De 2009 a 2018, estudantes de municípios que adotaram o horário de verão obtiveram notas menores nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em comparação com alunos de cidades próximas que não tiveram de adiantar em uma hora o relógio. Esse efeito desapareceu em 2019, quando não houve horário de verão no Brasil.
Os pesquisadores do Insper João Pedro de Andrade, Naercio Menezes Filho e Bruno Komatsu investigaram a possível relação entre a medida adotada para economizar energia em dias mais longos de verão e o desempenho de estudantes afetados por ela. A alteração do período de sono e de exposição à luz tem potencial de interferir nas rotinas metabólicas e, com isso, nas tarefas cognitivas.
Como a porção norte do país é excluída do horário de verão — o período diário de iluminação solar varia pouco ao longo do ano na faixa próxima ao equador, tornando menos eficaz nesses locais o objetivo de poupar energia com a medida —, a norma cria uma fronteira imaginária cruzando a região central do Brasil, a separar municípios com e sem a obrigação de adiantar o relógio em uma hora.
Os pesquisadores compararam o desempenho nas provas do Enem em municípios que ficam pouco ao norte dessa fronteira e, portanto, não tiveram de implantar o horário de verão, com cidades situadas pouco ao sul dela, obrigadas a adotá-lo. São localidades, logo acima e logo abaixo da linha imaginária, com características geográficas e sociodemográficas em média similares entre si, o que levaria a prever desempenho estudantil semelhante entre elas na ausência de interferência externa.
Sob o horário de verão, no entanto, os alunos dessa amostra de municípios tiraram notas menores que a média dos estudantes de localidades próximas não abrangidas pela medida. Esse efeito foi detectado em todos os dez anos avaliados no estudo e em todos os eixos temáticos testados no Enem (Linguagens, Matemática, Redação, Ciências da Natureza e Ciências Humanas).
As diferenças negativas globais chegaram a 67% de um desvio padrão, suficientes para privar alunos de cursar faculdades competitivas que utilizam a nota da prova do ensino médio como critério de acesso. A defasagem mostrou-se maior na prova de Redação.
Outro elemento que reforça a conclusão dos pesquisadores do Insper é o fato de a diferença de notas médias ter desaparecido no exame de 2019, quando, por decisão do governo federal, não houve horário de verão no território brasileiro.