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A paixão por arredondar “bolas quadradas”

A trajetória da professora Patricia Tavares, uma especialista em negociação e dinâmicas de poder que é movida pela busca de soluções para problemas complexos

A trajetória da professora Patricia Tavares, uma especialista em negociação e dinâmicas de poder que é movida pela busca de soluções para problemas complexos

 

Foi quase por acaso que a paulistana Patricia Tavares, professora do Insper nos cursos de graduação e educação executiva, iniciou a carreira de docente. Depois de se formar em Administração Pública na Fundação Getulio Vargas, em 1992, ela decidiu fazer o mestrado em Políticas de Governo na mesma instituição. Nessa época, a FGV abriu um concurso para escolher alunos de mestrado e doutorado da escola para ministrar algumas disciplinas nos cursos de graduação.

Patricia já atuava como monitora na escola, por ter uma boa base de microeconomia. Na época, ela auxiliava o economista Yoshiaki Nakano, que era secretário da Fazenda de São Paulo e dava aulas de microeconomia no mestrado. “Uma colega de curso sugeriu que eu me candidatasse para uma das vagas, elogiando minha capacidade de explicar conceitos de forma leve e divertida. Inicialmente, fiquei em dúvida, mas acabei me convencendo a experimentar”, lembra Patricia. “Foi assim que descobri minha paixão pela educação, pela arte de contar histórias e de traduzir conceitos complexos.”

Patricia revela que chegou a pensar em uma carreira na diplomacia. No entanto, durante seu curso de graduação na FGV, entendeu que o Itamaraty era altamente hierárquico e havia pouquíssimas mulheres embaixadoras. “Dado o meu estilo mais informal e a minha personalidade independente, antecipei que não ia dar bom ‘match’. Acabei mudando meu foco para a área técnica, de assessoria ao governo”, diz Patricia, que fez o doutorado em Administração de Empresas na FGV e também cursos de Negociação na Universidade Harvard e na Kellogg Graduate School of Management.

A professora conta que sempre se sentiu atraída mais pela gestão pública do que pela administração de empresas privadas. “Não tenho nada contra, mas eu queria fazer algo que impactasse muitas pessoas.” Ela diz que sua verdadeira paixão está em lidar com problemas e temas difíceis — que chama de “bolas quadradas”, e a necessidade de criar viabilidade para o tema (“arredondar a bola”).

Patricia está no Insper desde 2000. Ela começou lecionando a disciplina de Organizações e, posteriormente, Decisão e Negociação, que, após uma reformulação da grade curricular, se tornou uma disciplina eletiva. Atualmente, ministra duas eletivas em inglês, integradas à trilha de Estratégia: Family Business e Decision Making and Negotiation. Também atua em cursos de dinâmicas de poder e articulação política, nos cursos de curta duração do CGPP e na área de educação executiva, tanto em programas customizados, que ajuda a desenhar sob medida para organizações, quanto em programas abertos.

A docente conta que, em 2004, um amigo lhe recomendou um programa que achou perfeito para ela, que sempre gostou do tema de negociação. Era o programa  “Managing Organizational Politics”, que ele havia cursado durante seu MBA no Insead, na França. “Fiquei fascinada com o tema, que tratava das dinâmicas de poder nas organizações. Decidi então buscar mais conhecimento nesse campo e até considerei fazer um segundo doutorado, na USP. Mas o que levantei à época me desestimulou: o foco intraorganizacional não era considerado ‘interessante’.”  Determinada a se aprofundar no tema, ela decidiu estudar por conta própria, de forma independente, se valendo de outros programas de MBAs internacionais.

“Entre 2005 e 2007, aprofundei meus conhecimentos nessa área, quase como se estivesse fazendo uma segunda especialização.” Seu foco está na fase anterior à negociação — quem está envolvido no processo decisório e quem precisa ser consultado, quais as agendas paralelas, qual a sequência de interações requeridas. Isso se tornou a espinha dorsal de sua atuação no seu curso Dinâmicas de Poder. “Gosto de chamar esse campo de ‘xadrez político’. A ideia é combinar a compreensão de espaços, pessoas, interesses e influência no processo decisório para obter resultados mais favoráveis para o coletivo”, diz Patricia. “Desde 2007, tenho concentrado meus esforços nessa área, capacitando e trabalhando com executivos tanto da iniciativa privada quanto do setor público, incluindo prefeitos e secretários estaduais. Bolas quadradas existem em todos os locais que tenham pessoas com interesses conflitantes e necessidade de mudança.”

Agora, Patricia planeja tirar do papel um projeto que iniciou há cerca de quatro anos: transformar o curso Dinâmica de Poder em um livro, com o objetivo de atingir um público mais amplo. Uma das motivações para isso é que muitos alunos lhe perguntam onde poderiam se aprofundar sobre o tema com a mesma abordagem que ela utiliza no curso. Patricia escreveu dois capítulos do livro, mas não deu continuidade. “Já plantei árvores e tive filhas. Falta agora escrever um livro”, brinca Patricia, que é mãe de Rebecca, 29 anos, e Beatriz, 12 anos. “Está na hora de retomar e concluir esse projeto.”

