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Sorry, pedido de desculpa

Identidade moral aumenta qualidade dos pedidos de desculpa

Pessoas com uma “bússola moral” mais forte sentem mais culpa após ofender outros, o que as leva a se esforçar mais para resolver conflitos, conclui estudo
27/04/2023 18:26

 

Quanto mais central é a moralidade para um indivíduo, maior tende a ser a qualidade do pedido de desculpas quando essa pessoa ofende alguém. A culpa, despertada pela transgressão, é o mecanismo que leva a investir maior esforço ao se desculpar.

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores Tatiana Iwai (Insper), João Vinícius Carvalho (USP) e Gazi Islam (Escola de Gestão de Grenoble) realizaram uma série de três estudos em que testaram as conexões entre firmeza moral, de um lado, e a qualidade dos pedidos de desculpas, do outro.

Ainda que desculpas de alta qualidade sejam estratégias efetivas para resolver conflitos e reparar relacionamentos, as pessoas normalmente resistem a se desculpar. E mesmo quando o fazem, oferecem desculpas de baixa qualidade. Isso porque há um custo implícito em todo pedido de desculpas por um ato ofensivo. O indivíduo que solicita o perdão arrisca-se a fragilizar-se diante da outra pessoa, seja porque pode se sentir humilhado, seja porque pode ser punido pelo outro. Quanto maior o grau de contrição — que pode incluir a demonstração de remorso, a assunção de responsabilidade, a admissão do dano causado, a promessa de não recair no erro e de reparar o dano causado —, maiores tendem a ser esses custos.

O sentimento de culpa, segundo a hipótese do trio de pesquisadores, é o fator que leva uma pessoa fortemente identificada com padrões morais a incorrer nesses custos em busca da reconciliação com a parte ofendida. Além disso, cogitam Tatiana, João e Gazi, a culpa age com mais força quanto menor é a expectativa de que a parte ofendida vá conceder o perdão.

No primeiro estudo, estudantes foram submetidos a testes para aferir a sua aderência a valores morais como justiça, compaixão e cuidado com os outros. Um mês depois, foram instados a relembrar situações pessoais passadas em que ofenderam alguém e a reportar seu grau de culpa e se pediram desculpas ou não pela transgressão. Os resultados mostraram que pessoas com maior identidade moral se sentiram mais culpadas, o que aumentou as chances de pedirem desculpas a quem ofenderam.

No segundo estudo, um experimento pré-registrado com uma amostra de profissionais, os pesquisadores mediram a qualidade do pedido de desculpas que os ofensores estariam inclinados a oferecer aos ofendidos. Os resultados corroboraram a hipótese de que a maior culpa sentida por pessoas com maior centralidade moral levou a desculpas de maior qualidade.

No terceiro estudo, para criar um ambiente mais realista e emocionalmente envolvente, os pesquisadores requisitaram aos participantes que se lembrassem de uma ofensa real que cometeram contra outra pessoa e que não tivesse sido resolvida ainda. Os participantes deveriam então escrever um pedido de desculpas à parte ofendida, que depois foi codificado para classificar a qualidade do pedido de desculpa escrito. Além disso, mediu-se também o grau em que os participantes da pesquisa acreditavam que as pessoas ofendidas iriam aceitar seus pedidos de desculpas.

No conjunto, os três estudos corroboraram as hipóteses de Tatiana, João e Gazi. Pessoas com “bússola moral” mais forte sentem mais culpa diante de uma ofensa a terceiros, e a culpa as impele a serem mais exaustivas nos pedidos de perdão. Aculpa é especialmente importante para gerar desculpas de alta qualidade, nas situações em que elas são mais necessárias. Ou seja, quando as partes ofendidas parecem menos dispostas a perdoar, pedir desculpas torna-se arriscado e mais desafiador e, consequentemente, menos provável de ser oferecido. Paradoxalmente, no entanto, essas são as situações em que desculpas de alta qualidade podem ser um dos caminhos mais promissores para a reconciliação.

 


Leia o estudo:

How transgressor’s moral identity leads to high-quality apologies: The positive effects of guilt


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