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Ex-alunos do Insper começam a carreira de professores no exterior

Thomaz Teodorovicz e Leandro Nardi são alumni das primeiras turmas do doutorado em Economia dos Negócios

Thomaz Teodorovicz e Leandro Nardi são alumni das primeiras turmas do doutorado em Economia dos Negócios

 

Leandro Steiw

 

Dois ex-alunos do doutorado em Economia dos Negócios do Insper dão os primeiros passos como professores de duas das mais prestigiadas escolas de negócios do mundo. A partir de setembro deste ano, Leandro Nardi será professor no departamento de estratégia e política de negócios da HEC Paris, na França. Uma experiência no exterior que Thomaz Teodorovicz vive desde agosto de 2022, quando assumiu como docente no departamento de estratégia e inovação da Copenhagen Business School, na Dinamarca.

Em comum, ambos seguem a mesma linha de pesquisa, em estratégia, e foram orientados pelos professores Sérgio Lazzarini e Sandro Cabral. Teodorovicz é da primeira turma do doutorado em Economia dos Negócios; Nardi, da segunda. Mas, desde que se conheceram, trabalharam juntos em artigos científicos e em projetos do Insper Metricis, núcleo de medição de investimentos de impacto socioambiental.

Thomaz Teodorovicz terminou o doutorado no Insper em junho de 2019, um pouco antes do previsto, porque recebera uma oferta para um pós-doutorado de três anos na Harvard Business School, nos Estados Unidos, a partir de agosto do mesmo ano. O período acabou coincidindo com os primeiros anos da pandemia da covid-19. Foi também quando se preparou para a seleção de professor, trabalhando com a economista Raffaella Sadun, professora de Harvard.

“O pós-doutorado é um emprego de pesquisador que você tem depois do doutorado”, explica Teodorovicz. “Às vezes, no Brasil, as pessoas confundem pós-doutorado com nível de educação ou período sabático. Fora do Brasil, o pós-doutorado é uma preparação para você adquirir experiência de pesquisa, entrar em novos círculos acadêmicos e então aplicar para a vaga de professor.”

 

Thomaz Teodorovicz
Thomaz Teodorovicz, professor na Copenhagen Business School

Desbravando a academia

A Copenhagen Business School é uma das referências internacionais na área de Administração, particularmente na área de estratégia, linha de pesquisa de Teodorovicz. Ele resume o aprendizado na instituição em três níveis: educação, serviços e pesquisa. “Em educação, é uma experiência muito diferente porque o estudante nórdico não está acostumado com a hierarquia de professor, então ele é um alguém que te desafia muito”, conta. “No Brasil e nos Estados Unidos, estamos acostumados a uma hierarquia mínima que separa professores de alunos. Na Dinamarca, essa hierarquia é muito pequena, senão inexistente. Essa diferença cria a necessidade de o professor ter que desenvolver métodos mais ativos para engajar os alunos nas atividades dentro e fora de aula.”

Em termos de serviços, existe um hub de inovação muito forte em Copenhagen, em conexão com as empresas locais e parceiras da escola. Outro diferencial é que não há um sentimento de competição entre os professores-pesquisadores. Diferentemente de alguns modelos na América do Norte, todos os professores-pesquisadores podem ganhar estabilidade se atingirem os critérios de produtividade estabelecidos para os primeiros seis anos de contrato.

“Em pesquisa, é excelente porque, diferentemente de escolas em regiões que adotam uma ideia competitiva muito forte, em que um em quatro professores é contratado, todos podem ganhar estabilidade na Dinamarca”, afirma Teodorovicz. “Você está competindo só com você mesmo, então fica feliz quando é bem-sucedido. Porque o seu sucesso não significa que os outros vão falhar. É uma qualidade de vida que gera produtividade. Consigo me ver melhor nessa cultura de competir comigo mesmo.”

As pesquisas de Teodorovicz investigam como organizações obtêm, alocam e realocam recursos não financeiros — como o capital humano de seus trabalhadores — em contextos sociais. “Um dos meus trabalhos é sobre alocação de professores no ensino privado brasileiro, pesquisando como a onda de fusões e aquisições mudou o papel do capital humano nas universidades que foram adquiridas”, diz. Em trabalho mais recente, estudou um programa de atração de trabalhadores qualificados de atividades remotas na cidade de Tulsa, nos Estados Unidos, para entender os mecanismos que fazem esses profissionais ficarem na cidade e gerarem riqueza local.

Teodorovicz — que também passou um ano trabalhando com a professora Anita McGahan, ex-presidente da Academy of Management e coautora de seus orientadores, na Universidade de Toronto, no Canadá — deixa um recado para os estudantes que também desejam seguir a carreira no exterior, mesmo sem cursar a pós-graduação lá fora. “Convido os alunos da linha de pesquisa de estratégia a estudar questões sociais dentro da área de gestão. O nosso grupo de brasileiros está ficando cada vez mais forte e reconhecido internacionalmente por pesquisas de ponta nesse tema”, afirma.