 


NOS INTERVALOS

Conheça um pouco mais sobre as atividades de Patricia Tavares fora da sala de aula

 

Patricia Tavares e o marido Eduardo Pacheco
Com o marido, Eduardo Pacheco, assistindo a um jogo da Copa do Mundo de Rúgbi, em Paris

Rúgbi

Quando foi entrevistada para esta reportagem, a professora Patricia Tavares se encontrava em Paris com o marido, Eduardo Pacheco. Eles estavam na capital francesa para comemorar o aniversário de casamento — e aproveitaram para assistir aos jogos da Copa do Mundo de Rúgbi, que começou no dia 8 de setembro (a decisão, entre a Nova Zelândia e a África do Sul, acontece no dia 28 de outubro).

Patricia se tornou fã desse esporte por influência do marido, que fundou em 2009 a Associação Hurra!, entidade sem fins lucrativos que busca promover o desenvolvimento humano por meio do esporte.  A organização já capacitou mais de 1.400 professores de escolas públicas, é parceira da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, e impactou cerca de 68 mil crianças de baixa renda em São Paulo, Bragança Paulista, Indaiatuba e Sorocaba.

“No início, eu achava que o rúgbi era violento, mas Edu me mostrou que se trata de um esporte de contato físico estruturado. Ele era rugbier, jogava pelo Pasteur (que acabou de ser campeão brasileiro), acompanhei muitos jogos. Minha curiosidade acadêmica me levou a pesquisar mais a fundo o tema. Participei de cursos de arbitragem e ensino de rúgbi e descobri que é um esporte que pode transformar a vida das pessoas”, diz Patricia, que atua como voluntária na Associação Hurra!

 

Golfe

Outro esporte que Patricia começou a gostar por influência do marido é o golfe. “Como sempre fui do esporte — joguei voleibol muitos anos, depois tênis e squash —, Edu me incentivou a experimentar o esporte. Achei interessante entender que o golfe permite que homens e mulheres joguem juntos, e sem limite de idade. ‘Pra gente viajar e jogar juntos’ foi a frase que me convenceu. Nenhuma outra modalidade permite que três gerações joguem juntas.”

Há cerca de seis anos, Patricia vem incentivando mulheres que participam de programas executivos a considerarem a prática do golfe. “É um esporte que ajuda a desenvolver habilidades sociais, autocontrole, avaliação de risco e decisões para consertar erros, além de oferecer oportunidades de networking em um ambiente informal. É um bom treino para lidar com dinâmica corporativa, mas de uma forma mais descontraída”, afirma.

Patricia costuma jogar golfe no Clube de Campo São Paulo, do qual é sócia. Começou a praticar esse esporte em 2009 e parou de jogar em 2011, quando nasceu sua segunda filha. “Voltei a jogar golfe em meados do ano passado e atualmente estou bastante envolvida nesse esporte, inclusive em um outro projeto do Eduardo, esse em parceria com a Federação Paulista de Golfe – o Mulheres e Golfe, que oferece ensino inicial da modalidade em 8 aulas coletivas e gratuitas, apenas para mulheres, de qualquer idade.” A Associação Hurra! tem um projeto para incentivar a prática dessa modalidade entre jovens de baixa renda em Indaiatuba e São Paulo.

Patricia Tavares jogando golfe
Jogando golfe: oportunidades de networking em ambiente informal

 

Na cozinha

Quando arruma tempo livre, a professora Patricia vai para a cozinha. “Eu gosto muito de cinema, de assistir a filmes e séries que ajudem a refletir sobre algumas das temáticas que discuto nas aulas, seja de autoconhecimento, seja de política. Mas, de verdade, se tiver de escolher entre ver um filme e cozinhar, eu prefiro ir para a cozinha e preparar alguma coisa para receber pessoas.”

Ela diz que não cozinha todos os dias. “Cozinhar diariamente seria uma obrigação, não um hobby. Reservo meu tempo na cozinha para preparar almoços especiais, receber familiares em datas como o Natal e eventos com amigos”, diz Patricia, que gosta de preparar um pouco de tudo, de pratos indianos a receitas brasileiras. Aprendeu a cozinhar observando a mãe, mas também fez cursos de culinária. “Frequentei o curso Chef Profissional da Escola Wilma Kövesi de Cozinha, fiz aulas na Accademia Gastronômica, no Senac e alguns cursos livres. Sou curiosa, leio muito e gosto de fazer experiências culinárias sempre que posso. Viajar para experimentar coisas e explorar a seção de temperos locais é meu melhor passatempo e investimento.”

 

Personalidade que admira

Quando solicitada a citar uma personalidade pública por quem tenha admiração, a professora Patricia pensou por uns instantes. “É uma pergunta muito difícil, mas a primeira pessoa que me vem à mente é Michelle Obama.” Explicou que a ex-primeira-dama dos Estados Unidos teve uma atuação ativa na formulação de políticas públicas para enfrentar um problema preocupante naquele país, o “double burden” — a coexistência entre a obesidade e a subnutrição.

Patricia citou o livro Minha História, de Michelle Obama (Editora Objetiva, 2018, 464 págs.). “Ler esse livro ajudou a formar minha percepção de uma mulher negra em um ambiente predominantemente branco, ocupando uma função importante, ao mesmo tempo que tinha a responsabilidade de criar duas filhas. Elas arrumavam suas camas todos os dias, demonstrando a preocupação de Michelle em preparar as filhas para o mundo real, depois que saíssem daquele ambiente que podia parecer um conto de fadas”, diz Patricia. “A característica que mais me atrai em Michelle Obama é sua humildade e sua capacidade de não ter se deixado deslumbrar pela posição que ocupou.”

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