[{"jcr:title":"Mobilidade urbana eficiente, ativa e inclusiva"},{"targetId":"id-share-1","text":"Confira mais em:","tooltipText":"Link copiado com sucesso."},{"jcr:title":"Mobilidade urbana eficiente, ativa e inclusiva","jcr:description":"Um sistema de transporte mais eficaz em termos de tempo de deslocamento e de redução da emissão de poluentes não é bom só para a saúde e a economia – é um instrumento de cidadania"},{"subtitle":"Um sistema de transporte mais eficaz em termos de tempo de deslocamento e de redução da emissão de poluentes não é bom só para a saúde e a economia – é um instrumento de cidadania","author":"Marcio Martins Araujo","title":"Mobilidade urbana eficiente, ativa e inclusiva","content":"Um sistema de transporte mais eficaz em termos de tempo de deslocamento e de redução da emissão de poluentes não é bom só para a saúde e a economia – é um instrumento de cidadania   Paulo Saldiva*   Dia Mundial Sem Carro, Bruxelas, Bélgica, 2014   Considerações gerais O conceito atual de mobilidade urbana ultrapassa em muito a visão da simples locomoção das pessoas. A mobilidade é também um instrumento de promoção de igualdade e cidadania, além de contribuir para a melhoria da saúde humana. Um sistema de mobilidade mais eficiente em termos de tempo de deslocamento e de redução da emissão de poluentes acrescenta tempo às nossas vidas, que poderemos utilizar para descansarmos, dormirmos ou investir em atividades que nos educam ou nos dão prazer, melhorando nossa saúde mental. O tempo menor do trajeto reduzirá a exposição aos poluentes e ao stress térmico das grandes vias de tráfego e seu entorno. A maior fluidez e menor custo da mobilidade transformará o tecido urbano de “obstáculo” para um “ponto de encontros” em uma cidade onde a solidão coletiva é a regra. A mobilidade ativa – caminhadas e ciclismo – é um instrumento poderoso para a redução da epidemia de obesidade, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares e osteopenia. Calçadas mais seguras são o antídoto para atropelamentos e quedas de idosos. A sinalização semafórica, o estabelecimento de limites de velocidade mais seguras e a construção de vias adequadas para bicicletas promovem importante redução de acidentes, incapacidades e mortes. Promover mobilidade eficiente, ativa e inclusiva é um elemento central para implementar políticas públicas voltadas para a redução das desigualdades, promoção de qualidade de vida e melhoria da saúde.   Bases de uma política de mobilidade urbana eficiente, ativa e inclusiva   Os problemas de mobilidade urbana hoje apresentados por São Paulo foram, em grande parte, gerados por políticas voltadas para a mobilidade motorizada individual. Distorções de investimento públicos, acumuladas ao longo de décadas, resultaram em incentivos excessivos ao uso do automóvel. É premente o redirecionamento dos recursos para a o transporte coletivo e mobilidade ativa; As calçadas de São Paulo são um problema de saúde pública que reflete também a desigualdade da cidade. A qualidade delas decresce em direção à periferia a ponto de se tornarem inexistentes. O asfalto viário tem recebido historicamente muito mais atenção do que as calçadas correspondentes nas mesmas vias. Particularmente, as calçadas que levam aos hospitais públicos de alto atendimento, bem como a implementação do acesso compartilhado de cadeiras de rodas e outras formas de locomoção local, devem ser consideradas nesses pontos críticos para onde afluem pessoas vulneráveis. Tratar pedestres como cidadão de menor valor contraria princípios básicos da dignidade humana. É imperativo que se estabeleça um cronograma de longo prazo para a recuperação das calçadas, que se estenda para além da duração de um único mandato; Os princípios que regulam o fluxo de veículos contrariam o próprio código de trânsito vigente no país. No código, é estabelecido que as prioridades no trânsito são, em ordem decrescente, o pedestre, a bicicleta, o transporte coletivo, o transporte de cargas e, finalmente, os automóveis. Na prática, a cidade de São Paulo, ao longo da sua história, inverteu essa sequência, como atestado pelo tempo exíguo semafórico das faixas de pedestre, pela má qualidade das calçadas, pela baixa segurança dos ciclistas e pela desigualdade da qualidade do transporte público. Adotar práticas efetivas de proteção para os modais mais vulneráveis e de equidade ao transporte de qualidade devem ser objeto de uma política consistente e de longo prazo; A adoção de políticas para a consolidação do transporte por bicicletas como modal de integração com aqueles de grande fluxo de passageiros deve ser estendida para toda a cidade – e não se concentrar em áreas mais consolidadas. Bicicleta é um importante meio de promover a atividade física dos que trabalham longas horas para seu sustento, bem como representa enorme fonte de economia para as pessoas com menor salário. Um projeto de infraestrutura de bicicletários e vias de acesso a eles deveria ser objeto de políticas definidas com cronogramas e metas estabelecidos; Criar observatórios contínuos de segurança viária, com mapeamento dos acidentes nas dimensões do tempo e do espaço, deve ocupar a mesma atenção que atualmente ocupa a medição de congestionamentos. Contamos quilômetros de congestionamento e localizamos os pontos de trânsito ruim com muita precisão. Fazemos o mesmo com feridos, incapacitados ou mortos? Monetizar as perdas diretas e indiretas dos danos à saúde provocados pelos acidentes e poluição decorrentes da mobilidade, bem como das horas perdidas de trabalho por congestionamentos será absolutamente necessário para estabelecer políticas baseadas na relação custo/efetividade. Em outras palavras, os investimentos para o aprimoramento da mobilidade dão retorno financeiro muito superior ao dispêndio. É chegado o momento de deixar de subsidiar modais ineficientes com recursos públicos, tempo e saúde da maioria dos contribuintes.   * Coordenador do Núcleo de Saúde Urbana do Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper"}]