O cientista político Leandro Consentino, professor do Insper, sugere a leitura de três obras que ajudam a melhorar o debate sobre cidadania e democracia
Leandro Steiw
Professor de graduação em Economia e Administração e do Programa Avançado em Gestão Pública do Insper, o cientista político Leandro Consentino sugere três livros que ajudam a compreender o Brasil atual. As obras permitem identificar os desafios políticos e sociais do país, passando por temas como presidencialismo de coalizão, saúde, educação, Poder Judiciário, sistema eleitoral, corrupção, racismo, meio ambiente, direitos humanos e política externa, entre outros.
Todas as leituras pretendem melhorar o debate sobre os destinos do Brasil em tempos de desorganização das instituições democráticas. Afinal, como Consentino escreve em um dos textos de “Reconstrução: o Brasil nos Anos 20”, a educação voltada para a cidadania seria uma das tarefas ainda inconclusas da Nova República, pois “os cidadãos não nascem democratas, mas precisam ser educados para a democracia”.
Presidencialismo de Coalizão: Raízes e Evolução do Modelo Político Brasileiro, de Sérgio Abranches. Companhia das Letras, 2018, 480 páginas.
“Sérgio Abranches é um renomado sociólogo, autor do termo e do conceito de “presidencialismo de coalizão”, cunhado ainda no ano de 1988 em artigo seminal para a Ciência Política brasileira, o qual desenvolve e atualiza neste belo trabalho.
Neste livro, Abranches esmiúça nosso percurso histórico desde a Primeira República, atravessando o Estado Novo, a Segunda República, o Regime Militar e, enfim, alcançando a Terceira República que ora vivenciamos. Em todos esses períodos, o texto destaca a importância das coalizões e da interação entre os Poderes do Estado e deste com a sociedade. Se não devemos incorrer no equívoco de confundir o presidencialismo de coalizão com a corrupção, como quiseram alguns nos últimos tempos, o autor também evidencia os vícios presentes neste arranjo como o clientelismo, o fisiologismo e a corrupção. De toda forma, a resiliência do modelo é impressionante e a leitura deste livro, que já nasceu clássico, é inescapável para todos os que desejam compreender o sistema político brasileiro.”
Nós do Brasil: Nossa Herança e Nossas Escolhas, de Zeina Latif. Record, 2022, 252 páginas.
“A obra da brilhante economista Zeina Latif apresenta um quadro bastante rico e multifacetado sobre os desafios de nosso país para alcançar o crescimento econômico e o desenvolvimento, tocando em pontos sensíveis como a educação, o Judiciário, a construção da cidadania, a questão democrática e a violência. Além do inteligente trocadilho que nos coloca como atores centrais na superação dos ditos obstáculos — “nós” como as questões a superar e como os atores que devemos superá-las —, a riqueza do livro também se percebe pelas diversas referências à literatura clássica e recente sobre os temas que analisa, sob o signo do institucionalismo path dependent de Douglass North. Uma leitura leve, rápida e, ao mesmo tempo, densa e necessária.”
Reconstrução: o Brasil nos Anos 20, organizado por Felipe Salto, João Villaverde e Laura Karpuska. Saraiva Jur, 2022, 488 páginas.
“Esta é uma coletânea de artigos de jovens autores — na qual, humildemente, contribuo com um capítulo — que compõem um mosaico bastante rico sobre os diversos temas necessários à reconstrução do Brasil, sobretudo após os recentes anos de desorganização e destruição de instituições fundamentais ao Estado Democrático de Direito no Brasil.
Os temas vão desde a economia em sentido amplo, passando por questões como o sistema de governo, sistema eleitoral, educação, saúde, papel do Estado, racismo, meio ambiente, direitos humanos e política externa, entre outras. Além da diversidade temática, a riqueza do trabalho também está ligada à reunião de opiniões e crenças distintas de cada um dos autores, evitando o risco do dogmatismo e do sectarismo tão presentes no debate público brasileiro, seja na academia, seja fora dela.
Com toda certeza, trata-se de uma obra fundamental para compreender o momento histórico atual, mas também para ajudar a construir o futuro de nosso país, tomando como motes centrais o bicentenário de nossa independência política e o centenário de nossa modernidade nas artes.”