Centro de Gestão e Políticas Públicas criou Mapa de Gestão de Lideranças e busca auxiliar setor público com boas práticas

 

Michele Loureiro

 

O Brasil tem milhares de cargos comissionados à disposição das três esferas do poder público. Com base em práticas internacionais, o Insper, em colaboração com a Vamos (parceria que reúne a Fundação Lemann, o Instituto humanize e a República.org), desenvolveu o Mapa de Gestão de Lideranças, ligado ao Centro de Gestão e Políticas Públicas. Com o apoio e a colaboração de diversas organizações e especialistas da academia, do setor público e do terceiro setor, o Mapa tem o objetivo dar suporte aos governos, de forma gratuita, no fortalecimento dos seus quadros de lideranças.

Gustavo Tavares, professor do Insper na área de Gestão de Pessoas e Liderança, explica que em países como Reino Unido, Canadá e Chile há processos seletivos para o preenchimento desses cargos, que por aqui ainda são indicações estritamente políticas. A ideia é apresentar as melhores práticas e auxiliar o governo brasileiro na seleção de dirigentes públicos. “A iniciativa visa garantir que as pessoas mais qualificadas ocupem as posições. Também estão na pauta a gestão de desempenho desses profissionais, para que as metas sejam claras e acordadas, e as práticas de desenvolvimento, que buscam aprimorar as competências das lideranças atuais, bem como ações para garantir que haja diversidade entre os ocupantes dos cargos”, diz Tavares.

Segundo o professor, o Mapa é uma ferramenta de diagnóstico que vai permitir aos governos compreenderem as melhorias que podem ser implementadas em relação às práticas de gestão. “O diagnóstico será feito pelo preenchimento de um formulário e do envio de evidências”, explica. Justamente para auxiliar os governos a fornecerem os dados necessários, o Insper realizou o curso Gestão Estratégica de Pessoas e Sistema de Alta Direção Pública, em parceria com o Observatório de Liderança da Gestão Pública. Durante três dias, no final de outubro, 39 participantes de secretarias estaduais do país participaram de uma imersão.

O curso recebeu representantes dos estados que manifestaram interesse em participar do mapeamento. “Nós oferecemos, gratuitamente, o curso para uma pessoa de cada secretaria, que depois será responsável pelo preenchimento do formulário para que possamos mapear as ações”, diz Tavares. “Sentimos a necessidade de capacitar as pessoas no tema. Queremos sensibilizar esses representantes e sabemos que o tema ainda não é conhecido amplamente.”

De acordo com Vinícius Cassio Barqueiro, coordenador de educação executiva do Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper (CGPP), o tema de gestão de pessoas no setor público é crucial.  “É sempre uma responsabilidade e uma satisfação trabalhar em parceria com centros de pesquisa para levar evidências e boas práticas em forma de cursos executivos para gestores públicos. Esse projeto em específico, que só foi possível graças a muita colaboração entre CGPP, Observatório e Vamos, ofereceu um instrumental teórico e prático importantíssimo para cada pessoa que esteja empenhada em aprimorar a gestão de pessoas no setor público”, diz Barqueiro.

Além desse último curso e da criação do Observatório de Liderança da Gestão Pública, a educação executiva do CGPP tem desenvolvido diversas formações no tema. Ano passado, por exemplo, o Insper realizou o Programa Executivo em Gestão de Pessoas no Setor Público, com aulas online e bolsas afirmativas viabilizadas pela Vamos. “Também abrimos para o público externo a eletiva do MPP Gestão de Pessoas no Setor Público, curso presencial com aulas semanais que visa desenvolver capacidades analíticas e decisórias relacionadas à dimensão humana da organização. A próxima turma está com inscrições abertas para fevereiro de 2024”, lembra Barqueiro.

 

O Mapa na prática

A coleta de dados para a composição do Mapa começa ainda em novembro e vai durar cerca de um mês. Segundo Tavares, três estados já têm algum tipo de iniciativa para contratação de lideranças: Minas Gerais, Ceará e Rio Grande do Sul. “Mesmo assim, ainda são questões pontuais. A verdade é que quase todos os cargos no Brasil são indicações políticas sem nenhum critério mais estruturado em termos técnicos. Os contratados ocupam as posições de acordo com a vontade da autoridade que indica e isso pode ser otimizado com algumas práticas de seleção para avaliar competências”, explica.

Além de aprofundar a questão e mapear as boas práticas e oportunidades, o professor acredita na criação de uma comunidade. “Nossa ideia é ajudar a formar uma rede conectando os estados brasileiros. Identificar quem tem boas práticas, fazer oficinas e workshops para mostrar como as iniciativas são desenvolvidas e proporcionar essa troca tão importante”, afirma.

 

Aprofundando o conceito do Mapa

Tavares ressalta que o objetivo do mapeamento não é criar um ranking das Secretarias participantes, mas oferecer insumos para aperfeiçoamento da gestão e incentivar mudanças culturais sobre a maneira como os cargos públicos de lideranças são vistos no Brasil. O Mapa foi construído por meio de uma ampla revisão do que a literatura acadêmica em gestão de lideranças considera importante. Essa construção contou com contribuições de importantes parceiros, como entidades ligadas ao tema (Instituto Gesto, Vetor Brasil e República.org, entre outros) e dezenas de especialistas nacionais e internacionais na área de gestão de pessoas e liderança no setor público.

A estrutura conceitual do Mapa é focada nos pilares considerados essenciais para a gestão de cargos de liderança no governo: seleção, gestão do desempenho e desenvolvimento. Transversalmente a eles estão a diversidade e a coordenação central.