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Search Fund: um modelo de investimento ainda embrionário, mas promissor

Conferência no Insper debateu o empreendedorismo por aquisição, uma alternativa que ganha força no Brasil, país com forte presença de empresas familiares

Conferência no Insper debateu o empreendedorismo por aquisição, uma alternativa que ganha força no Brasil, país com forte presença de empresas familiares

 

Françoise Terzian

 

Empreender é o verbo preferido de muita gente, e no Insper não seria diferente. Desde 2021, seus alunos e alumni já levantaram 5,3 bilhões de reais em recursos para startups — 48, no total, incluindo empresas como Remessa Online, Alice, Caju, Piwi, Dress & Go, Vittude, Zazos e Cumbuca, entre outras, em um total de 60 rodadas de investimento.

Por trás desses números há dois fatores. “O Insper pretende ser referência global na formação de líderes inovadores e no desenvolvimento de pesquisa aplicada para a solução de problemas”, afirmou Thomaz Martins Aquino, do Insper, na abertura da 6th Brazilian Search Fund Conference: The Growth of Entrepreneurship through Acquisition, realizada no dia 22 de março no Insper, em São Paulo.

A conferência discutiu um movimento crescente e mais recente no Brasil, que representa uma nova oportunidade aos empreendedores. Trata-se do “empreendedorismo por aquisição”, o chamado Search Fund. Ainda embrionário no país, seu potencial de expansão é inquestionável. Basicamente, é um modelo de investimento no qual uma pessoa ou um time — o searcher — capta recursos com investidores para financiar a busca em até dois anos de uma companhia para aquisição. Após a compra, o searcher torna-se CEO da empresa, implementa melhorias operacionais e de processo, promove profissionalização e governança e depois a vende. O modelo tem potencial de gerar excelentes retornos aos investidores.

Durante o evento, o professor Newton Campos, da FGV-EAESP, apresentou os principais dados do estudo “Latin America Search Fund Study 2022: Industry Overview”, que analisou o desenvolvimento do Search Fund na América Latina.

De acordo com o estudo, o primeiro Search Fund levantado e com um ciclo de vida completo na América Latina foi o Altos Andes, fundado em 2003 em Santiago, no Chile. O processo de busca levou um ano, e a empresa adquirida foi a Glasstech, fabricante de materiais de cristal. A empresa foi vendida em 2009.

A América Latina tem alta relevância na indústria de Search Funds. Dos 211 fundos de uma amostra global que exclui Estados Unidos e Canadá, 50% estão na Europa, 40% na América Latina e 10% no restante do mundo. Desses 82 Search Funds na América Latina, 37 estão no México, 24 no Brasil e outros 21 distribuídos entre Colômbia, Chile, República Dominicana, Argentina, Guatemala, Peru e Paraguai.

A indústria de Search Funds cresce em ritmo acelerado na América Latina, com espaço para avançar ainda mais. Durante 2009 a 2021, a taxa de crescimento agregada composta foi 39% ao ano. O estudo prevê uma expansão de 56% de 2022 a 2026. Esse crescimento dependerá do retorno que será gerado por esses Search Funds, e isso só será observado quando houver a venda das empresas que foram adquiridas.

 

Painel durante confereência sobre Search Funds
Painel durante a 6ª Conferência Brasileira sobre Search Fund, no Insper

Due diligence e avaliação

Na sequência à apresentação do estudo, aconteceu o painel “Acquiring a Small Business in Brazil: Due Diligence and Valuation”, moderado por Andrea Minardi, professora do Insper. “Por volta de 85% das aquisições na América Latina por Search Funds são empresas de dono sem sucessor. Search Fund é uma maneira de fazer a sucessão”, disse a professora. No painel foi discutido que muitas empresas familiares apresentam ineficiência, além de risco trabalhista e tributário. Daí a importância do processo de due dilligence, que, embora tenha um custo elevado e exista restrição orçamentária na fase de busca, é fundamental e precisa ser feito. O painel sugeriu que a due diligence seja feita de forma eficiente e faseada. Rafael Bassani, da Spectra Investments, sugeriu fazer minidiligências com escopo reduzido. Os searchers, muito provavelmente, farão mais de uma diligência antes que encontrem a empresa para adquirir, e isso deve ser previsto quando estiverem levantando capital com os investidores para a fase de busca

Por sua vez, Cristiana Wiener, da FM/Derraik, lembrou que cada processo de diligência é único. “Como muitas dessas empresas são familiares e trabalham com alguns aspectos na informalidade, as áreas fiscal e trabalhista são sempre áreas de atenção”, disse Cristiana. Já Tammara Berezovsky, da Vita Capital, lembrou que é preciso administrar várias frentes, como a expectativa do searcher, do investidor e do próprio vendedor da empresa. Rodrigo Nigri observou que o valor ofertado pela empresa é função dos passivos contingentes encontrados durante a diligência, e que muitas vezes é necessário estruturas de earn out para viabilizar a aquisição.

A professora Andrea Minardi observou que a demanda por capital hoje no Brasil é muito maior que a oferta. “Com tantas empresas familiares, o Brasil é um mercado com muito potencial. A aquisição por um Search Fund é um bom negócio para as empresas, porque os searchers trarão profissionalização, processos e uma saída de sucesso para o dono, que continuará a ver seu negócio crescer. Quanto ao searcher, permite a esses empreendedores assumirem uma empresa já existente, ao invés de começar do zero”, disse a professora.

O conceito de Search Funds, segundo a docente, é agnóstico. Ou seja, vislumbra qualquer setor e empresa de pequeno ou médio porte. O importante é que a empresa seja razoavelmente simples e saudável. Turn around não é alvo para esse tipo de fundo. No painel foi recomendado que os searchers adquiram o controle do negócio, pois se sentarão na cadeira do presidente. “Esse time vira CEO, toca a empresa por prazo indeterminado, cria governança, processo, eficiência e vende lá na frente a um valor superior”, disse a professora. “Esse modelo surgiu em Harvard e Stanford e, agora, tem ganhado força na Espanha, no Brasil e na América Latina de forma geral.”

O último painel do evento, “Scaling-Up Small Businesses”, com o professor Joe Haslam, diretor-executivo da Owners Scaleup Program na IE Business School, da Espanha, e Luis Oliane, CEO da APS, abordou a fase que o searcher administra a empresa como CEO, e como escala seu crescimento. Como é inevitável numa troca de gestão, o searcher enfrenta um choque de cultura. Na maior parte das vezes, as empresas adquiridas tinham uma administração de donos centralizadores e que não gostam de delegar. Muitas vezes, é necessário substituir o C-level e é importante contratar um time talentoso. Funcionários que já estavam na empresa precisarão ser motivados e se sentir confortáveis em tomar iniciativas que antes eram sufocadas num modelo muito centralizador.  Por isso, os resultados durante a gestão dos searchers pode demorar mais a acontecer do que, por exemplo, em aquisições de fundos de private equity.

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