Pesquisa de Farah Diba e Danny Claro sobre crédito para a classe C passa a contar com o apoio financeiro da Associação Americana de Pesquisa do Consumidor e da Associação Americana de Marketing
Tiago Cordeiro
Como a classe C lida com o crédito via cartões e pagamentos parcelados de grandes varejistas? Os professores do Insper Farah Diba Abrantes-Braga e Danny Pimentel Claro trabalham em uma pesquisa para responder a essa pergunta. Com base no histórico de uso de cartão de crédito por 60 meses de 90 mil clientes, eles buscam entender não apenas a maneira como essa parcela da população consome, mas também o impacto do acesso a financiamento na qualidade de vida.
Realizado em parceria com a Universidade do Wisconsin, o Baruch College Nova York e a California State University, o projeto “Credit Card as a Tool to Diminish Financial Constraints of the Low-Income” já chegou a resultados preliminares. E agora passa a contar com o suporte de duas entidades globais de grande relevância em pesquisas acadêmicas na área de marketing, a Associação Americana de Pesquisa do Consumidor (ACR) e a Associação Americana de Marketing (AMA).
“Essas são duas associações acadêmicas importantes na área. É muito relevante contar com acesso a financiamento para avançar no trabalho. O apoio também abre a possibilidade de participarmos de eventos internacionais e produzirmos artigos publicados nos periódicos das entidades”, celebra Claro, professor do Insper desde 2004, titular da cadeira de Marketing e líder do Núcleo de Pesquisas de Marketing Analítico da instituição.
O núcleo estuda problemas relevantes por meio de métricas e modelagem que ofereçam insights profundos e contribuam para a tomada de decisão informada. Atua com problemas típicos que exigem analíticos incluindo queda em vendas, aumento de concorrência, queda de satisfação e entrada em um novo mercado. Para a academia, busca ser um núcleo de excelência em pesquisas em marketing envolvendo métodos rigorosos de pesquisa quantitativa e qualitativa.
“Em praticamente todas as nações, e com a atual pandemia, tivemos redução do bem-estar financeiro da população como um todo. Em especial, a baixa renda, população mais vulnerável a choques econômicos, ficou ainda mais suscetível aos efeitos nefastos desse choque. Tais consumidores, geralmente negligenciados quando se trata do mercado de crédito, têm tido acesso a cartão de crédito na última década”, explica Farah Diba, que é pesquisadora e professora de marketing e comportamento do consumidor nos programas de graduação e pós do Insper.
“Pesquisas recentes indicam que ter acesso ao crédito pode ajudar na redução das restrições financeiras da população de baixa renda. Assim, o cartão de crédito pode ser uma ferramenta para melhorar o consumo, levando ao bem-estar desses consumidores, desde que saibam utilizá-lo de forma adequada. Dessa forma, a pesquisa irá examinar os efeitos (positivos e negativos) do cartão pela população de baixa renda”, enfatiza a professora Farah Diba.
A pesquisa busca identificar melhorias concretas no padrão de vida a partir do acesso ao consumo, diferenciando os gastos necessários dos que podem ser considerados supérfluos. E avalia duas modalidades de acesso a crédito: aquela que utiliza cartões tradicionais e a que se baseia no parcelamento usando cartões da própria loja. “A segunda opção tem juros embutidos menos transparentes para o consumidor. Partimos da hipótese de que ela é mais prejudicial para o poder de compra no longo prazo”, explica o professor Claro.
O trabalho representa um exemplo do chamado marketing transformativo, uma linha de pesquisa que tem propósito social. Existe um conceito equivocado de que o marketing existe para vender mais, e mais caro. Na verdade, é possível vender mais, melhor, procurando aumentar o bem-estar dos consumidores, explicam os professores.
Os pesquisadores lembram que a pandemia provocou uma redução do bem-estar financeiro da população como um todo, em especial a de baixa renda. Para eles, o acesso a crédito, que vem sendo facilitado ao longo da última década, tornou-se parte essencial da vida e pode ser utilizado como uma forma de melhorar o consumo.
A iniciativa pode provocar uma série de impactos práticos: a pesquisa pode ser empregada para desenhar ou aperfeiçoar programas governamentais de transferência de renda, como o Empreenda Mulher e o Empreenda Rápida, do governo de São Paulo. Ou para contribuir para a formulação de políticas de crédito, seja do ponto de vista dos órgãos reguladores, seja das práticas de mercado. “Além disso, será útil para empresas de crédito e profissionais de marketing, que poderão construir intervenções visando promover o bom uso do crédito pela população de baixa renda, reduzindo efeitos negativos como a inadimplência”, afirma a professora Farah Diba.