Realizar busca
test

A biotecnologia como forma de regenerar o planeta, promover a educação e gerar renda

Vale a pena entender um pouco desse ramo da ciência e enxergar as amplas possibilidades de investimento e empregabilidade que oferece ao Brasil

Vale a pena entender um pouco desse ramo da ciência e enxergar as amplas possibilidades de investimento e empregabilidade que oferece ao Brasil

 

Renata Frischer Vilenky*

 

Como diria Goethe: “Quando foi que você viu uma coisa antiga pela primeira vez”? Talvez sua resposta seja “agora”, porque a biotecnologia não é uma disciplina nova. Ela existe há mais de 4.000 anos, tendo em vista que a produção de pão e vinho a partir de microrganismos vivos acontece há séculos, com a diferença de que nós, humanos, desconhecíamos como se dava esse processo.

Biotecnologia é a manipulação de microrganismos vivos para fabricar ou modificar produtos. Esses procedimentos tornaram-se mais conhecidos com a descoberta da estrutura tridimensional da molécula de DNA, em 1953, o que possibilitou o desenvolvimento da teoria celular e das leis da herança dos fatores genéticos. Essa tecnologia foi impulsionada pela descoberta da clonagem molecular, em 1978 — antes disso, acreditava-se que o pão ou o vinho fermentavam por geração espontânea.

Hoje, com o nível de conhecimento e tecnologia que temos, a biotecnologia está tão avançada que, além de se segmentar em diferentes mercados — podemos aplicá-la na agricultura, na saúde, na indústria, no meio ambiente —, já proporciona excelentes resultados no Brasil:

  1. Na agricultura, as mudanças genéticas precisas alcançadas por meio da aplicação de organismos vivos na cultura da soja ajudaram o Brasil a se tonar o maior produtor de soja do mundo.
  2. Na área da saúde, a Biomm, empresa brasileira fundada em 2001 em Nova Lima (MG), obteve a aprovação da Anvisa, em 2018, para a produção da insulina Glargilin, obtida a partir de clonagem molecular. Essa insulina dura mais tempo no corpo humano do que a similar tradicional e é indicada para o tratamento de diabetes mellitus tipo 2 em adultos e de diabetes mellitus tipo 1 em adultos e crianças com 2 anos ou mais. Claro que só um endocrinologista pode dizer o que é melhor para o paciente, mas esse tipo de insulina tende a oferecer menor risco de hipoglicemia.
  3. Na indústria, a fabricante de papel e celulose Suzano desenvolveu biocompósitos que, de forma simples, são insumos produzidos a partir de fibras vegetais como sisal, coco, juta, curauá, bagaço da cana de açúcar, soja e casca de arroz. Eles podem modificar os polímeros termoplásticos amplamente utilizados no setor aeroespacial, de construção e automotivo, entre outros. Entre os benefícios do bioinsumo estão a disponibilidade ilimitada, por serem provenientes de fontes renováveis; são menos abrasivos do que as fibras de vidro, causando menor desgaste nos equipamentos; agridem menos o meio ambiente; aumentam a resistência mecânica (tração, flexão, compressão); na indústria automotiva, o aumento da resistência com o uso desses materiais torna o veículo mais econômico em termos do consumo de combustível.
  4. No meio ambiente, há o exemplo da Cosan, uma empresa com mais de 50 anos de atuação na área de energia, com um portfólio extenso de geração de bioenergia por meio de biomassa, palha da cana-de-açúcar, biogás e energia solar. Em 2019, a Raízen, empresa do grupo, produziu 16,5 milhões de litros de etanol de segunda geração, utilizando resíduos de cana-de-açúcar e do milho.

Cabe destacar alguns pontos importantes sobre os exemplos acima e o mercado de biotecnologia:

  • Todas as empresas citadas possuem ação negociada em bolsa, com valorização atraente, atuam em um mercado em franca expansão. Segundo relatório publicado pela Fior Markets, o mercado global de biotecnologia deve saltar de US$ 447,9 bilhões em 2019 para US$ 833,3 bilhões em 2027, com uma taxa anual de crescimento de 7,02% no período de 2020 a 2027.
  • Segundo artigo publicado no tema Saúde e Bem-estar do Estadão Summit, o mercado de biotecnologia está em ascensão no mundo. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que, até 2030, 80% dos produtos farmacêuticos sejam desenvolvidos com o uso de biotecnologia.
  • Biotecnologia está ranqueada entre as áreas profissionais do futuro em matéria publicada no site Vagas pelo Mundo.
  • Segundo estudo publicado em janeiro de 2023 pela Embrapa em parceria com a ABBI, a bioeconomia no Brasil pode gerar um faturamento de US$ 284 bilhões anuais até 2050, se o país realizar a total implementação dessa atividade, que abrange três frentes: as atuais políticas para mitigação de emissões de gases de efeito estufa; a consolidação da biomassa como uma das principais fontes da matriz energética em setores importantes da economia; e a intensificação de tecnologias biorrenováveis (que utilizam recursos biológicos e renováveis para produzir energia, insumos químicos e outros produtos).
  • Além de a biotecnologia ser uma área em expansão e geradora de produtos para diversos segmentos, ela tem a capacidade de proporcionar receita adicional para quem a utiliza. Uma empresa que deixa de usar insumos de origem fóssil e os substitui por bioinsumos obtém créditos de carbono, que podem ser comercializados na bolsa de valores. Dessa forma, além da receita com a venda de seus produtos, a empresa pode obter um ganho adicional com sua forma de produção.

Portanto, vale a pena procurar entender um pouco da história da biotecnologia e enxergar a ampla gama de possibilidades de investimento e empregabilidade no país. É uma janela de oportunidades excelente para empresas, profissionais e sociedade, porque podemos simultaneamente gerar mais empregos e mais renda, sem comprometer a sustentabilidade do planeta. Não deixe de se atualizar, aprender e dar um passo rumo a um futuro sustentável, tanto ambientalmente quanto economicamente.

Quadro: A evolução da biotecnologia
Fonte: Iberdrola

 


Renata Vilenky

* Renata Frischer Vilenky é alumna Insper do MBA de Administração da turma de 2008, coordenadora do Grupo Alumni de Tecnologia e membro da Academia Europeia da Alta Gestão. É conselheira de estratégia e inovação e mentora de projetos de inclusão social no Instituto Reciclar e na ONG Gerando Falcões. É autora dos e-books Inteligência Artificial: Uma Oportunidade para Você Empreender e Startup: Transforme Problemas em Oportunidades de Negócio, ambos publicados pela Expressa Editora.

Este website usa Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade

Definições Cookies

Uso de Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade