[{"jcr:title":"Ela está sempre à frente na luta por mais diversidade e inclusão"},{"targetId":"id-share-1","text":"Confira mais em:","tooltipText":"Link copiado com sucesso."},{"jcr:title":"Ela está sempre à frente na luta por mais diversidade e inclusão","jcr:description":"A história da consultora Solange Feliciano, que enfrentou vários obstáculos para terminar uma faculdade e hoje ajuda a mudar a realidade de muitas outras mulheres"},{"subtitle":"A história da consultora Solange Feliciano, que enfrentou vários obstáculos para terminar uma faculdade e hoje ajuda a mudar a realidade de muitas outras mulheres","author":"Ernesto Yoshida","title":"Ela está sempre à frente na luta por mais diversidade e inclusão","content":"A história da consultora Solange Feliciano, que enfrentou vários obstáculos para terminar uma faculdade e hoje ajuda a mudar a realidade de muitas outras mulheres   Bárbara Nór   Antes de as palavras diversidade e inclusão ganharem a dimensão que têm hoje no mundo do trabalho, Solange Feliciano, fundadora da consultoria BlackWomen, já levantava essas discussões nos lugares por onde passava. Em 2010, por exemplo, ao desenhar o site da empresa que ela mantinha com seu marido, Solange se deu conta de que a página precisava ser acessível para deficientes visuais. Ela não somente se preocupou em fazer a adaptação do site para isso, como também se reuniu com um grupo de desenvolvedoras para falar como essa adaptação deveria ser feita sem custo algum. “Eu falava que isso era errado. Todo mundo tinha que ter acesso sem ter que pagar.” Seu pioneirismo se repetiu quando entrou pela primeira vez em uma empresa de TI e assumiu a coordenação do departamento de tecnologia. “Era totalmente masculinizado. Eu era a única mulher e eles não me respeitavam quando eu apontava bugs e problemas nos programas”, afirma. A sua resposta? Criar um departamento de qualidade de software que faria esse controle — e contratar justamente mulheres para formar a equipe.   Solange Feliciano   Não é por acaso que o tema da diversidade e inclusão despertou desde cedo a atenção de Solange. Afinal, iniciativas como as que ela mesma viria a tocar foram algo que fizeram falta em sua história. Nascida em uma família humilde, ela teve que começar a trabalhar para ajudar a pagar as contas aos 13 anos, quando seu pai faleceu por causa de um erro médico. Ainda na escola, ela passou a trabalhar em uma transportadora como aprendiz de auxiliar de escritório, onde era a única menina. “Minha mãe não era alfabetizada, então a gente tinha grandes problemas. Eu precisava até ajudar com o inventário do meu pai, por exemplo, mas sem entender nada”, diz. “E ela precisava trabalhar e ponto. Quem ia ficar comigo não era da conta dela, eu tinha que ser responsável por mim mesma.” Já nessa época, Solange percebia que, para mudar sua situação, o esforço teria que ser mais que dobrado. Por isso, além do emprego, ela também trabalhava como animadora de festas. “O dinheiro da empresa de transporte ajudava minha mãe com o aluguel e o da festa eu já queria investir na carreira”, conta. O plano era pagar um curso de datilografia para poder trabalhar com secretariado, o que ela acabou conseguindo fazer. Mas, ao mesmo tempo que tirou sua certificação, viu abrir uma escola de informática do outro lado da rua. “Meu curso não serviu para nada. Já era tudo computador”, dá risada. Por outro lado, foi aí o germe de sua decisão de, um dia, trabalhar com tecnologia. Mas seu percurso a partir daí teve ainda mais desafios. Aos 19, ela virou mãe e teve que abandonar seus estudos, inclusive o ensino médio técnico. Só aos 22, em 2001, ela retomaria e conseguiria se formar e seguir para a faculdade, aos 30 anos, depois de conseguir uma bolsa do Prouni. “Até pouco tempo atrás, eu era a única na família a ter ensino superior”, diz. “Mas, agora, meu filho mais velho também é formado.” E, mais uma vez, não foi sem sofrer experiências excludentes que Solange passou pelo ensino superior. Ela ouviu, por exemplo, de um professor da faculdade de marketing que ela nunca conseguiria exercer a profissão. “Eu sempre fui neurodiversa e tive problemas de escrita”, diz. “Eu achava que era porque minha mãe era analfabeta, mas, uma vez, por acaso, passando meu filho na fonoaudióloga, descobri que sou disléxica.” Em vez de se desanimar, Solange não só terminou a faculdade de marketing, como decidiu fazer também em paralelo o curso de análise de desenvolvimento de sistemas. Terminando o curso, conversou com o reitor da faculdade e fez questão de que o professor que dissera que ela jamais iria conseguir entregasse os dois diplomas. “Eu queria que ele visse que fui além.” Ela também foi a oradora do curso e aproveitou para discursar sobre como os professores têm o papel de ajudar — e não de destruir sonhos. “Principalmente para uma mulher negra, que veio de cortiço, de uma família que ninguém estudou, o que ele deveria ter feito era me incentivar.”   