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Benefícios sociais com a educação integral representam seis vezes o seu custo

É o que aponta um estudo preliminar apresentado no Insper durante o lançamento do Centro de Evidências da Educação Integral

É o que aponta um estudo preliminar apresentado no Insper durante o lançamento do Centro de Evidências da Educação Integral

 

Bruno Toranzo

 

Em evento realizado no auditório do Insper, no dia 7 de julho, foi lançado o Centro de Evidências da Educação Integral, cujo objetivo é sistematizar e gerar conhecimento sobre educação integral para o desenvolvimento  humano. Os Institutos Natura e Sonho Grande apoiam o Centro por meio de doações que viabilizam os estudos realizados pelas equipes do Insper. No evento, o professor Ricardo Paes de Barros, principal pesquisador do Centro, apresentou os resultados preliminares de uma pesquisa que estima os impactos da educação integral de médio e longo prazo no cenário brasileiro.

A pesquisa envolveu o levantamento e a sistematização de outros estudos e avaliações de impacto, tanto internacionais quanto brasileiras. Entre elas está a avaliação experimental do Ensino Médio Integral em Tempo Integral (EMITI) em Santa Catarina, que foi conduzida anteriormente pelo pesquisador Ricardo Paes de Barros. A avaliação contou com 24 escolas, que foram divididas em dois grupos: com e sem educação em tempo integral. Elas foram observadas ao longo de dois anos, com a análise dos resultados extrapolada para três anos, para permitir a comparação do desempenho dos alunos. “O impacto da educação integral foi um aumento de 20 pontos na escala de proficiência do Saeb [Sistema de Avaliação da Educação Básica], ou seja, o equivalente a tudo que se aprende no ensino médio. Podemos então dizer que, com a educação em tempo integral, o aprendizado dos alunos dobra em comparação com o aprendizado dos alunos do ensino regular”, disse o professor Ricardo Paes de Barros.

Em termos monetários, esse aumento de 20 pontos na escala do Saeb pode significar, para os jovens que fazem o ensino médio em tempo integral, um acréscimo de 10% na remuneração do trabalho ao longo de toda a vida. Além desse ganho decorrente do aumento de aprendizado, há também os benefícios resultantes da maior chance de o aluno em tempo integral concluir a educação básica e a educação superior. Com isso, o ganho total na remuneração pode chegar a 15%, de acordo com o estudo.

Além dos benefícios gerados diretamente para os jovens egressos de um ensino médio integral, foram somados os benefícios gerados para a sociedade. No total, os pesquisadores estimaram que o valor presente dos ganhos em geração de renda, para cada jovem estudante adicional que tenha acesso a uma educação integral no ensino médio, é de 145 mil reais. Uma vez que o custo de assegurar educação integral a esse jovem é de 24 mil reais, a conclusão é que os benefícios individuais e sociais com a educação integral representam seis vezes o seu custo. “Qualquer que seja a conta que se faça, educação vale a pena. Educação integral significa mais educação de qualidade na vida das pessoas. E mais educação de qualidade na vida das pessoas é sempre um bom negócio”, afirmou Paes de Barros.

 

Ao lado da ciência

Na abertura do evento de lançamento do Centro de Evidências da Educação Integral, o presidente do Insper, Marcos Lisboa, lembrou o impacto da pandemia da covid-19 na educação. “A pandemia foi um estrago para o aprendizado das crianças, uma tragédia para as famílias, mas também revelou o quanto uma imensa parte da sociedade está distante do que é ciência. Ciência é protocolo e não está ligada a ideologias. Esses protocolos garantem que não estamos defendendo ideias estapafúrdias. A ciência demonstrou que a educação integral aumenta o aprendizado dos alunos”, afirmou Lisboa. “É preciso clareza sobre os protocolos de aprendizado para proporcionar a melhor educação aos alunos, o que passa pela gestão do corpo docente e pelo treinamento dos profissionais.”

Por sua vez, Ana Paula Pereira, diretora-executiva do Instituto Sonho Grande, destacou que a instituição, fundada em 2015, apoia somente políticas públicas com impacto comprovado, como é o caso da educação integral. “Em 2021, auxiliamos os estados a levar essa modalidade de ensino para 22% das escolas do ensino médio, com 15% de matrículas nesse tipo de educação”, disse. “Esses números trazem alegria, mas indicam que há um enorme desafio para alcançar a meta 6 do PNE [Plano Nacional de Educação], que prevê que essa modalidade seja oferecida em pelo menos 50% das escolas de ensino médio.”

