A professora Luciana Yeung indica a leitura de duas obras que mostram como a ciência econômica pode prever as consequências da tomada de decisão das pessoas sobre qualquer assunto
Economia, segundo a definição do dicionário Britannica, é “a ciência social que busca analisar e descrever a produção, a distribuição e o consumo de riqueza”. Uma de suas preocupações centrais é como alocar de maneira eficiente os recursos produtivos, que são limitados, para satisfazer a todas as necessidades da população, que são ilimitadas. Para isso, os economistas lidam com temas como inflação, desemprego, crescimento, câmbio, taxa de juros, déficit público e outros assuntos que parecem impenetráveis para os leigos.
Mas a economia está presente no dia a dia das pessoas e, mesmo que elas não percebam, suas vidas são impactadas pelos fenômenos econômicos. É o que mostram, de maneira não acadêmica, dois livros indicados pela professora Luciana Yeung: Economia sem Truques, de Carlos Eduardo Soares e Bernardo Guimarães, e Uncommon Sense – Economic Insights, from Marriage to Terrorism, de Gary S. Becker & Richard A. Posner.
No texto a seguir, a professora Luciana, que é doutora em Economia pela Fundação Getulio Vargas e coordenadora do Núcleo de Análise Econômica do Direito do Insper, explica por que recomenda a leitura dessas duas obras.
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Os dois livros indicados são distintos, mas também têm muitos pontos em comum. A diferença é que o primeiro foi escrito por dois jovens economistas brasileiros (Carlos Eduardo Soares e Bernardo Guimarães) e é voltado — primordialmente, mas não exclusivamente — para leitores igualmente jovens, alguns dos quais podem até não ter entrado na faculdade ainda. O segundo foi escrito por um economista ganhador de Prêmio Nobel em Economia (Gary S. Becker) e um juiz fundador da área de estudos conhecida como análise econômica do direito, ou law and economics (Richard A. Posner), sendo direcionado — principalmente, mas não somente — para leitores com certa formação escolar.
Em comum, autores blogueiros escrevendo para uma audiência ampla, de maneira a suscitar a curiosidade dos leitores. O conteúdo também apresenta similaridades: ambas as obras são compostas por diversos capítulos, cada um contando uma “estorinha” e cujo pano de fundo maior é: como a ciência econômica pode ser muito bem usada entender assuntos de qualquer natureza do mundo e, sobretudo, das sociedades humanas. Por que o banimento pelos Estados Unidos de produtos feitos por crianças no Bangladesh foi uma tragédia para aquelas mesmas crianças? O que os ensinamentos do filosofo chinês Confúcio, de 2.500 anos atrás, têm de econômico? Por que estipular cotas para a compra de leite por algumas famílias torna mais difícil a compra por outras? Esses e outros “enigmas” são explicados pelos autores brasileiros.
Já os professores americanos tratam de uma série de temas, de maneira igualmente surpreendente, fazendo emprego da teoria econômica mais pura: casamento gay e poligamia, plágio nas universidades, mandato de juízes, tsunamis e furacões, combate ao terrorismo e cultura nacional etc.
Hoje, até o ChatGPT já sabe que a economia, sobretudo a microeconomia, é a ciência que estuda a tomada de decisão das pessoas em situações de escassez (de dinheiro e de tempo). O que muitos ainda não entenderam é como esse estudo permite prever as consequências da tomada de decisão das pessoas sobre qualquer assunto.
Economia sem Truques, 4ª ed. Carlos Eduardo Soares e Bernardo Guimarães (2008), Ed. Campus.
Uncommon Sense – Economic Insights, from Marriage to Terrorism. Gary S. Becker & Richard A. Posner (2009), The University of Chicago Press.