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A trajetória de um economista polivalente

O economista André Luiz Marques, diretor administrativo e financeiro do Insper, compartilha sua trajetória de atuação no setor público e privado e na formação de líderes para o país

O carioca André Luiz Marques, diretor administrativo e financeiro do Insper, fala sobre sua atuação no setor público e privado e na formação de líderes no período em que esteve à frente do CGPP

 

Michele Loureiro

 

Pai de três Marias e “torcedor aliviado” do Vasco (que escapou por pouco de cair para a série B do Campeonato Brasileiro de futebol), o economista André Luiz Marques era até recentemente o coordenador do Centro de Gestão e Políticas Públicas (CGPP), que comandou por quase seis anos. Entre agosto e dezembro acumulou dois cargos, já que foi promovido a diretor administrativo e financeiro do Insper. Filho de pai bancário e mãe dona de casa, o carioca nunca foi muito fã de praia e passou sua vida entre idas e vindas no eixo Rio-São Paulo por causa de seus trabalhos.

Antes de construir uma carreira com passagens pelas três esferas — privada, pública e no terceiro setor —, Marques teve uma infância tranquila no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, ao lado dos pais e do irmão mais novo. Passava a maior parte de seu tempo livre assistindo a jogos de futebol no Maracanã ou no São Januário e gostava de viajar com a família nas férias, passando horas pescando com o pai e o irmão. “Acho que a pescaria me ajudou a aprender sobre resiliência. Entre um bagre e outro eram horas de espera, mas eu tinha metas e ficava até cumpri-las”, diz.

O sagitariano (nascido em 19 de dezembro) estudou durante a infância a dois quarteirões de casa, no extinto Colégio Princesa Isabel, e em 1990 escolheu cursar Economia por uma questão conjuntural. “O momento econômico que o país vivia, com inflação alta e instabilidade, me atraiu para o curso”, lembra. Fez a graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e conta com orgulho que foi um dos poucos a terminar o curso no período normal de quatro anos. Ainda na faculdade, conseguiu seu primeiro estágio. Foi trabalhar no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e mergulhou pela primeira vez na máquina pública. Ficou ali por cerca de seis meses, até perceber que não teria perspectiva de crescimento, uma vez que não era concursado. “Quando eu era jovem, brincava que jamais trabalharia no setor público como concursado e que nunca moraria em São Paulo. Pois bem, não foi bem assim que aconteceu.”

Marques, que tem ótima memória, inclusive com datas, lembra de quando foi chamado para estagiar na construtora Gafisa, em 1993. Por lá, era responsável por fazer estudos de novos projetos e cuidar da parte de viabilidade econômica, tópico especialmente importante em época de inflação alta. Saiu da empresa três anos depois, em 1996, como analista e decidiu se dedicar ao mestrado no Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Coppead. “No segundo ano do curso, voltei a fazer alguns trabalhos pontuais para a Gafisa. Me orgulho de sempre ter cultivado boas relações por onde passei”, diz.

 

Nova fase, novas paixões

Ao fim do mestrado, participou de um processo seletivo para trabalhar na fabricante de bebidas Brahma, que ainda não havia se fundido com a Antarctica para dar origem à atual Ambev. “Foi no final de 1997. Me lembro perfeitamente, pois nessa época conheci Camile, minha esposa, em uma viagem que fiz para Brasília. Eu, turista carioca, ela vinda de Fortaleza para visitar uma prima”, conta.

Depois disso, todas as datas enciclopédicas de Marques passam por histórias com Camile. Inclusive a aprovação no processo seletivo para trabalhar na Brahma — recebeu a notícia enquanto visitava a então namorada em Fortaleza. Depois de seis meses de treinamentos, Marques foi incumbido de tocar a unidade da empresa em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. “Isso foi em 1998. Saí da casa dos meus pais e, no dia da Final da Copa do Mundo daquele ano, eu e Camile fomos morar juntos”, lembra.

No interior paulista, Marques comandava áreas como RH, distribuição e finanças da Brahma. Conta que não podia frequentar a cervejaria Pinguim, um ícone de Ribeirão Preto. Afinal, era uma empresa concorrente. Em 2000, foi convocado para trabalhar em São Paulo e quebrou mais uma de suas promessas dos tempos de jovem para conduzir a área financeira do maior centro de distribuição da Ambev na época, na capital paulista.

