[{"jcr:title":"As novas regras do networking"},{"targetId":"id-share-1","text":"Confira mais em:","tooltipText":"Link copiado com sucesso."},{"jcr:title":"As novas regras do networking","jcr:description":"A geração Z faz contatos profissionais de forma bem diferente das anteriores. Seus integrantes buscam mais pares do que superiores, são mais casuais, mais transparentes — e se conectam muito mais rápido"},{"subtitle":"A geração Z faz contatos profissionais de forma bem diferente das anteriores. Seus integrantes buscam mais pares do que superiores, são mais casuais, mais transparentes — e se conectam muito mais rápido","author":"Ernesto Yoshida","title":"As novas regras do networking","content":"A geração Z faz contatos profissionais de forma bem diferente das anteriores. Seus integrantes buscam mais pares do que superiores, são mais casuais, mais transparentes — e se conectam muito mais rápido   David A. Cohen   Networking — a arte de estabelecer e manter relações de trabalho — é um mantra da vida profissional há décadas. Mas está sofrendo uma grande reviravolta. Com a chegada ao mercado de trabalho da geração Z, das pessoas nascidas perto da virada do milênio, a prática está se tornando mais casual, mais horizontal, mais global, mais frequente, mais digital, mais transparente e mais autêntica do que nunca. Talvez essas mudanças todas sejam apenas reflexo de um fenômeno mais abrangente. “Acho que os jovens de hoje enxergam a vida de forma diferente”, diz a psicóloga e consultora Maria Aparecida Rhein Schirato, professora de comportamento e gestão no Insper. “Não é só o networking. Eles têm uma sincera preocupação com o planeta, demonstram muito mais consciência social, têm menos apego a símbolos de status.” Além disso, cresceram com outras tecnologias: suas relações pessoais são construídas tanto nos encontros pessoais quanto nas interações digitais. Quando chegam ao trabalho, essas diferenças acarretam uma forma bastante diferente de construir conexões. A começar pela quantidade. “A geração Z é a que mais faz network, criando o maior número de conexões a cada mês”, afirmou Suzi Owens, diretora sênior de comunicação corporativa no LinkedIn, a AJ Eckstein, um palestrante e consultor de carreiras com foco na geração Z, em texto publicado na revista Fast Company. De acordo com os números do LinkedIn, a cada mês as gerações mais jovens dos Estados Unidos aumentam sua rede de conhecidos a uma taxa 28,7% acima do que os da geração Y (também conhecida como millennials, os nascidos entre as décadas de 1980 e 2000), 54,7% acima da geração X (que nasceram de meados dos anos 1960 até 1979) e 143% acima dos baby boomers (os nascidos nas duas décadas após a Segunda Guerra Mundial). Essa diferença quantitativa, provavelmente semelhante no mundo inteiro, vem junto com importantes mudanças qualitativas. “As relações da geração Z são mais diversificadas e mais orientadas para a comunidade do que nas gerações passadas”, afirma Owens. Segundo ela, os jovens fazem investigações pela internet para encontrar, pesquisar e se conectar com pessoas de origens e caminhos similares aos seus. Criam relações entre pares, muito mais do que relações com hierarquia clara. Maria Aparecida, do Insper, tem uma teoria que ajuda a explicar isso. “Essa nova geração tem uma fragilidade maior que a de gerações passadas. Eles cresceram com uma ausência maior de estrutura familiar, de aconchego. A família sofre com crises financeira e de identidade, e boa parte da criação desses jovens é feita pela escola, pelos amigos”, diz ela. “Talvez por isso o networking tenha se voltado para a busca de iguais: eles querem fortalecimento de suas posições.” Para a psicóloga, a nova geração é muito mais veloz e tem muito mais informação do que as anteriores. “A velocidade faz com que se engajem em mais movimentos. Não sei se na mesma profundidade que seus antecessores, mas em muito maior quantidade.”   Rodolex, dispositivo usado para guardar contatos: símbolo de uma época Nos tempos do Rolodex Para entender o quão radical é essa mudança no networking, é preciso voltar aos primórdios da prática. Embora as relações sociais sempre tenham ajudado a conquistar posições e trabalhos, foi em meados do século passado que o networking se tornou uma prática organizada, com regras suficientemente estabelecidas para quem quisesse ter sucesso na carreira. Seu símbolo, naquela época, era o Rolodex, inventado em 1956 pelo engenheiro dinamarquês Hildaur Neilsen, que trabalhava numa fabricante de artigos de papelaria nos Estados Unidos. Uma espécie de fichário circular, o Rolodex ganhou seu nome da junção dos termos “rolar” e “index”. Era usado especialmente para guardar os cartões dos contatos profissionais. Ter um Rolodex cheio era sinal de status. Tratava-se de “colecionar” nomes e títulos de pessoas que pudessem oferecer uma posição, uma oportunidade, acesso a capital… enfim, que servissem como pontos de apoio na luta pela ascensão profissional. Nas décadas seguintes, com o desenvolvimento do campo de aconselhamento de carreira (que desembocaria nos atuais coaches), o networking se tornou uma atividade-padrão. Ela envolve: ⇒ Descobrir pessoas que possam ser interessantes para o seu círculo profissional e pesquisar sobre elas. Isso inclui, hoje em dia, dar likes e compartilhar alguns de seus posts nas redes sociais, fazer alguns comentários, dar sugestões. ⇒ Conseguir uma introdução, de algum conhecido em comum. ⇒ Preparar perguntas ou comentários para fazer ao seu alvo uma vez que vocês se encontrem (pessoal ou digitalmente). ⇒ Pedir algum conselho, de modo sutil, e uma vez recebido, segui-lo ao menos em parte; e depois agradecer pela ajuda. ⇒ Pedir algo. O pedido deve ser bem calibrado, normalmente algo simples como um conselho ou uma pesquisa que a pessoa tenha mencionado. Isso cria uma dinâmica na relação. ⇒ Acompanhar os movimentos profissionais das suas relações. ⇒ Oferecer para manter a pessoa que lhe interessa informada sobre os seus movimentos. ⇒ Oferecer ajuda em desafios específicos que você saiba que a pessoa está enfrentando. E, principalmente, isso tudo deve ser feito com regularidade, e com diversas pessoas-chave ao mesmo tempo. Se tudo isso parece pouco natural, é porque é — assim como qualquer atividade que se torne padronizada, objeto de regras e manuais. No caso de relações entre pessoas, porém, o próprio receituário pode se tornar contraproducente: ao segui-lo à risca, você pode passar a impressão de que seus contatos são fruto de puro interesse. Essa natureza transacional do networking é rejeitada por um grande número de pessoas da geração Z. “O networking profissional da geração Z segue as mesmas regras do networking social”, afirma um recente artigo do site Future Pary, de notícias e análises de tendências em culturas e negócios. “É uma mistura de engajamento informal em posts e criação de conteúdo, em especial nas mídias digitais.” “Networking me intimidava, até que passei a encarar a atividade como ‘fazer amigos’ em vez do sentido tradicional, que me fazia sentir como se estivesse usando pessoas como pedras de apoio numa escalada”, afirmou Arin Goldsmith, especialista em marketing na Blizzard Entertainment, uma produtora de videogames, no artigo da Fast Company. Amizade não é a dinâmica tradicional do networking. Nas gerações anteriores, ele era normalmente feito entre uma pessoa mais velha, mais bem colocada no universo dos negócios, e alguém menos experiente. Não apenas porque o profissional sênior estaria em condições de oferecer um emprego, também porque podia funcionar como mentor. Aparentemente, esses papéis estão em baixa. Não é que tenham deixado de existir, mas foram engolfados pela enorme quantidade de conexões entre gente do mesmo patamar profissional. “Aprendi muito sobre o que quero para o meu futuro profissional nos contatos com pessoas mais experientes que eu”, disse Alex York, uma repórter especializada em cultura, negócios e estilo de vida, também no artigo da Fast Company . “Mas também construí um sistema de apoio bastante forte, de gente mais próxima da minha idade, enquanto tentamos navegar o mundo do trabalho juntos.” “É uma geração muito mais desconfiada das empresas”, constata Maria Aparecida, do Insper. “Essa meninada viu o pai ou a mãe sendo demitidos… ou demitindo.” Também viu inúmeros casos de startups que deram certo. “São experiências que podem ter resolução de carreira rápida”, diz Maria Aparecida. Num mundo que preza cada vez mais a ruptura, novas soluções, em que muitas empresas não conseguem manter-se atraente para os jovens por muito tempo, eles buscam projetos. E uma turma que os entenda e trabalhe com eles. “É uma turma que aprendeu desde cedo a resolver seus problemas pelos grupos de Whatsapp, pelo Google, em grupo ” , lembra a psic óloga.   Amigos, amigos, negócios fazem parte Quando frisam que não querem desenvolver uma persona profissional diferente da pessoal, a geração Z também está dizendo que prefere agir com autenticidade, sendo bem mais aberta em relação a seus valores. É provavelmente uma decisão pragmática. Uma geração tão exposta nas mídias sociais teria mesmo muita dificuldade de manter uma faceta profissional muito diferente da pessoal. Mas o networking contaminado pela vida pessoal traz outra importante diferença. Ele é menos competitivo e mais guiado pela exploração de caminhos e pela curiosidade. Há um interesse mais genuíno no que os outros estão fazendo — até porque são projetos em geral mais próximos de seus mundos. Uma outra consequência de misturar relações profissionais e pessoais é que o networking passa a ser muito mais constante. Entre os conselhos do networking tradicional costuma estar sempre o de dedicar uma parte do seu horário para fazer um esforço consciente de encontrar pessoas que possam ser úteis para a sua carreira. É uma tarefa. Agora, trata-se do mesmo movimento de inteirar-se do que está acontecendo, conhecer pessoas interessantes, mergulhar em projetos. Se um novo contato profissional não for ao mesmo tempo um bom contato pessoal, a probabilidade de que a relação evolua é baixa. “Se a gente não se conectar, é porque não era para acontecer”, afirma Caitlyn Kumi, uma gerente de marketing de produto no Google e fundadora da Miss EmpowHer, uma organização de apoio a mulheres no trabalho. Nessa busca de novos contatos, as barreiras geográficas praticamente não existem. Como o networking se confunde com “fazer amigos”, qualquer ambiente é propício — uma cafeteria, um vagão do metrô… e também do outro lado do mundo. “O networking agora não tem mais fronteiras nem fusos horários”, afirma o artigo do site Future Party, “graças à disseminação de plataformas globais de mídia social e à comunicação digital.” Isso vem desde cedo. Nos jogos de videogame, crianças interagem com pessoas de vários países. Se todas essas mudanças vão efetivamente transformar o mundo do trabalho, é uma questão que só saberemos nos próximos anos… e décadas. A essa altura, estará entrando no mercado uma outra geração, com outras características. Que provavelmente terá de fazer networking também com robôs."}]