 

Leandro Nardi
Leandro Nardi, que vai lecionar na HEC Paris a partir de setembro

Outra trajetória

Graduado em Administração, Leandro Nardi entrou no doutorado em Economia dos Negócios depois de cinco anos trabalhando em gestão de pequenas empresas, no interior de São Paulo. “Eu não cursei o mestrado, então aprender a fazer pesquisa foi mais difícil para mim”, conta. “O primeiro ano é muito focado no curso, não sobra tempo para pensar em pesquisa, pois se dedica muito tempo para provas e listas de exercício, o que é típico de cursos de Economia. A minha trajetória foi bem diferente da de um professor regular de um departamento de estratégia de uma business school. Por isso, comecei o doutorado mais tarde.”

Curiosamente, nesse hiato entre a graduação e o doutorado, Nardi não tinha interesse em voltar para a vida acadêmica. “Eu descobri quando já estava trabalhando que seria uma escolha adequada”, diz. “Não vejo nenhuma profissão melhor para mim, porque a academia dá autonomia e liberdade para definir a sua pergunta de pesquisa e como você vai respondê-la.” Ele fez o exame da Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia (Anpec), que classifica candidatos para os programas de mestrado brasileiros, mas foi convidado pelo Insper para ingressar na segunda turma do doutorado.

O Insper oferece a oportunidade dos alunos realizarem estágios de pesquisa em universidades no exterior, contribuindo para a experiência acadêmica e a formação cultural e social. No terceiro ano, Nardi foi para a Universidade de Utah, onde trabalhou com Todd Zenger, orientador de Sérgio Lazzarini. A pandemia atrasou a conclusão do doutorado em seis meses, mas Nardi estava pronto para defender a sua tese em janeiro de 2021. Posteriormente, obteve um pós-doutorado no Society & Organizations (S&O), instituto interdisciplinar da HEC Paris interessado na interseção entre negócios e sociedade.

Nardi explica que a sua linha de pesquisa é focada em impacto social, relacionando negócios a responsabilidade social, gestão de impacto, investimentos de impacto e empreendedorismo social. “Um dos três centros do S&O é sobre inclusão, então estudamos como os negócios podem, por exemplo, ajudar na inclusão e progressão de pessoas mais vulneráveis”, afirma Nardi. “Para mim, foi uma escolha fácil, porque tem um ajuste muito bom com a minha pesquisa. Era um dos melhores centros que eu poderia escolher no mundo.”

A partir de setembro, Nardi será professor no departamento de estratégia e política de negócios da HEC Paris. Nos primeiros três anos, vai ministrar cursos básicos de gestão estratégica para mestrado ou graduação. “O plano é, a partir do quarto ano, começar a pensar em um curso eletivo que vou preparar, que esteja mais relacionado com a minha pesquisa, em responsabilidade social e sustentabilidade.” Assim como Teodorovicz, Nardi estará em uma espécie de estágio probatório por seis anos, até passar de professor assistente para tenure, com estabilidade e possibilidade de seguir o caminho natural na carreira.

 

Entrando no círculo

Sugestões são sempre bem-vindas para quem pretende trabalhar no universo acadêmico. “Acho que a primeira dica é começar a pensar em pesquisa o quanto antes”, diz Nardi. “Você não precisa necessariamente começar um projeto de pesquisa, mas pensar nas questões que lhe interessam como pesquisador. O fato é que pesquisador vive de publicar artigos científicos. Eu, quando comecei o doutorado, nunca tinha lido um artigo científico, e foi uma transição um pouco difícil para mim.”

Para Nardi, é interessante o estudante começar a trabalhar com bases de dados desde muito cedo, escolhendo as informações que interessam para a pesquisa. “Na disciplina eletiva de Finanças Corporativas, nos colocavam para trabalhar com o software Stata e dados da Compustat, que é a principal base de informações financeiras sobre corporações nos Estados Unidos”, diz Nardi. “Também não deixe a escolha do seu orientador ou orientadores muito para o final do primeiro ano, porque a sua interação com ele será importante para encaminhar a sua carreira, caso você queira ficar na academia. Definida a área de pesquisa que você deseja, tente escolher um orientador que tenha acesso àqueles círculos, àqueles networkings.”

Teodorovicz também adiciona uma sugestão: a importância de ampliar a sua rede de contatos internacionais. “Eu tive muita sorte de ter trabalhado para pesquisadores baseados em universidades fora do país desde muito cedo no meu doutorado”, afirma. “Essa rede de contatos não só me ajudou a encontrar oportunidades de trabalho, mas também me mostrou que a capacidade dos alunos formados no Brasil não é inferior à capacidade da maioria dos alunos formados lá fora.”

A sugestão final de Nardi é refletir muito bem se seguir na vida acadêmica é o objetivo. “Pense em quanto você gosta da profissão, quanto ela lhe traz de utilidade, independentemente de status ou sucesso financeiro”, diz Nardi. “Porque é uma profissão que exige muita dedicação, e normalmente você consegue ganhar melhor se estiver fora da academia. Se você quer ficar no setor privado, pode usar o doutorado a seu favor e usar as competências que adquiriu no doutorado para fazer um tipo diferente de pesquisa que interesse ao setor privado.”

 

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