A mudança veio junto com o nascimento de suas primeiras filhas: as gêmeas Maria Antônia e Maria Fernanda, nascidas em 27 de fevereiro, dois dias depois do aniversário de Camile. “Foi aí que minha relação com São Paulo começou a se estreitar. Minhas filhas nasceram nesta cidade e devo muito a este lugar”, afirma. Em 2004, teve a terceira filha: Maria Eduarda, que completou sua constelação de Marias.

Marques trabalhou por nove anos na Ambev, até decidir que era hora de empreender. Juntou as economias e, ao lado de alguns amigos, resolveu investir no segmento de energia fotovoltaica. Poucos meses depois, quando o negócio ainda dava os primeiros passos, recebeu contato de um amigo da época de Brahma dizendo que Eduardo Paes havia sido eleito a prefeito no Rio de Janeiro e estava formando sua equipe. “Decidi que deveria apostar mais na minha empresa e não aceitei de cara.” Em março de 2008, porém, recebeu uma nova ligação e percebeu que poderia ser uma boa oportunidade — ainda mais porque a face de empreendedor ainda não tinha rendido os frutos esperados.

Com o apoio de Camile, como gosta de frisar, mudou-se novamente para o Rio de Janeiro. Dessa vez para a Barra da Tijuca, onde as Marias ficariam mais confortáveis apesar das horas que ele gastaria no trânsito até a prefeitura. “Fui pensando em ver como seria a experiência e acabei gostando muito. Aprendi que no setor público não se junta dinheiro, mas o senso de transformação e realização é gigante”, diz.

Em seus oito anos na prefeitura do Rio de Janeiro, nos dois mandatos de Eduardo Paes e em uma pequena parte da gestão de Marcelo Crivella, Marques passou por três áreas. Trabalhou com temas diversos, de lixo a cemitérios, passando por transportes, limpeza urbana e concessões como as do Parque Olímpico, veículo leve sobre trilhos (VLT), revitalização do Porto e de saneamento para a Zona Oeste, que só tinha 3% de esgoto tratado, entre outros.

A primeira experiência foi na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb). “Na Ambev, eu trabalhava na distribuição. A fábrica produzia e a gente organizava a logística em bares e restaurantes. Na Comlurb, era o inverso. O desafio era organizar o lixo de cada casa até a destinação correta”, lembra.

Em uma segunda fase, Marques foi trabalhar na área de novos projetos e se tornou responsável pelas PPPs, as parcerias público privadas. Cuidava desde a coordenação dos estudos até o lançamento de editais. “Hoje eu passo pelo Rio de Janeiro e vejo muitas coisas que, de alguma maneira, têm minha digital e a do time.”

Em 2015, Marques, que até então tinha cargos comissionados, passou em um concurso. Nessa época, atuou na área de planejamento estratégico e controle de metas. “Eu era responsável pela gestão das metas de todas as Secretarias. Essa experiência me deu uma visão transversal do setor público. Tive que navegar nas áreas para entender as necessidades e criar os objetivos. Além disso, precisava atuar de forma vertical, pois havia projetos com o Estado e a União”, diz.

 

A mudança para o Insper

Após o final do segundo mandato de Eduardo Paes, já em 2017, Marques seguiu por poucos meses no novo governo, outra vez na área de PPPs. Embora fosse concursado e estivesse garantido no cargo, optou por deixar o Rio de Janeiro quando recebeu a proposta do Insper para ajudar na criação da área de políticas públicas.

Marques diz que foi gratificante completar a trinca composta pelos setores privado e público e, agora, uma instituição sem fins lucrativos. “É bom olhar para trás e ver que tomei a decisão certa. Desde então, crescemos de forma exponencial no Insper. Em 2023, formamos 1.700 alunos em diversos cursos de Políticas Públicas. São pessoas que serão fundamentais na transformação do país”, afirma.

Em agosto deste ano, Marques foi convidado a assumir o cargo de diretor administrativo e financeiro do Insper. “Acabamos de fechar o nome de quem me substituirá no CGPP e por isso fiquei um período nas duas funções”, conta. Ele destaca a parceria com a Fundação Brava no período em que esteve à frente do CGPP. “Sou grato à fundação. Graças às suas doações, conseguimos alavancar o fundo de bolsas da área. Nosso objetivo sempre foi fazer com que as pessoas boas, que tenham o interesse em se capacitar, estejam no Insper, independentemente da classe social.”

