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A oportunidade transgressora de conhecer a obra de Banksy

O grafiteiro que mantém sua identidade anônima não costuma autorizar eventos pagos em seu nome — um deles chegou, enfim, a São Paulo

O grafiteiro que mantém sua identidade anônima não costuma autorizar eventos pagos em seu nome — um deles chegou, enfim, a São Paulo

 

Leandro Steiw

 

Os guias de turismo em Bristol, na Inglaterra, contam que os viajantes costumam pedir para ver algum trabalho do grafiteiro Banksy nas andanças pela vizinhança da cidade onde se acredita que ele tenha nascido e começado a pintar muros e paredes. Não é fácil, porque são intervenções urbanas feitas sem aviso prévio, muitas alteradas por outros artistas e, não raras vezes, arrancadas das paredes para serem vendidas no mercado de arte — por milhares de libras esterlinas.

A exposição imersiva The Art of Banksy, em cartaz em São Paulo até o dia 30 de abril, é uma oportunidade de conhecer presencialmente as obras do grafiteiro mais famoso do mundo, aquele que ninguém sabe quem é. Ou quase ninguém. É notório que Banksy dispõe de uma rede de apoio de amigos que ajuda a planejar as intervenções e a desviar a atenção do público no momento da ação, além de providenciar a troca de informações com a mídia.

Para o seu biógrafo Will Ellsworth-Jones, Banksy é “o porta-estandarte de todo um novo movimento na arte, quer sejam os seus praticantes grafiteiros ‘puros’, quer sejam artistas do estêncil, tais quais o próprio Banksy, ou quer sejam até mesmo artistas que tecem em crochê suas obras de interferência urbana”. Mesmo quem não gosta reconhece a importância que a repercussão do trabalho dele trouxe para a arte que roda fora das galerias.

A primeira intervenção de peso de Banksy ocorreu em 2003, quando ele entrou na prestigiosa Tate Gallery, em Londres, e pendurou um quadro em uma das paredes vagas. Tratava-se de paisagem campestre pintada por outro artista na qual ele tinha imprimido, em estêncil, uma daquelas faixas amarelas usadas em cenas de crimes pela polícia. Imagens do feito correram pela internet incipiente da época e alimentaram a curiosidade sobre o trabalho de Banksy — que, nos meses seguintes, repetiu a estratégia em galerias de Londres, Paris e Nova York.

Passado o impacto inicial da ousadia, os museus levaram numa boa, a imprensa repercutiu e a mensagem antissistema de Banksy foi se consolidando. Na arte, propriamente. Como não se sabe para quem apontar os holofotes, os olhos da opinião pública precisam se voltar para os grafites.

Algumas dessas criações estão na mostra imersiva: as famosas Balloon Girl (menina com um balão vermelho em forma de coração) e Flower Thrower (mascarado arremessando um buquê de flores), além de Kate Moss, Gangsta Rat, Flying Copper, Monkey Queen, Bomb Hugger e Kissing Coppers.

O material de divulgação da exposição diz que chegaram a São Paulo cerca de 150 obras do artista, entre originais certificados, gravuras, fotos, litografias, esculturas, murais e instalações de video mapping. Outros trabalhos foram reproduzidos especialmente para a exposição. Os visitantes também podem assistir a um documentário em vídeo sobre a vida e a obra de Banksy.

 

Obra de Banksy
Balloon Girl, uma das criações presentes na mostra imersiva em São Paulo

Rosto caricatural

Na biografia não autorizada Banksy: Por Trás das Paredes, Ellsworth-Jones conta que o artista começou a pintar aos 14 anos em Bristol, em uma época na qual as autoridades britânicas estavam prendendo e multando os grafiteiros pelas acusações de praxe: vandalismo e depredação de patrimônio. Ou seja, a arte de rua estava florescendo, e Banksy (possivelmente nascido em 1974) foi influenciado por aquela forma de expressão popular.

Os relatos autorizados, citados pelo biógrafo, dão conta de que Banksy foi expulso da escola aos 9 anos por causar uma fratura no crânio de um colega, incidente pelo qual ele falou ter sido acusado injustamente. Acontecimento que justificaria a sua temática recorrente contra o poder e a autoridade. “De tudo o que ele diz, parece que estava infeliz na escola e foi só quando teve uma lata de aerossol na mão que descobriu sua voz”, escreve Ellsworth-Jones. Amigos daquela época, no entanto, garantem que ele demonstrava talento em artes.

Sobram especulações sobre a vida pregressa e posterior de Banksy. Para a lista de pessoas mais influentes do mundo em 2010, da revista americana Time, ele enviou uma foto com um saco de papel na cabeça e um rosto caricatural. Vestia um blusão de moleton e escondia as mãos. Podia ser ele. Mas podia não ser.

Curiosamente, embora preserve o anonimato, o artista é cercado por uma rede formal, a Pest Control Office, que autentica os trabalhos e distingue as falsificações. É esse grupo que protege a identidade e os direitos autorais de Banksy e autoriza eventos em seu nome. Quase nada é oficial ou autorizado — nem mesmo a mostra imersiva que chegou a São Paulo.

Para Banksy, direitos autorais são para perdedores. “Encorajo qualquer pessoa a pegar e alterar minha arte para seu próprio divertimento pessoal, mas não para fins lucrativos ou para parecer que endossei algo quando não o fiz”, estampa em seu site oficial na internet. Assim, conhecer a obra empurra o visitante para dentro de um redemoinho: vale a pena ver de perto, mas o criador não quer que se pague pela chance.

Para a revista Time, em 2010, o artista Shepard Fairey, criador do famoso pôster “Hope” de Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, resenhou Banksy: “Ele tem um dom: a habilidade de deixar qualquer um muito desconfortável”. Certeiro. Se a compra do ingresso mexer um pouquinho que seja com a sua comodidade, parece que Banksy triunfou outra vez.


SERVIÇO

Local:

Shopping Eldorado (Av. Rebouças, 3.970, Pinheiros, São Paulo).

Horários:

• Segunda a sábado, das 10h às 22h.

• Domingo, das 11h às 21h.

Preços:

• Segunda a quinta-feira: R$ 90 (inteira) e R$ 45 (meia).

• Sexta a domingo e feriados: R$ 130 (inteira) e R$ 65 (meia).

• VIP Experience: R$ 170 (atividade de realidade virtual, entrada sem filas e sem horário marcado).

 

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