O suporte, desenvolvido pelos alunos de Engenharia Mecânica, permite posicionar a paciente de forma que seja possível fazer a biópsia de lesões nas mamas guiada por tomografia
Bruno Toranzo
Já está em utilização nas pacientes um dispositivo médico desenvolvido pelos alunos do Insper para o A.C. Camargo Cancer Center, hospital e centro de pesquisa em oncologia, de São Paulo. Trata-se de um suporte que permite posicionar a paciente de forma que seja possível fazer a biópsia de lesões nas mamas guiada por tomografia. “Usamos o dispositivo em dois casos que não ofereciam a possibilidade de realizar a biópsia de outras formas. A solução está sendo adotada no dia a dia de atendimento”, diz Almir Bitencourt, médico radiologista do Departamento de Imagem do A.C. Camargo Cancer Center.
Para que fosse aprovado pelo hospital, o que ocorreu no segundo semestre do ano passado, o dispositivo, feito por meio da impressão 3D, foi submetido a uma série de testes. O primeiro, realizado com um simulador de mama, também conhecido como phantom mama, demonstrou o procedimento adequado para localizar a lesão da mama e, na sequência, posicionar a agulha para, por fim, fazer a biópsia. “Fizemos também o teste com voluntários, que foram funcionários aqui do hospital, para verificar se o dispositivo aguentava realmente o peso da paciente, além de avaliar o nível de conforto para ela”, explica o doutor. A paciente fica de barriga para baixo, deitada em cima do dispositivo, que fixa a mama, para que possam ser realizadas pelo médico a tomografia, com a localização do nódulo, e a posterior biópsia.
O propósito do dispositivo é viabilizar o exame de tomografia para o procedimento de biópsia. Há casos nos quais as lesões na mama não podem ser visualizadas por meio de mamografia e ultrassom, o que impossibilita a biópsia. Para essas situações, a ressonância magnética é indicada, mas o problema está no custo para realização desse exame, além da disponibilidade, já que, por ser caro, está disponível em menos lugares — na comparação com outros tipos de exame. Muitas vezes, as pacientes não têm acesso a ele pelo convênio ou pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O uso do dispositivo criado pelo Insper permite uma alternativa à ressonância, que é a tomografia, tornando o procedimento de biópsia mais rápido, barato e acessível.
Essa solução só foi possível por causa do acordo de cooperação de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico assinado entre o Insper e o A.C. Camargo Cancer Center. O dispositivo foi desenvolvido em 2021, no Projeto Final de Engenharia (PFE), de autoria de João Guilherme Coelho Apparecido, Milena Maluli, Pedro Henrique Greco Lopes e Pedro Isidoro Nery Antunes Maciel, então alunos do 8º semestre de Engenharia Mecânica do Insper. A orientação foi do professor Raphael Galdino dos Santos e dos doutores Almir Bitencourt e Paula Nicole Barbosa, médicos radiologistas do Departamento de Imagem do A.C. Camargo Cancer Center. O PFE, que faz parte do currículo obrigatório da graduação em Engenharia, é feito com organizações parceiras que trazem problemas reais para que os alunos desenvolvam suas competências.
“A inovação aberta está relacionada com a forma como podemos empregar novas tecnologias para encontrar soluções que atendam aos mais diversos desafios da sociedade. Nesse caso, adotamos a tecnologia de impressão 3D, que não estava prevista pelo hospital, mas faz parte do programa de Engenharia do Insper, para trazer uma nova possibilidade à forma de diagnosticar o câncer de mama”, destaca Galdino. Segundo o professor, essa é a proposta dos cursos de graduação e pós-graduação do Insper, que se dedicam ao uso da tecnologia para responder aos problemas e desafios do mundo real.
O acordo de cooperação entre Insper e A.C.Camargo prevê apoio mútuo para desenvolvimento de ações relacionadas à pesquisa e ao combate ao câncer. Faz parte dele um programa científico e tecnológico de cooperação e intercâmbio para execução de atividades de pesquisa e desenvolvimento, capacitação de recursos humanos e absorção e transferência de tecnologia.