Marques se orgulha em falar do perfil diversificado de alunos do Insper. “Já recebemos estudantes com poucas condições financeiras, pessoas em início de carreira, ministros, deputados, governadores, gente de todos os segmentos, de todas as cores, de todos os lugares”, diz. “Esse período no CGPP foi bem impactante, pela missão de melhorar o país e atuar em uma área que tem alinhamento total com a missão do Insper.”

 

André Luiz Marques e família
André Luiz Marques com a esposa, Camile, e as três filhas

NOS INTERVALOS

Conheça um pouco mais sobre as atividades de André Luiz Marques fora da sala de aula

 

As três Marias

Boa parte dass decisões de carreira de André Luiz Marques depois de seu casamento foi guiada pelo bem-estar da família. Com a chegada das filhas gêmeas e da caçula, ele e a esposa Camile cuidaram para que as meninas não sentissem muito as mudanças de cidade. Na última vinda a São Paulo, quando aceitou o convite do Insper, Marques ficou alguns meses na ponte área Rio-São Paulo antes do desembarque da família.

“Foi a primeira vez que a gente teve tempo de pesquisar com calma um local para ficar. Pela primeira vez moro relativamente perto do trabalho. Mas, para isso, visitei mais de 50 apartamentos antes de fechar. Como sou metódico, deixei tudo registrado sobre cada imóvel para que elas pudessem decidir comigo”, conta. Marques catalogou os imóveis em categorias como metragem, valor e número de quartos e se orgulha do que fez para agradar às filhas e à esposa.

Com 23 anos, as gêmeas já começam a seguir seus próprios caminhos. Uma se formou em Design e a outra está cursando Medicina. E, para a alegria do pai, a caçula Maria Eduarda está fazendo Direito no Insper. “Eu amo tê-las por perto”, diz.

 

Paixão por viagens

O gosto por conhecer novos lugares vem não só do tempo em que viajava com seus pais, mas também nas feitas com seus amigos. A satisfação de estar cercado pela família fez com que as viagens virassem uma tradição. O destino preferido dos cinco: os parques da Disney em Orlando, nos Estados Unidos. “Fomos quatro vezes, sempre na época do Natal. São lembranças maravilhosas”, diz.

O parque favorito da família é o Epcot. “Quando fomos pela última vez, ainda havia horário de verão no Brasil. Então, lembro de celebrarmos três vezes o Ano-Novo: com horário do Rio de Janeiro, de Fortaleza e de Orlando. Era um parque lotado, mas vivemos bons perrengues”, lembra.

Aventureiro, Marques vai a todos os brinquedos mais radicais com as filhas. “Faço roteiros detalhados para aproveitarmos bem a viagem. É claro que sempre ocorrem imprevistos, mas deixamos tudo mapeado e planejamos até o que pode dar errado”, brinca.

 

O cozinheiro do Natal

Marques sente dificuldade de contar o que gosta de fazer em seu tempo livre. “Esse é um ponto de reflexão, na verdade. Sinto que sempre tive cargas muito altas de trabalho e nunca sobrou muito tempo, pois cuidar de três filhas sem quase nenhuma rede de apoio não é fácil. Sou muito grato a minha esposa, que cuida das meninas com muito amor.”

Mesmo sem ser muito consciente, talvez a culinária seja um hobby de Marques. “Lá em casa quem prepara a ceia de Natal sou eu. Isso é tradição. Entro às 8h na cozinha e faço vários pratos. É um dia muito gostoso”, diz.

 

Inspiração para momentos de caos

Marques diz não ter um ídolo, mas cita uma pessoa que o inspira: Mahatma Gandhi. “A trajetória dele é muito bonita. Ele enfrentou uma batalha contra um domínio imperialista sem usar a força. É uma lição de vida. Em um mundo com imposições e polarizações, precisamos de serenidade e cabeça no lugar. Ele é um exemplo de como podemos batalhar sem precisar levantar uma arma ou disparar um tiro”, finaliza.

 

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