Mais mulheres em tecnologia Hoje, a busca de Solange é para que outras pessoas tenham o apoio que ela não teve —em especial na área de tecnologia e inovação. E, cada vez mais, ela é reconhecida justamente por sua atuação em diversidade e inclusão. Em 2019, por exemplo, ela ajudou a desenhar para a Microsoft o projeto Black Women Tech, que capacita mulheres negras e subsidia a certificação AZ900 das participantes. Hoje, o projeto está em sua quinta turma e passou a incluir aulas de inglês — idioma necessário para tirar a capacitação. Nesse meio tempo, Solange também se tornou gerente de parceria na WoMakersCode, iniciativa para inspirar meninas e mulheres para ingressar em carreiras ligadas à tecnologia e inovação, oferecendo capacitação e mentoria, entre outros. Outro projeto, como gerente de cultura, diversidade e inclusão em uma startup de educação, foi ajudar a capacitar mulheres trans em português e matemática. O objetivo era que pudessem sair da rua e da prostituição e assumissem uma posição em uma rede de supermercados. Desde 2020 também, Solange tem sua própria consultoria, a Black Women, para ajudar as empresas em projetos, treinamentos e outras iniciativas de diversidade e inclusão. Além disso, ela é conselheira desde 2021 do Fórum das Mulheres Negras da Secretaria Municipal da cidade de São Paulo, e, desde 2022, é membro da Associação Pacto pela Equidade Racial e do Pacto das Pretas, que tenta trazer mais equidade em cargos de liderança. Neste mês, ela também se tornou membro da Lide Futuro, grupo de networking que reúne lideranças preocupadas com o impacto na sociedade e o fortalecimento do ecossistema empresarial. Hoje, Solange vê em sua trajetória a sua maior fortaleza. “Olhando para a diversidade de áreas em que trabalhei, foi muito rico porque comecei a ver que entendo muito de pessoas, entendo várias culturas e que cada pessoa tem sua história única, seus conhecimentos e valores”, diz. Por isso, ela gosta de compartilhar sua história em palestras e como mentora de outras mulheres. “Quero que a mulher entre na tecnologia sem que ela sinta tanto medo — eu não fui amparada por ninguém, não tive mentor que me disse para onde ir, bati muito a cabeça para conseguir chegar aonde cheguei.” Garantir esse apoio seria essencial para reverter estatísticas como as que mostram que as mulheres negras ocupam apenas 3% dos cargos de liderança nas empresas no Brasil. “Para trazer mais mulheres pretas para o mesmo lugar que eu, precisamos oferecer apoio, programa de mentoria, não deixar ela sozinha”, diz. “Ter alguém que ajude não só na hard skills , mas também nas soft skills , é algo que faz uma diferença gigantesca.” Mas, para Solange, o entendimento da história e do contexto único de cada um é o que mais faz falta nas empresas — mesmo naquelas preocupadas com a diversidade e inclusão. Afinal, não se trata somente de trazer essas pessoas, mas de entender necessidades e especificidades particulares de cada uma delas. É essa a ideia também por trás do Dia da Diversidade Cultural, comemorado no dia 21 de maio — a data foi instituída pela ONU em 2001. “Isso significa promover o respeito, a tolerância e compreensão mútua entre indivíduos e povos”, afirma. “É por meio de culturas diferentes que conseguimos expandir nossos horizontes, ampliar nossa visão do mundo e ter uma nova consciência de riqueza e complexidade da humanidade.” E não é preciso ir tão longe — como em outros países ou regiões do Brasil — para perceber a diversidade cultural. Em uma única cidade como São Paulo, por exemplo, as disparidades podem ser tão grandes que, se ignoradas pelas empresas, podem reforçar ainda mais a exclusão. Solange lembra de uma vez em que trabalhava em um projeto voltado para jovens periféricos do extremo da Zona Leste de São Paulo para um escritório localizado na Faria Lima. Em uma reunião com esses jovens, o gestor da área contava como eles teriam acesso a um outro mundo na empresa — e que poderiam até levar o pet para trabalhar junto se quisessem. “Nessa hora eu abri o microfone e disse que só para chegar na empresa, o jovem ia ter que pegar pelo menos um ônibus, trem, metrô e mais um ônibus, que seria impossível levar um cachorro”, diz. “Os meninos olharam para ele e disseram: ‘A tia tem razão. Como é que vai levar o cachorro nessa viagem”. Para Solange, cenas como essa podem até parecer engraçadas, mas são reflexo da “bolha” em que muitas empresas ainda estão. “Eu gostaria que fossem até a casa dos futuros colaboradores, e não de carro, mas fazendo o mesmo trajeto que eles precisam fazer”, diz. “Isso é diversidade cultural, entender como é esse processo.” Fazer isso poderia, talvez, sensibilizar mais as empresas e lideranças para avançar, de fato, nos programas de diversidade e inclusão. “A gente avançou pouco. A maioria das empresas ainda contrata mais homens, poucas pessoas negras”, diz Solange. “E quando você vê os layoffs que estão acontecendo, a maioria das pessoas que são cortadas são mulheres.”  "}]