Realizar busca
test

Desbravando a blockchain: os desafios dos “smart contracts”

Ainda que essa tecnologia ofereça benefícios notáveis, é necessário também estabelecer normas e protocolos comuns para garantir a integração eficiente de sistemas e plataformas

Ainda que essa tecnologia ofereça benefícios notáveis, é necessário também estabelecer normas e protocolos comuns para garantir a integração eficiente de sistemas e plataformas

 

Marson Cunha*

 

Os desafios comerciais de implantar a tecnologia blockchain em negócios que buscam se beneficiar dos “smart contracts” são complexos e exigem uma análise aprofundada da dinâmica envolvida. Nesta reflexão, destacarei alguns dos obstáculos fundamentais que se apresentam nesse processo de implementação.

Em primeiro lugar, é crucial compreender que a adoção da blockchain e dos “smart contracts” representa uma mudança significativa na forma como os negócios são conduzidos. A introdução dessa tecnologia requer uma reestruturação interna das empresas, com a revisão de processos e sistemas existentes. A transição para uma abordagem baseada em blockchain demandaria um planejamento prévio para transcrever, automatizar e tornar digitais direitos e obrigações que hoje são construídos e mantidos de forma analógica. Uma possível solução é construir contratos e processos em plataformas nativas em blockchain. Com isso, o monitoramento de direitos e obrigações — sejam contratos, sejam instrumentos financeiros — seria automatizado e contaria com maior transparência e menor risco (sistêmico e sistemático).

Além disso, a adoção da blockchain enfrenta desafios relacionados à interoperabilidade entre blockchains diferentes e a própria estruturação de dados para que se tornem mais eficientes. Ainda que a tecnologia blockchain ofereça benefícios notáveis, é necessário estabelecer normas e protocolos comuns para garantir a integração eficiente de sistemas e plataformas. A falta de interoperabilidade pode criar obstáculos substanciais à adoção generalizada e à efetividade dos “smart contracts”. No que tange aos dados, uma vez que estes estejam estruturados, a integração de sistemas e plataformas pode ser feita de forma mais natural e uniforme. Vale ressaltar que, em um ambiente global, dificilmente uma organização utiliza um único sistema que seja capaz de lidar com mercados distintos. Consequentemente, seus dados precisam ser estruturados para que possam ser moldados de forma a atender às necessidades de seus gestores.

Outro desafio significativo diz respeito à segurança e à confiança. A implementação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) em um ambiente internacional é um desafio complexo, dada a diversidade de leis de proteção de dados presentes em 137 países distintos. Cada nação tem suas próprias regulamentações e requisitos específicos para a proteção de informações pessoais. Para cumprir essas leis em diferentes jurisdições, as organizações precisam dedicar recursos consideráveis ao desenvolvimento de políticas e práticas de conformidade adequadas. Uma das formas encontradas para lidar com isso é o uso de “cloud computing” para tratar ou utilizar dados em seus pontos de origem. Desta forma, estes dados não são deslocados, e tanto a segurança da informação quanto a integridade dos dados não são expostos. O impacto de utilização de dados com maior confiabilidade e integridade em operações de comércio exterior, na quais acordos comerciais influenciam a oferta e a demanda, proporcionaria maior segurança operacional e jurídica para as transações sem infringir em questões de LGPD.

Um aspecto adicional a ser considerado é o impacto regulatório. A tecnologia blockchain desafia os paradigmas tradicionais e, portanto, exige uma análise cuidadosa dos regimes regulatórios existentes. A definição de marcos regulatórios adequados e claros é fundamental para proporcionar um ambiente jurídico seguro e previsível para os negócios que desejam implantar a blockchain e os “smart contracts”. Colaboração entre empresas, governos e órgãos reguladores é essencial para promover uma adoção responsável e sustentável. A forma mais prática para fomentar a adoção com órgão reguladores, por exemplo, é demonstrando a praticidade, a confiabilidade e a transparência ao utilizar esta tecnologia para endereçar e reduzir risco sistêmico sem o aumento de custos para o ente público ou aumento de burocracia para o setor privado.

Por fim, é essencial abordar a questão da educação e conscientização. A implementação bem-sucedida da blockchain e dos “smart contracts” requer um entendimento sólido dessa tecnologia por parte dos líderes empresariais e dos profissionais envolvidos. Investir em programas de treinamento e capacitação é fundamental para desenvolver uma base de conhecimento robusta e garantir que as organizações estejam preparadas para lidar com os desafios e aproveitar as oportunidades que a blockchain oferece.

 


*Marson Cunha é o managing director da Inveniam, Brasil e Peru Lead. Profissional de finanças com vasta experiência na liderança e planejamento de finanças estruturadas, fusões e aquisições e private equity real estate. É alumnus do MBA de Finanças no Insper, turma de 2009.

 

Este website usa Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade

Definições Cookies

Uso de Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade