Durante a pandemia, a aluna Livia Brigido ajudou o grupo de Design em Contextos Sociais a coletar informações sobre a fome na comunidade de Paraisópolis
Leandro Steiw
O primeiro projeto de que a bolsista Livia Brigido do Nascimento participou no Insper ampliou a compreensão que ela tinha da comunidade de Paraisópolis, na capital paulista, onde sempre morou com a família. Aluna do 6º semestre de Engenharia Mecatrônica, Livia fez a disciplina eletiva Design em Contextos Sociais em 2021, cujo desafio é propor soluções efetivas para problemas estruturantes. O grupo de Livia aplicou o processo de design thinking em busca de propostas para amenizar a fome em Paraisópolis, agravada pela pandemia da covid-19.
Naquele ano, por causa do isolamento social, as aulas do curso de design thinking foram online. O imprevisto eliminou a convivência presencial, mas acabou permitindo a integração de estudantes do Insper aos de universidades públicas de outros estados e a jovens residentes em Paraisópolis, que participaram remotamente das aulas. “O curso já acontece há cinco anos, com o objetivo de estourar bolhas sociais”, explica a professora Juliana Mitkiewicz. “Em 2021, a fome foi uma questão muito grave decorrente da pandemia, e as lideranças comunitárias definiram que a pauta mais importante era segurança alimentar.”
A turma precisava cumprir todas as cinco etapas do projeto: empatizar, definir, realizar, prototipar e testar. No entanto, naquela ocasião, o curso não podia chegar ao local de estudo, movimento indispensável na primeira e na última fase. Livia teve um papel muito importante por conhecer o território. Ela conversou com as lideranças dos projetos sociais, gravou entrevistas, tirou fotos e repassou o material para os colegas, que puderam interpretar as informações com base nas próprias experiências individuais. “Sabemos que as pessoas passam fome, mas não conhecemos quais são de fato as dores delas”, diz Livia.
Um dos obstáculos que surgiram das entrevistas foi a falta de mapeamento das pessoas que precisam de ajuda e que têm direito aos auxílios. Elas se tornam invisíveis para o governo e os projetos sociais porque não têm RG, CPF ou qualquer forma de identificação para acessar os serviços públicos. Muitas vivem em situação de rua e tiveram os documentos extraviados ou roubados e não sabem como recuperá-los. Invisibilidade, registro civil e cidadania eram assuntos tão atuais que, coincidentemente, foram tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) poucos meses depois.
Entendendo como a comunidade funciona e aproveitando muito da vivência de Livia em Paraisópolis, o grupo foi atrás das informações do sistema de atendimento de saúde, que tem um mapeamento próprio e bem completo. “Esse foi grande xeque-mate para nós”, afirma Livia. “As assistentes sociais dividem o território e ficam responsáveis por ir à casa das pessoas, identificar o que elas estão passando e verificar as pendências de saúde. A ideia foi aproveitar esse mapeamento que já existia e chegar até os moradores que precisavam de auxílio.”
O isolamento social estava perto do final, mas as restrições sanitárias ainda eram delicadas na época da aplicação do projeto. “Como eu morava em Paraisópolis, pudemos estar de fato na comunidade e descobrir coisas que nem eu mesma sabia”, diz a aluna. Para aqueles que participaram do curso a distância (Livia faz questão de citar os colegas Aline Zimerman, Carla Fidelis, Frederico Sequerra, Luis Augusto Menezes, Luiza Paiva e Mariana Gauer), as situações narradas nas entrevistas presenciais com a comunidade ajudaram a abrir os olhos para aspectos relevantes da fome e da insegurança alimentar nos demais centros urbanos.
A professora Juliana observa que os bolsistas do Insper são muito engajados nas pautas sociais, porque costumam se interessar em atuar na realidade de onde vêm e tratar dos problemas reais da sociedade causados pela desigualdade. “E a invisibilidade não era exatamente um problema que a Livia conhecia, já que na casa dela todos sempre tiveram documentos”, afirma.
Livia conta que, um ano antes, a pandemia também dificultou as escolhas dela para o vestibular. Tradicionalmente, os estudantes do 3º ano do ensino médio visitam as universidades e tiram dúvidas sobre cursos e profissões. “Com o isolamento da pandemia, não tivemos essas caravanas em 2020”, diz. “As informações vinham de quem já estava nas faculdades. Eu decidi alguns meses antes de terminar o 3º ano. Achei legal o Insper possibilitar ao aluno entrar num ciclo básico de Engenharia e, depois, optar por Computação, Mecânica ou Mecatrônica. Eu havia escolhido Mecatrônica e não troquei.”
As condições bem definidas do acesso ao bolsa de estudo foram essenciais para dar segurança na decisão, de acordo com Livia. “Eu sabia que teria uma excelente estrutura na faculdade e vi que o Insper dava ênfase ao Programa de Bolsas, um dos auxílios que eu poderia ter durante a graduação, entre outras oportunidades que surgem no caminho”, recorda a aluna. Vida afora, os programas de bolsas permitiram a Livia fazer um ensino médio de qualidade, estudar inglês e participar de eventos no exterior. “Além de ser muito grata em receber o apoio dessas bolsas, eu tenho o sentimento de querer retribuir no futuro”, diz.