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Um programa para atrair trabalhadores remotos e impulsionar a economia local

O professor Thomaz Teodorovicz, da Copenhagen Business School, analisou o modelo utilizado por Tulsa (EUA) e concluiu que o vínculo com a comunidade é fundamental para o sucesso na atração de talentos

Thomaz Teodorovicz

O professor Thomaz Teodorovicz, da Copenhagen Business School, analisou o modelo utilizado por Tulsa (EUA) e concluiu que o vínculo com a comunidade é fundamental para o sucesso na atração de talentos

  

Michele Loureiro

 

O trabalho remoto, que ganhou força durante a pandemia, é uma tendência incontestável. Para mensurar sua efetividade, Thomaz Teodorovicz, ex-aluno do doutorado em Economia dos Negócios no Insper, realizou um estudo sobre o Tulsa Remote, umprograma de atração de trabalhadores remotos altamente qualificados à cidade de Tulsa, nos Estados Unidos.

Em seminário realizado no Insper no dia 27 de setembro, o atual docente no Departamento de Estratégia e Inovação da Copenhagen Business School, na Dinamarca, e pesquisador afiliado ao ION Management Science Lab na SDA Bocconi School of Management, na Itália, apresentou alguns dos principais resultados e mecanismos que fazem esses profissionais permanecerem na cidade localizada no estado de Oklahoma e gerarem riqueza no local.

Segundo Teodorovicz, o crescimento do trabalho remoto e a possibilidade do “descolamento” entre escritórios em grandes centros urbanos e o trabalho de profissionais qualificados deram origem a um novo fenômeno: a competição geográfica entre localidades pela presença física de trabalhadores remotos. Afinal, esses profissionais com elevado capital humano podem criar valor para os seus novos destinos e reverter a saída líquida de talentos de cidades menores.

“As localidades que procuram atrair, reter e criar valor via a atração dos chamados “nômades digitais” enfrentam desafios significativos, uma vez que esses trabalhadores, historicamente, possuem baixo apego ao seu novo destino”, diz Teodorovicz. Por isso, ele e seus coautores no estudo — os professores Prithwiraj Choudhury (Harvard Business School) e Evan Starr (University of Maryland) — examinaram o contexto do programa Tulsa Remote, que oferece incentivo financeiro para trabalhadores remotos se mudarem para a cidade.

A ideia era entender os motivos de o programa, que tem a difícil missão de atrair e reter potenciais trabalhadores remotos talentosos, ter atingido considerável “sucesso”: obteve uma taxa de retenção acima de 70%, em um período de dois anos. Esse índice é considerado exitoso porque um nômade digital fica, em média, pouco menos de três meses em uma mesma localidade. “Descobrimos que o Tulsa Remote aumentou o envolvimento da comunidade, o rendimento real e o empreendedorismo dos trabalhadores remotos, beneficiando tanto a comunidade quanto o indivíduo”, afirma Teodorovicz.

 

Detalhes do programa

O programa Tulsa Remote começou em 2018. O foco é atrair pessoas talentosas por meio de um incentivo financeiro de US$ 10 mil para que trabalhadores remotos se mudem para a cidade e permaneçam por lá por no mínimo um ano. Tulsa é uma cidade com 411 mil habitantes e renda familiar média de US$ 49,4 mil (em dólares de 2020).

Além da ajuda financeira para atrair talentos, um aspecto fundamental do Tulsa Remote é oferecer um pacote gratuito de serviços para apoiar a integração dos participantes na comunidade local. Esses serviços incluem a identificação de oportunidades de voluntariado, organizações comunitárias e empresas locais interessantes, bem como a realização de eventos com instituições locais. Em junho de 2021, o Tulsa Remote recebeu mais de 20 mil candidaturas. Convidou cerca de 2,7 mil deles a se mudarem para a cidade e, por fim, realocou 763 trabalhadores remotos.

Teodorovicz explica que ele e seus coautores fizeram uma parceria com o Tulsa Remote para implementar um estudo sobre as implicações econômicas e sociais do programa para seus participantes. O objetivo era avaliar como a participação no programa afetava as condições de trabalho e de vida, os comportamentos e as preferências dos “Tulsa remoters”.

No total, 1.243 indivíduos responderam à pesquisa, dos quais 411 eram “remoters” de Tulsa e 832 eram de outras localidades. Como respostas, 54% dos residentes remotos esperavam morar na cidade durante pelo menos 5 anos, e 37% durante pelo menos 10 anos. A pesquisa apontou que os “remoters” de Tulsa tiveram um aumento de renda real de US$ 26,5 mil por ano, valor superior ao dos candidatos aceitos que ainda não se mudaram para a cidade.

Segundo Teodorovicz, no entanto, os principais determinantes do sucesso de retenção do programa não são os ganhos financeiros — o maior acerto da estratégia do Tulsa Remote foi integrar seus participantes na comunidade local. “As pesquisas constataram que o envolvimento com a comunidade local é o principal impulsionador da retenção dos ‘Tulsa remoters’. Tal envolvimento começa desde o processo de seleção — quando recrutadores dão preferência a candidatos que demonstram conhecimento por Tulsa e um profundo interesse na comunidade local — até a criação de conexões com a comunidade local e com oportunidades de voluntariado, uma vez que o participante se mude para Tulsa. Nosso trabalho sugere, portanto, que o programa cria e captura valor dos trabalhadores remotos, contribuindo para aumentos no longo prazo em sua prosperidade social e econômica”, diz.

Para Teodorovicz, o recente crescimento do trabalho 100% remoto permite que as cidades criem políticas para reverter a fuga de talentos para cidades maiores, ao mesmo tempo que aumentam a renda real dos trabalhadores e sua ligação com a comunidade local.

“Esses resultados sugerem que os governos locais interessados ​​em atrair talentos altamente qualificados podem considerar abordagens políticas como o Tulsa Remote, que combina um incentivo financeiro com um conjunto de atividades auxiliares que apoiam o envolvimento de trabalhadores remotos com a comunidade local”, conclui Teodorovicz.

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