Pedro Burgos, coordenador do curso de Jornalismo do Insper, fala sobre os benefícios da ciência na comunicação e sobre o Master em Jornalismo de Dados, Automação e Data Storytelling
Michele Loureiro
A comunicação digital tem passado por transformações profundas impulsionadas por avanços tecnológicos e inovações em ferramentas e narrativas. Para atender às novas habilidades requeridas pelos profissionais que atuam na área, o Insper criou o Master em Jornalismo de Dados, Automação e Data Storytelling. Formado por duas certificações independentes, de nove meses de duração cada, o Master tem como objetivo desenvolver competências em análises estatísticas, programação, uso ético de dados, processos de automação e narrativas digitais.
Ao longo do curso, os alunos têm a oportunidade de criar uma série de produtos digitais guiados por dados que servirão como portfólio para alavancar suas carreiras em empresas de mídia, empresas de tecnologia, consultorias estratégicas, organizações sociais e outros setores.
O corpo docente é composto por profissionais premiados, com vasta experiência acadêmica e que são referência no mercado. Pedro Burgos, coordenador do curso, é um deles. Mestre em Jornalismo Social pela City University of New York, ele se tornou professor do Insper em 2018 e, desde 2019, atua na coordenação do programa de jornalismo.
Por muitos anos, a carreira de Burgos teve tons de um “jornalista tradicional”, com passagens por rádio, jornal, revista e site, escrevendo especialmente sobre educação e tecnologia. “Minha história com dados e programação começou em 2015, quando estava fazendo meu mestrado em Nova York. Precisei programar para ajudar na solução de um problema e fiz alguns cursos lá mesmo. Continuei estudando e em 2017 dei o primeiro curso de Programação para Jornalistas”, lembra.
Desde então, Burgos utiliza a programação e recursos de inteligência artificial e análise de dados para atacar diversos problemas de jornalismo, desde a automação de processos — como relatórios de audiência — até a coleta de desinformação no WhatsApp e a produção de análises estatísticas no contexto da covid-19, por exemplo.
Para ele, o Insper está se fortalecendo na área de jornalismo de dados. “Além do próprio Master e cursos em educação executiva, sediamos o “Domingo de Dados” do congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e alguns encontros da R-Ladies, grupo de mulheres que disseminam conhecimento em programação”, diz.
Confira a seguir uma entrevista com o coordenador, que ajuda a compreender as novas habilidades requeridas pela comunicação digital e como o Insper pode colaborar nesse processo:
Quais são as habilidades essenciais para se tornar um bom jornalista nos dias de hoje?
As essenciais seguem essencialmente as mesmas e envolvem a capacidade de obter/organizar informações e repassá-las para o público de forma coerente, interessante, com ética. O que mudou — e rapidamente nos últimos anos — é que temos mais ferramentas para atingir esse objetivo, e muitas delas passam pelo uso de novas tecnologias e áreas do conhecimento que estavam fora do radar de jornalistas tradicionais, como economia, análise e visualização de dados, por exemplo.
Como o uso de dados e a automação impactam na carreira dos jornalistas?
É cada vez mais comum começar investigações jornalísticas usando dados estruturados — informações de bancos de dados do governo, por exemplo, ou arquivos de planilhas. Jornalistas que forem capazes de extrair informação relevante desses documentos sem depender de outras pessoas podem ter grande vantagem. Outra questão é que com o uso de dados estruturados também é possível automatizar a obtenção e a leitura de documentos e até a publicação de notícias, aumentando a eficiência do trabalho jornalístico. Algo como programar um robô que todo dia visita o site da Câmara dos Governos e posta no Twitter quando houver alguma mudança relevante em leis sobre determinado assunto seria um exemplo de automação.
Como a análise de dados pode ajudar em tempos de fake news?
De forma mais geral, o correto uso de dados pode dar mais sustentação a pautas que antes eram baseadas em opiniões, anedotas ou achismos. “Dados” não são infalíveis ou sempre objetivos. Mas, se bem utilizados, com o correto contexto, podem ajudar bastante a criar reportagens que serão mais confiáveis. Outro fator relevante é que a reportagem com dados pode incluir arquivos das fontes originais, possibilitando a quem consome a notícia que refaça os mesmos passos que a repórter tomou, chegando às mesmas conclusões. Esse seria um processo mais próximo do científico, portanto mais robusto.
Acredita que a maioria dos jornalistas estão habilitados para essas mudanças?
A verdade é que enorme parte dos jornalistas hoje já estão habituados a trabalhar com dados de alguma forma, seja no Excel, seja olhando gráficos de audiência no Google Analytics. Então, acho que se aprofundar nessas ferramentas relacionadas a dados está ao alcance de todo mundo. No Master em Jornalismo já tivemos até agora alunos de diversas gerações, e com alguma dedicação creio que é possível aprender até mesmo as ferramentas que pareciam mais distantes, como programação em Python.
Além disso, é mais fácil aprender essas habilidades hoje, com tutoriais no YouTube e sites de tira-dúvidas na internet, do que muitos anos atrás. As linguagens também estão ficando mais simples, apesar de mais poderosas.
Como o Master em Jornalismo de Dados, Automação e Data Storytelling do Insper pode ajudar nesse processo?
Profissionais formados em Ciências Humanas têm pouco contato com temas como programação ou estatística na graduação. Então, mesmo que queiram aprender essas matérias após sair da faculdade, não é tão simples entrar em um curso oferecido por professores exclusivamente de Exatas. No Master nós levamos isso em conta, e trazemos aplicações e exemplos sempre dentro do jornalismo, mostrando desde o início o valor daquelas novas habilidades para o cotidiano dos alunos. Também temos muitos professores com experiência na área, vencedores de prêmios em jornalismo de dados, que inspiram a todos com exemplos práticos.
Quais são os diferenciais do curso do Insper na área de jornalismo?
O fato de o Insper ser uma escola bastante multidisciplinar é algo vantajoso para jornalistas, dado que temos nos cursos sempre professores da Economia, Finanças ou Gestão Pública, áreas caras à profissão. Além disso, há uma tradição de pesquisa na escola de usar métodos quantitativos, e dar uma boa base de estatística e análise de dados é algo superimportante para jornalistas também. E temos a estrutura física da escola, que tem salas de aula bem equipadas, computadores e todo tipo de recursos à disposição dos alunos.