[{"jcr:title":"O impacto da peste suína africana na saúde humana e no comércio internacional de carnes"},{"targetId":"id-share-1","text":"Confira mais em:","tooltipText":"Link copiado com sucesso."},{"jcr:title":"O impacto da peste suína africana na saúde humana e no comércio internacional de carnes","jcr:description":"Como a doença animal impacta a segurança alimentar global devido a mudanças nos fluxos de comércio e no controle sanitário"},{"subtitle":"Como a doença animal impacta a segurança alimentar global devido a mudanças nos fluxos de comércio e no controle sanitário","author":"Ernesto Yoshida","title":"O impacto da peste suína africana na saúde humana e no comércio internacional de carnes","content":"Como a doença animal impacta a segurança alimentar global devido a mudanças nos fluxos de comércio e no controle sanitário   Danilo Keitaro Suda Mazakina, assistente de pesquisa do Insper Agro Global Fernanda Kesrouani Lemos, pesquisadora do Insper Agro Global e do Metricis   Entre 2018 e 2022, a China apresentou casos de peste suína africana (PSA) em seu rebanho comercial. Passados poucos meses da primeira ocorrência, a dinâmica comercial global de carne suína modificou-se expressivamente, dado que a China era, até então, autossuficiente no consumo dessa proteína. O país liderou as importações mundiais nesse período, com 5,2 milhões de toneladas, e mantém a posição até os dias atuais. Estima-se que 40% do plantel chinês tenha sido eliminado, o que justifica essa mudança em sua balança comercial. Ademais, houve um efeito substituição no consumo, impactando também a demanda das carnes de aves e bovinos. Embora a ocorrência na China em 2018 tenha impactado significativamente os mercados, a PSA foi primeiramente diagnosticada em 1921, no Quênia, prevalecendo na região subsaariana, daí a origem de seu nome. No entanto, a ocorrência na Península Ibérica, na década de 1970, foi a que ganhou notoriedade. A doença é altamente contagiosa e mortal para animais, mas até hoje não há registro de infecções em humanos. A transmissão pode ocorrer de duas formas: via contato direto entre animais doentes (ou vetores biológicos) e animais saudáveis; e de modo indireto, por meio de alimentação e contato com objetos infectados. Após contrair a doença, o animal pode morrer em 6 a 20 dias. O diagnóstico é realizado com amostragens e exames laboratoriais. A recomendação da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) em casos de contaminação é o abate sanitário rápido do rebanho, eliminação adequada das carcaças, desinfecção do local e controle da movimentação e do trânsito dos animais. Isso deve ser feito para a contenção de novas ondas de contaminação. No entanto, ressalta-se o difícil controle e recuperação de status sanitário uma vez detectada a doença, devido à velocidade e à facilidade no contágio. A Espanha, 3° maior consumidor e 6° maior produtor de carne suína do mundo, desenvolve desde os anos 1980 um projeto sanitário de combate à doença. O país investiu em sistemas de saúde veterinária, melhorou a sanidade do ambiente produtivo e desenvolveu programas de identificação e de ações rápidas de contingência. Em 1995, a doença foi erradicada no país e a taxa de mortalidade se reduziu para 5%. Mas há outros países que não vêm obtendo o mesmo sucesso: em 2021, a Polônia notificou 1.190 casos em porcos domésticos e 2.278 em selvagens, chegando em 2023 a contaminar javalis.   Consumo per capita de carne suína no mundo, em 2020   Fonte: Insper Agro Global com base nos dados da FAO STAT (2023)   O Brasil, 4° maior produtor e exportador de carne suína, não apresenta casos de PSA desde 1984. O país atua principalmente por meio de medidas preventivas, recomendadas pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e pelo Programa Nacional de Sanidade dos Suídeos (PNSS), visto que não há vacinas para a doença. Em 2022, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) publicou o Plano de Contingência para Peste Suína Africana, contendo recomendações sanitárias, de detecção e de controle. Evitar que a doença alcance o país é um compromisso com a produção, o mercado, a segurança do alimento e alimentar. O surto de PSA na China em 2018 foi uma oportunidade de mercado para vários países, entre eles o Brasil. De 2018 a 2020, as três principais proteínas — aves, suínos e bovinos — apresentaram elevado crescimento em embarques para a China. As exportações de carnes suína e de frango retrocederam após o surto inicial, mas se mantiveram em um patamar mais elevado que no período anterior. Já a carne bovina registrou grande crescimento, que se manteve em 2022. O surto de PSA colocou a China em estado de alerta quanto a sua segurança alimentar e dos alimentos consumidos no país. A incerteza sobre a situação da epidemia motivou planos de ações preventivas e melhorias sanitárias nos estabelecimentos, com a fixação de uma meta de 95% de autossuficiência produtiva. Porém, não se pode afirmar que um país consiga conter, em curto prazo, um possível novo surto de PSA, devido às características da doença. A China enfrentou a instabilidade de suprimento interno de carne suína, agravada pela elevação de demanda por proteínas per capita, uma consequência positiva devido ao aumento de renda da população. Os efeitos combinados levaram o país a se tornar o maior importador de proteínas durante o surto e permanecer como um importante destino para a carne bovina brasileira. Tais movimentações globais afetam também as relações de troca, comprometendo preços e modificando padrões de consumo em ambos os países. Nesse sentido, a contenção da PSA deve ser um compromisso global, para que uma questão sanitária não ameace a segurança alimentar de países menos desenvolvidos.  "}]