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O “Dr. ChatGPT” tem potencial para ser o nosso próximo médico?

A ferramenta de inteligência artificial conseguiria passar no exame de licença médica dos Estados Unidos, mas alguns diagnósticos equivocados em casos críticos poderiam ter sido fatais

A ferramenta de inteligência artificial conseguiria passar no exame de licença médica dos Estados Unidos, mas alguns diagnósticos equivocados em casos críticos poderiam ter sido fatais

 

O rápido avanço da inteligência artificial renovou o debate sobre o papel dessa tecnologia em diversas áreas. Uma delas é a medicina, em que a IA tem demonstrado grande potencial, ao mesmo tempo que traz novos desafios. Em fevereiro, um grupos de pesquisadores publicou um estudo na PLOS Digital Health, um periódico sobre saúde digital, big data e assistência médica, mostrando que o ChatGPT — um chatbot desenvolvido pela empresa OpenAI — seria capaz de passar no Exame de Licenciamento Médico dos Estados Unidos (USMLE, na sigla em inglês).

O USMLE é um teste nos qual os estudantes de medicina nos Estados Unidos devem ser aprovados para exercer a profissão. O exame consiste em três etapas. Os pesquisadores testaram o ChatGPT utilizando 350 perguntas do USMLE disponíveis publicamente e verificaram que o chatbot obteve entre 52% e 75% de acerto nas três etapas, colocando-se “confortavelmente dentro da faixa de aprovação”.

Os autores do estudo observaram que o ChatGPT foi capaz de produzir “pelo menos um insight significativo” em cerca de 90% dos resultados. “Além disso, o ChatGPT demonstrou um alto nível de concordância e perspicácia em suas explicações. Esses resultados sugerem que grandes modelos de linguagem podem ter o potencial de auxiliar na educação médica e, potencialmente, na tomada de decisões clínicas”, concluíram os pesquisadores.

Depois da divulgação desse estudo, vários profissionais procuraram testar a capacidade médica do ChatGPT de outras maneiras.  Um deles foi um médico emergencista americano chamado Joshua Tamayo-Server, que publicou na revista Fast Company um relato sobre seu experimento. O autor do texto alimentou o ChatGPT com históricos médicos de 35 a 40 pacientes e pediu que o programa fornecesse diagnósticos diferenciais para cada caso. Embora o ChatGPT tenha sugerido o diagnóstico correto para metade dos pacientes, seu desempenho foi muito pior em alguns casos críticos.

Em um caso particularmente preocupante, uma paciente tinha uma gravidez ectópica — gestação fora do útero, uma condição não muito comum e que o médico só conseguiu descobrir por meio de uma entrevista detalhada com a paciente. O ChatGPT falhou nesse caso ao não sugerir a possibilidade de uma gravidez ectópica. Se a paciente tivesse usado o ChatGPT para se diagnosticar em vez de consultar um médico, a resposta incorreta do programa poderia ter sido fatal. O médico também observou outros casos em que o ChatGPT diagnosticou erroneamente condições de risco de vida, sugerindo que o programa não é totalmente confiável.

Tamayo-Server concluiu que o ChatGPT pode ser útil como uma ferramenta de diagnóstico quando usado com informações precisas e em pacientes que apresentam sintomas clássicos de uma doença. No entanto, a capacidade do programa de lidar com situações complexas e raras é limitada. O médico alerta que o uso irresponsável do ChatGPT para diagnóstico clínico pode trazer consequências graves e que a tecnologia deve ser usada com cautela e sempre como um complemento à avaliação médica.

 

Potencial e limitações

Com a popularização da internet, tornou-se comum realizar pesquisas sobre problemas médicos em ferramentas de buscas como o Google. Em vez de procurar um médico ou um hospital, muita gente se contenta em “consultar” apenas a internet, o que deu origem ao termo “Dr. Google” — uma pesquisa do próprio Google revelou que 26% dos brasileiros recorrem primeiro à plataforma para tirar as dúvidas médicas. Agora, com o desenvolvimento de ferramentas de inteligência artificial mais avançadas, o “Dr. ChatGPT” ameaça tomar o lugar do “Dr. Google”, como fonte primária de consulta médica.

Mas é preciso cautela. Como alerta um recente editorial do prestigioso The New England Journal of Medicine: “A medicina é diferente de outras áreas em que a IA é aplicada, e a implementação de aplicativos e sistemas de IA requer considerações éticas, de governança e regulatórias críticas. As novas aplicações terão que aderir aos mesmos padrões aplicados a outras tecnologias médicas, exigindo um nível de rigor nos testes semelhante ao usado em outras tecnologias”.

Não custa lembrar que o próprio ChatGPT reconhece suas limitações. Enviamos uma pergunta sobre como ele poderia auxiliar um médico, e o chatbot respondeu:

“Como um modelo de linguagem natural treinado em uma ampla variedade de tópicos, posso auxiliar um médico de várias maneiras. Aqui estão alguns exemplos:

• Fornecer informações médicas: Eu posso fornecer informações precisas e atualizadas sobre doenças, sintomas, tratamentos, medicamentos e muito mais. Os médicos podem me fazer perguntas para obter respostas rápidas e confiáveis, economizando tempo de pesquisa.

• Ajudar na tomada de decisões: Com base nas informações fornecidas pelo médico sobre um paciente, posso ajudar na tomada de decisões clínicas, como diagnóstico, tratamento e prognóstico. Isso pode ser particularmente útil em situações em que o médico precisa tomar uma decisão rapidamente e não tem tempo para revisar todas as informações relevantes.

• Interpretar exames e resultados: Eu posso ajudar a interpretar resultados de exames, como radiografias, tomografias, ressonâncias, além de exames laboratoriais. Eu posso também explicar termos médicos para o médico ou paciente entender melhor o diagnóstico.

• Fornecer assistência linguística: Como modelo de linguagem natural, posso ser configurado para fornecer assistência em diferentes idiomas para ajudar na comunicação entre médicos e pacientes que falam línguas diferentes.

No entanto, é importante lembrar que, como modelo de linguagem, não sou um substituto para a experiência clínica de um médico. Sempre consulte um profissional de saúde para obter orientação e cuidados médicos adequados.”

À pergunta sobre se ele poderia algum dia substituir um médico de verdade, o ChatGPT respondeu desta maneira:

“Embora eu possa ser útil como ferramenta de apoio e fornecer informações úteis, é importante lembrar que eu sou apenas uma ferramenta baseada em algoritmos e não tenho a capacidade de substituir a experiência e o conhecimento de um médico. A medicina é uma profissão complexa e altamente especializada que envolve muitos anos de treinamento, habilidades e julgamento clínico. O papel do médico é essencial na avaliação e no tratamento de pacientes, e eu sou apenas uma ferramenta que pode ajudá-los em suas práticas médicas.”

 

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