duas premiações do semestre. Mas não é uma regra. Todos são estimulados a também escrever em língua inglesa, porque o Insper é uma escola internacional e muitos farão intercâmbio no exterior durante ou depois da graduação.

Os melhores textos do Prêmio Pensamento Crítico falam por si. Eles demonstram que as escolhas individuais não estão descoladas da ação coletiva e da economia. “A decisão humana é muito complexa, e o indivíduo age com base na lógica racional autointeressada, mas mediada por comprometimentos éticos”, afirma Schüler. “Queremos entender, sem fazer pregação ética, como funciona a escolha coletiva em uma sociedade aberta, na democracia, na qual convivem as nossas expectativas em relação às ações dos outros e as dos outros em relação às nossas ações.”

 


LEIA OS TEXTOS PREMIADOS

 

Prêmio Pensamento Crítico I

 

Turma A

Enzo Orabona

Liberdade de expressão e o debate a respeito de seus limites

 

Turma B

Anna Luiza Sayão

O conflito das liberdades

 

Turma C

Tiago Liberman

A liberdade de expressão deve ser restringida?

 

Turma D

Sávio da Silva de Souza

Os limites da liberdade de expressão

 

Prêmio Pensamento Crítico II

 

Turma A

Maria Eduarda Arb Comparato

A racionalização da desonestidade dentro e fora da ficção

 

Turma B

Davi Peter Bastian Nehls

How small mistakes lead to severe consequences

 

Turma C

Manuela de Oliveira Lopes Arbex Hernandes

O poder das pequenas decisões

 

Turma D

Sávio da Silva de Souza

A fragilidade da ética

 

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