O jornalismo de dados “alcança públicos que outros tipos de jornalismo não alcançam e interage com essas pessoas de formas que outros jornalismos não fazem […], dá voz aos sem voz e joga uma luz sobre informações que, de outra forma, permaneceriam obscurecidas […], reforça transparência e responsabilização em cima de dados”.
Quem escreveu a definição acima foi o consultor em jornalismo de dados e professor da Universidade da Cidade de Birmingham, Paul Bradshaw, na segunda edição do “Manual de Jornalismo de Dados”, que teve sua tradução para o português lançada em 2021.
A evolução do jornalismo, descrita pelo pesquisador, ocorre por meio do uso sistemático e profissional da análise de dados.
Este artigo vai demonstrar como esses dois campos do conhecimento podem ser trabalhados juntos, em prol da sociedade.
Análise de dados é a metodologia que coleta, filtra, examina e transforma todo tipo de dados em uma informação útil.
Ela pode ser aplicada em praticamente todos os setores, como por exemplo:
Através da análise de dados, é possível “coletar, limpar, organizar e transformar dados, assim como desenvolver visualização e apresentação dos resultados”, como aponta o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados.
E mais: “pode ser usada para responder a perguntas específicas, tomar decisões informadas e descobrir padrões e tendências ocultas nos dados”.
É possível aplicar o uso de dados no jornalismo de diversas maneiras, que vão desde a pesquisa por pautas até a apuração de informações sobre um tema já definido, passando pela obtenção de insights que, sozinhos, já sustentam uma notícia relevante, e chegando até a forma como os conteúdos são organizados e apresentados ao público final.
O jornalista, pesquisador e professor Pedro Burgos, do Insper, traz três exemplos práticos de como o jornalismo pode aplicar a análise de dados em sua rotina:
Na primeira edição do “Manual de Jornalismo de Dados”, livro que é referência na área, diversos jornalistas e pesquisadores importantes ao redor do mundo listaram razões pelas quais o uso de análise de dados no jornalismo pode ser importante.
A seguir, 12 questões, entre todas que foram apontadas:
As bases de dados usadas pelos jornalistas podem variar muito, dependendo do que está sendo apurado. Mas um princípio deve guiar todas elas para garantir sua confiabilidade: ir direto à fonte.
Se o jornalista quer dados eleitorais, por exemplo, deve usar como base de dados o que é divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Dados demográficos ou econômicos podem ser encontrados nas pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O órgão também traz dados atualizados sobre todos os municípios brasileiros, como tamanho de área e população.
Dados sobre criminalidade podem ser pesquisados, por exemplo, no Registro de Eventos de Defesa Social (Reds), que reúne os boletins de ocorrência policiais.
Quando os portais de órgãos públicos oficiais não são transparentes com seus dados, há ainda o recurso de acionar a Lei de Acesso à Informação, embora ela ainda seja muito descumprida no Brasil.
E não é só o setor público ou governo que disponibiliza dados abertos que podem ser usados como fontes. Como bem diz um documento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), de 2022, isso vale também para pesquisadores, empresas, universidades, ONGs, startups, instituições de caridade, grupos comunitários e indivíduos.
O Banco Mundial e a Organização das Nações Unidas têm dados confiáveis de todos os países, sobre diversos aspectos.
Bancos de dados também podem ser gerados por cidadãos, ou “colaborativos”, dependendo do que se quer levantar.
De acordo com a pesquisa The State of Data Journalism, divulgada em fevereiro de 2023, os dados oficiais governamentais (71%) são as principais fontes utilizadas pelos jornalistas de dados ouvidos em todo o mundo. Mas há muitas outras, como mostra o infográfico a seguir:
Seja qual for a base de dados, é essencial verificar qual é a fonte em que ela se baseia, para evitar distorções, descontextualização e desinformação.
O jornalismo deve se pautar sempre por seu Código de Ética, independentemente da forma como são usados os dados na produção das notícias.
Selecionamos os principais aspectos dessa premissa que respondem à pergunta deste tópico:
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