A aluna de Administração Marianne Ribeiro Cruz atuou sob orientação do professor Edvalter Holz para elaborar um modelo com o objetivo de apoiar pesquisa e prática em gestão de recursos humanos
Tiago Cordeiro
A estudante Marianne Ribeiro Cruz já havia participado de uma série de atividades extracurriculares ao longo da graduação em Administração no Insper. É aluna bolsista premiada e foi pesquisadora assistente do Metricis, o Núcleo para Medição de Impacto Socioambiental. É ainda cofundadora da startup OnFinance Academy, dedicada a ações de educação financeira, e em 2022 participou de um programa de aceleração para negócios de impacto na América Latina na Universidade de St. Gallen, na Suíça.
Faltava um projeto de iniciação científica. “Eu já estava no 6º semestre, não era recomendável me envolver com pesquisa no último ano da minha formação. Então desisti”, lembra. A iniciativa tomaria dois semestres, e na reta final da formação. Seria difícil conciliar as atividades e a passagem para o mercado de trabalho.
Seis meses depois, no final de 2022, a estudante soube que havia acontecido uma desistência. Ela então resolveu assumir o desafio — e na metade do tempo. “Conversei com o professor Edvalter, que propôs o tema”, diz. Teve início assim o projeto “Força de trabalho digital: um modelo para pesquisa e prática em gestão de recursos humanos”.
Doutor em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas (EAESP/FGV), com extensão na École Des Hautes Études Commerciales (HEC Montréal), professor da trilha de Liderança e Gestão de Pessoas do Insper em programas de Graduação, Pós-graduação stricto sensu e Educação Executiva, Edvalter Becker Holz desenvolve pesquisas e projetos aplicados com foco em pessoas, organizações e tecnologias.
Ele conhecia Marianne da sala de aula. “Ela é uma aluna excepcional”, elogia. “E o fato de já nos conhecermos facilitou a comunicação e o alinhamento.” A admiração é mútua: “Tive a sorte e a honra de trabalhar com um orientador excepcional”, ela declara. O projeto foi submetido no final de dezembro de 2022 e os trabalhos tiveram início logo nos primeiros dias do ano, com previsão de que fossem concluídos ao final do primeiro semestre.
O projeto partiu do pressuposto de que a ascensão da força de trabalho digital, um fenômeno acelerado nos últimos anos, ainda não é debatida em profundidade na área de gestão estratégica de recursos humanos.
“Até o momento, uma suposição influente fundamenta e impulsiona a maioria das pesquisas que constituem o debate sobre força de trabalho digital: o uso de tecnologias digitais por indivíduos em suas atividades e interações cotidianas e não relacionadas ao trabalho está mudando, por si só, as características da força de trabalho”, aponta o relatório do estudo.
“Esses estudos têm gerado importantes insights teóricos e práticos. No entanto, eles negligenciam a força de trabalho digital como um tema da gestão estratégica de recursos humanos”. Falta, em outras palavras, fornecer uma visão da força de trabalho digital a partir das perspectivas contemporâneas de Gestão Estratégica de Recursos Humanos (GERH).
A fim de apontar caminhos para novas pesquisas que estabeleçam essa conexão, a aluna realizou uma busca sistemática de artigos científicos, que a levou a identificar 95 diferentes trabalhos. Eles foram estudados com base em princípios e técnicas da teoria fundamentada adaptada para análise indutiva de literatura.
O trabalho chegou à definição de um modelo conceitual da força de trabalho digital, constituído das seguintes categorias: implementação de novas tecnologias pelas organizações; revolução industrial 4.0; covid-19; plataformas; regulamentação; novos arranjos de trabalho; novas experiências no ambiente de trabalho; impactos nas organizações; impactos no RH; impactos individuais; e impactos na sociedade.
“Ao discutir este modelo”, conclui o relatório, “argumentamos que ele representa um avanço no debate sobre força de trabalho digital de duas formas: seu nível de análise é sistêmico; ele fornece uma explicação processual”.
Para chegar aos 95 artigos, foi preciso passar por mais de mil. Essa etapa tomou três meses de esforço. “Foi um projeto desenvolvido em modo turbo. Eu chegava do meu emprego e seguia na pesquisa, todos os dias, até 2h da manhã”, lembra Marianne. “Filtrei palavras selecionadas, lancei numa planilha e fui categorizando e analisando. O resultado foi um framework detalhado, organizado em 14 aspectos e características da nova força de trabalho.”
A estudante não pretende seguir carreira acadêmica, em princípio. Ainda assim, recomenda aos alunos que procurem desenvolver seus próprios projetos de iniciação científica. “As trocas com o professor, o networking dentro da faculdade, a abertura de novos horizontes teóricos, tudo isso contribui para que a iniciação científica tenha muito valor para a formação que recebi na graduação”, afirma.
O professor Holz concorda. “Muitas competências desenvolvidas ao longo do trabalho em um projeto de iniciação científica podem ser transpostas para a vida profissional, em especial a capacidade de analisar dados, estabelecer relações sistêmicas e comunicar adequadamente um conjunto de argumentos. São habilidades valiosas também no mercado de trabalho.”
Em sua avaliação, o projeto alcançou um resultado além das expectativas. “A proposta era fazer uma boa revisão da literatura sobre tema. Mas a aluna entregou um modelo conceitual bastante detalhado e rigoroso.”