Encontro realizado em Recife, uma iniciativa de ex-alunos da pós-graduação do Laboratório Arq.Futuro de Cidades, destacou a experiência bem-sucedida de Medellín
Bruno Toranzo
Dos dias 9 a 12 de maio, Recife sediou o 1º Encontro Brasileiro de Urbanismo Social, que abordou o tema “Cidades brasileiras em perspectiva”. O evento contou com a participação de especialistas em urbanismo social de diferentes regiões do Brasil e da América Latina, líderes populares, gestores públicos, profissionais de organizações do terceiro setor, consultorias e negócios sociais. A iniciativa, organizada pela Rede Brasileira de Urbanismo Social e pela Agência Recife para Inovação e Estratégia (Aries), surgiu dos alunos da segunda turma da Pós-Graduação em Urbanismo Social do Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper. Uma das principais características dessa turma foi a diversidade, com alunos provenientes de 12 cidades brasileiras e com trajetórias diferentes de vida.
“Depois que visitamos Medellín, entendemos que precisávamos contar para o maior número possível de pessoas tudo que vivenciamos e aprendemos. Criamos então um grupo com esse objetivo de compartilhar as melhores práticas e experiências de urbanismo social”, relata Denis Pacheco, membro fundador da Rede Brasileira de Urbanismo Social. A cidade de Medellín, na Colômbia, notabilizou o urbanismo social, funcionando como um laboratório de políticas públicas e projetos de inovação. “Eles saíram de cidade mais violenta do mundo para a mais inovadora. Servem de referência para nós, já que temos espaço urbano muito parecido, com problemas e desafios em comum”, afirma Tomas Alvim, coordenador-geral do Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper.
A partir dos anos 1990, a gestão pública do município de Medellín implementou espaços de convivência para combater a violência, incluindo construção de bibliotecas, parques, praças e complexos educacionais, culturais e de lazer. Esses locais receberam o nome de Unidades de Vida Articulada (UVA) e têm sido referência no Brasil para, por exemplo, os Centros Comunitários da Paz (Compaz), implantados em Recife, também chamados de Fábricas da Cidadania. Há duas unidades na capital pernambucana que oferecem atividades diversas voltadas para educação, o que inclui cursos de capacitação, esportes, cultura e serviços, como assistência social, e saúde e bem-estar.
“A violência encontra terreno fértil nos territórios que sofrem com a ausência do Estado. A lógica de Medellín reproduzida pela cidade de Recife é oferecer o melhor para os mais necessitados, preenchendo assim o vácuo que havia nesses lugares por causa da falta de atuação do poder público”, explica Alvim. O urbanismo social tem justamente esse objetivo de intervir de forma holística em áreas socialmente vulneráveis ou carentes de infraestrutura urbana. Para isso, considera as demandas das comunidades, fazendo o planejamento de maneira participativa — em conjunto, portanto, com as comunidades locais. Essa cooperação entre poder público, entidades da sociedade civil e população local melhora os indicadores de desenvolvimento sustentável.
“O aspecto holístico vem do alinhamento das intervenções urbanísticas com as políticas públicas. Essa visão convergente ou integrada faz com que o Estado atenda o cidadão em todas as suas necessidades, oferecendo escola, biblioteca, parque, centro comunitário, programas de primeira infância, de capacitação e geração de renda”, observa Alvim.
Para Aline Cardoso, secretária de Desenvolvimento Econômico e Trabalho da Prefeitura de São Paulo, que também fez parte da segunda turma da pós-graduação no Insper e viajou para Medellín, o urbanismo social está comprometido com uma sociedade mais justa para todos, reduzindo as desigualdades e fortalecendo o acesso a oportunidades, motivo pelo qual há um terreno fértil para seu desenvolvimento no Brasil. “Percebemos que existem muitos interessados no setor público, na iniciativa privada e no terceiro setor em contribuir para uma sociedade melhor por meio do urbanismo social. Tenho aplicado esse conceito às políticas públicas com o propósito de gerar oportunidades na capital paulista para quem mais precisa delas”, destaca a secretária.
Ainda segundo a ex-aluna do curso do Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper, trata-se, na essência, de uma gestão pública mais participativa que promova o diálogo frequente com a população, que precisa ter direito à cidade, com boas condições sociais e sanitárias, por exemplo, além de poder circular livremente por ela, combatendo aquela ideia de concentrar os mais pobres na periferia e subir muros em condomínios fechados para proteger da violência o restante da sociedade. “As discussões em Recife demonstraram que somente por meio da escuta das comunidades, do entendimento de suas reais necessidades, o poder público é eficaz no trabalho de levar os serviços certos para os lugares corretos”, diz Aline Cardoso.