Livro sobre liderança não precisa ser superficial nem efêmero. Veja quatro indicações de leitura do professor Edvalter Becker Holz
Edvalter Becker Holz *
Liderança é comumente vista como um tema de livro de aeroporto. É uma pena, pois não faltam opções na Literatura — com L maiúsculo. Aí vão quatro dicas para líderes que admiram a quinta arte (ou que querem experimentar algo diferente do gênero “quem mexeu no meu queijo”).
Editora Nova Fronteira, 304 págs.
Um dos livros mais fascinantes do século XX, esta obra impressiona pela combinação entre ficção e realismo histórico. À beira da morte, o grande imperador Adriano reflete minuciosamente sobre sua vida, seus feitos gloriosos e seus sentimentos mais confusos. A conturbada ascensão ao poder, as guerras territoriais e religiosas, a clivagem entre casamento e paixão — nada escapa à narrativa elaborada por Yourcenar ao longo de quase três décadas de pesquisas. “Pequena alma terna flutuante, hóspede e companheira do meu corpo, vais descer aos lugares pálidos duros nus, onde deverás renunciar aos jogos de outrora”. A epígrafe anuncia: um grande líder reflete sobre si mesmo, critica a si mesmo, analisa minunciosamente as profundezas de si mesmo.
Editora Nova Fronteira, 336 págs.
O jovem Zênon personifica o surgimento do espírito iluminista, racional, científico, humanista, inovador, em meio às superstições e misérias da Idade Média, incluindo a inquisição e a pandemia da Peste Negra. No início do livro, Zênon decide abandonar a rica família, na pequena Bruges, e perambular rumo a Paris. A partir daí, a narrativa apresenta uma jornada magnífica de busca pela capacidade de pensamento autônomo. Inspirado em figuras como Leonardo da Vinci, Paracelso, Miguel Servet, Copérnico, Étienne Dolet e Tommaso Campanella, Zênon ensina que grandes líderes rompem os vícios familiares e se aventuram na jornada solitária que é aprender a pensar por si só.
Companhia das Letras, 208 págs.
Autor de livros amargurados, mas viscerais, Coetzee apresenta nesta fábula a monótona rotina da administração de uma província distante. Entre as supervisões de estoques e de funcionários juniores, quem não abandonar a leitura antes do tempo encontrará uma meditação sutil, mas profunda, sobre ética no exercício do poder.
Editora Alfaguara, 456 págs.
Quais os perigos de se tomar autoritarismo por liderança? O que pode acontecer quando um autoritarista assume uma posição que deveria ser ocupada por um líder efetivo? Qual a responsabilidade daqueles que estão ao seu redor? Como agir eticamente, quando a ética foi aniquilada? Leitura imprescindível para jovens ansiosos por liderar, sedentos por poder e nem sempre versados em ética, esta obra magistral explora, sem concessões, a vida na República Dominicana nos anos da ditadura do general Trujillo (apelidado “o bode”), e seu fim deplorável.
*Edvalter Becker Holz é professor na trilha de Liderança e Gestão de Pessoas em programas de graduação, pós-graduação e educação executiva no Insper