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Como anda a educação tecnológica na América Latina

Associação de universidades apresentou um balanço do ensino superior na região. Painel contou com a participação do presidente do Insper, Marcelo Knobel

Associação de universidades apresentou um balanço do ensino superior na região. Painel contou com a participação do presidente do Insper, Marcelo Knobel

 

Leandro Steiw

 

O presidente do Insper, Marcelo Knobel, foi um dos convidados de uma live de lançamento do número 95 da revista Universidades, editada pela Unión de Universidades de América Latina y el Caribe (Udualc). Para apresentar um olhar sobre a educação tecnológica na região, participaram também do painel, no dia 13 de abril, Raúl Rojas, professor de inteligência artificial na Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, e Enrique Fernández Fassnacht, coordenador da edição e diretor-geral do Instituto Politécnico Nacional e do Instituto Tecnológico Nacional do México.

Durante o evento, foi possível identificar pontos em comum no ensino superior dos diversos países que integram a associação. No México, por exemplo, a lei destina 8% do PIB para investimentos no setor de educação pública. Em 2021, no entanto, esse índice ficou em 3,3%, disse Raúl Rojas. O professor afirmou que esse déficit resulta na queda da qualidade das escolas públicas e, consequentemente, na migração dos filhos das classes média e alta para a educação privada.

Knobel comentou que a situação no ensino superior do Brasil não é muito diferente da observada em outros países da região. “Apenas 20% dos brasileiros com idades entre 18 e 24 anos estão matriculados em alguma universidade, sendo que 77% desses jovens estão em universidades privadas, muitas delas instituições com fins lucrativos.”

Além disso, no Brasil, pela primeira vez na história, mais da metade dos estudantes matriculados no ensino superior frequenta cursos a distância, uma tendência que começou a ser observada antes mesmo do crescimento exponencial do ensino remoto durante a pandemia. Hoje comuns na educação, as aulas gravadas ou transmitidas pela internet foram uma das soluções adotadas no período de isolamento social provocado pela disseminação da covid-19.

Para Knobel, isso teve algumas consequências em termos da qualidade, da possibilidade de aprendizado técnico propriamente dito e do acesso a laboratórios e equipamentos.  “Esse aprendizado técnico é absolutamente essencial e necessário para formar uma mão de obra fundamental para o progresso e o futuro de nossos países”, disse. Mas a realidade do ensino tem se mostrado mais complexa.

Há cerca de uma década, o Brasil começou a discussão sobre aumento das vagas nos cursos de Engenharia, para dobrar o número de engenheiros no país, recordou Knobel. A intenção era ampliar o número de profissionais em setores essenciais ao crescimento econômico, como a indústria, a tecnologia da informação e a infraestrutura. “O problema é que temos uma educação básica que não é compatível com essa realidade.”

Desde a época dessa discussão, o desempenho escolar em matemática, particularmente, não mudou tanto. No Brasil, menos de 1% dos estudantes de 15 anos que fazem o exame do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) tem nota equivalente a 5 ou 6 — consideradas as qualificações mínimas para que um jovem possa cursar uma universidade.

Knobel explicou: “Isso significa que menos de 1% dos jovens de 15 anos no Brasil tem a capacidade e a habilidade em matemática para a educação superior. Algo como 250.000 jovens. É muito pouco. Hoje temos, no Brasil, mais de 500.000 vagas só em cursos de Engenharia. Ou seja, a discussão para aumentar as vagas em Engenharia, de ampliar as possibilidades para os jovens, não faz sentido, porque não há jovens qualificados o suficiente para acompanhar o nível mínimo de cálculo, de aritmética e de matemática básica em uma universidade”.

 

Ponto em comum

A discussão do ensino superior acaba se dirigindo ao mesmo ponto, na opinião de Knobel: a melhora da educação como um todo, para cuidar da formação dos jovens em todos os níveis educacionais. Para ele, também é preciso reconhecer nesse debate a importância do ensino tecnológico, que prepara profissionais em cursos de três ou quatro anos de duração.

“Infelizmente, em muitos casos, esses jovens não são reconhecidos por empresas da indústria como equivalentes a um graduado em Engenharia”, disse o presidente do Insper. “Muitas vezes, para ajudar na renda da sua família, o jovem necessita de uma formação mais técnica e mais rápida para assumir trabalhos tecnológicos que são absolutamente essenciais para o país.”

O Brasil tem 2.457 instituições de educação superior, registra um dos artigos publicados na edição 95 da revista Universidades. No México, são cerca de 6.000, que têm desempenhos que vão de bom a muito ruim, observou o professor Enrique Fassnacht. Ele contou que o ensino tecnológico no México foi, em parte, prejudicado pela pressa na criação de um nível intermediário entre o politécnico e a universidade, permeada por decisões que atenderam mais ao âmbito político do que ao acadêmico.

Entretanto, Fassnacht acredita que ainda é tempo de reorganizar o ensino superior em busca de melhor qualidade em toda a região. Todos os participantes do painel concordam que há problemas, mas que já existem estudos e experiências que podem guiar para o caminho das soluções.

 

 

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