Governos do mundo inteiro utilizam esse conceito das ciências comportamentais para obter sucesso nas ações, como fazer com que os cidadãos se vacinem ou levem seus filhos para vacinar
Bruno Toranzo
A tradução literal de nudge é empurrar. Esse conceito, o de “dar um empurrãozinho”, próprio das ciências comportamentais, tem sido utilizado por governos do mundo inteiro para o planejamento das políticas públicas. “Basicamente, trata-se de criar as condições para fazer com que os cidadãos caminhem em direção ao resultado esperado por uma política pública. Esse dar um empurrãozinho objetiva incentivar determinada decisão ou comportamento específico por parte dos cidadãos”, diz Manuel Bonduki, especialista em políticas públicas e gestão governamental, além de professor do Insper, que ministrará o curso de curta duração Ciências Comportamentais, Nudges e Políticas Públicas, com Antônio Claret Filho e Flora Pfeifer.
Para que essa tarefa seja bem-sucedida, o caminho do cidadão deve ser o mais simples possível até a concretização do resultado, demandando por parte dele mínimo esforço mental. Em uma campanha de vacinação de sarampo, por exemplo, o governo quer que os pais levem seus filhos para vacinar. O objetivo, naturalmente, é que a imunização seja a maior possível. Isso só ocorrerá se, em primeiro lugar, o governo identificar os potenciais obstáculos que os pais enfrentarão para vacinar seus filhos. A partir daí, poderá traçar estratégias para reverter essas dificuldades, dando o incentivo necessário ou, na nossa linguagem, o empurrãozinho ou nudge para obter os melhores índices de vacinação.
“O que se quer evitar é que a pessoa, apesar de saber da importância de determinada ação, como a de vacinar seus filhos, acabe não fazendo por algum motivo, como excesso de coisas para fazer no dia a dia. A lógica é a seguinte: quanto mais complexo o percurso decisório, maior a probabilidade de as pessoas ficarem pelo caminho, não completando a tarefa ou a ação desejada”, diz Bonduki.
O empurrãozinho aqui poderia ser convocar profissionais da saúde, da UBS mais próxima, para ligar para os pais, a fim de agendar a vacinação. Ou ainda aumentar o horário de vacinação no fim de semana, dias geralmente de descanso para os trabalhadores. Na campanha de vacinação contra a covid-19, os governos municipais e estaduais, por exemplo, enviaram mensagens, via SMS, para os celulares das pessoas, com o cronograma de vacinação.
A prefeitura de São Paulo tem inclusive um laboratório, o (011).lab, voltado para inovação, que já utiliza essas intervenções para melhorar a atuação do município nas políticas públicas. “Uma das primeiras intervenções foi redesenhar as cartas de cobrança do IPTU com base nesse conceito. O objetivo foi fazer com que os contribuintes com imposto a pagar quitassem efetivamente a obrigação”, diz Bonduki.
O campo do conhecimento das ciências comportamentais busca entender como as pessoas tomam decisões. Por que os pais deixam de vacinar os filhos? Quais dificuldades fariam com que os pais não fossem vacinar seus filhos? Essas são duas perguntas relevantes para a definição da política pública de vacinação e de como implementá-la por meio de nudges ou empurrõezinhos. “As pessoas tendem a fazer o que a maioria está fazendo, com o objetivo de se adequarem à norma social. Nesse contexto, a tendência é que até mesmo os reticentes acabem aceitando”, diz Bonduki.
No curso Ciências Comportamentais, Nudges e Políticas Públicas, os alunos aprenderão as principais teorias das ciências comportamentais, com aplicação prática, a partir da discussão de casos de nudges no Brasil, na Europa e na África. Entre os objetivos do curso está identificar situações e contextos de políticas e serviços públicos em que o uso da abordagem comportamental pode ser efetivo, além de aplicar nudges para alterar decisões pontuais e para formar hábitos, gerando impactos relevantes e consistentes.
As aulas terão início no dia 2 de agosto e serão realizadas todas as terças e quintas, das 18h às 20h, até o dia 1º de setembro. As matrículas podem ser feitas até 30 de julho. Para saber mais sobre o curso, clique aqui.