Ana Paula Pereira citou os principais benefícios da educação em tempo integral no ensino médio: maior nível de aprendizado, retenção de estudantes (menor índice de evasão, de abandono, ao longo dos anos), maior chance de entrar no ensino superior, aumento da renda, aumento da empregabilidade em profissões que requerem maior qualificação, maior chance de mulheres entrarem no mercado de trabalho e redução da desigualdade salarial entre negros e brancos.

David Saad, presidente do Instituto Natura, observou que a realidade brasileira é de descontinuidade das políticas públicas e a educação é impactada por isso. “Quando essas políticas estão perto de atingir sua maturidade, são descontinuadas por diversos motivos”, disse ele. “Nesse sentido, o Centro irá contribuir gerando e sistematizando conhecimentos e evidências para embasar a tomada de decisão dos gestores públicos e de toda a sociedade a respeito da necessária continuidade do ensino médio integral”, afirmou.

O novo Centro quer justamente contribuir para que essa modalidade de ensino seja utilizada de maneira eficaz, de modo a promover sua continuidade e ampliação e, assim, ajudar a garantir a todos o direito a uma educação de qualidade. “Neste ano, o Centro pretende estudar propostas de incentivo para aumentar o engajamento e diminuir a evasão no ensino médio de educação integral. Temos também o objetivo de publicar um livro sobre o impacto da educação em tempo integral na proficiência no Brasil, além de viabilizar um curso de educação executiva para gestores públicos”, disse a professora Laura Machado, coordenadora do Centro de Evidências da Educação Integral.

 

Lançamento do Centro de Evidências da Educação Integral - primeiro painel de debates
Participantes do primeiro painel de debates

Fronteira do conhecimento

Durante o evento, foram realizados dois painéis de debates. O primeiro deles teve como tema a “Fronteira do conhecimento sobre a educação integral”. Com mediação de Claudia Costin, ex-diretora de educação do Banco Mundial, atualmente diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (Ceipe), ligado à Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, contou com os painelistas Ricardo Paes de Barros, Cristine Campos de Xavier Pinto, professora do Insper, e Leonardo Rosa, pesquisador do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps).

Claudia Costin lembrou a importância do educador Antonio Carlos Gomes da Costa na concepção da proposta de educação integral. Gomes da Costa previu inclusive a necessidade de trabalhar o projeto de vida do aluno e o protagonismo juvenil. “Precisamos seguir aquilo que os 40 primeiros países do ranking do Pisa estão fazendo, que é não ter turno da manhã e da tarde nem fazer com que os professores deem aula em várias escolas, por vezes de municípios diferentes. O ensino precisa fazer o jovem pensar, e a convivência com o professor é importante para isso”, disse Claudia Costin.

“Antonio Carlos Gomes da Costa deu a base teórica do que é hoje a educação integral. Temos uma longa tradição que, infelizmente, ainda não deslancha. Ainda assim, apresentamos hoje mais condições, mais recursos, para viabilizar a educação integral”, afirmou Paes de Barros. Na sequência, ele analisou o caminho percorrido pelos países vizinhos. “A grande vantagem do Chile é que fez a jornada educacional completa. Fez mais ou menos em 20 anos, mas de forma contínua, enquanto outros países latino-americanos, como a Colômbia, fazem de forma intermitente. O Brasil está mais para esse estilo colombiano do que para o chileno”, observou.

A professora Cristine Pinto destacou que a educação em tempo integral no ensino médio aumenta o engajamento dos estudantes em projetos sociais e em atividades comunitárias. “O impacto é, portanto, muito maior do que aquele no próprio aluno, já que se alastra para a escola e para a comunidade nas quais o estudante está inserido”, disse.

Já o pesquisador Leonardo Rosa observou que a evidência empírica internacional demonstra que mais tempo na escola está associado a efeitos de redução da violência, especialmente olhando para os dados dos Estados Unidos. “Há também um estudo no Chile mostrando que a expansão das escolas em tempo integral reduz os índices de violência”, disse.

 

Lançamento do Centro de Evidências da Educação Integral - segundo painel de debates
Participantes do segundo painel de debates

Uso de evidências no ensino médio

O segundo painel tratou do “Uso de evidências e experiência do ensino médio integral”. Mediado também por Claudia Costin, contou com a participação dos seguintes gestores públicos: José Mendonça Filho, ex-ministro da Educação e presidente do Instituto de Inovação e Governança (Índigo); Vitor de Angelo, secretário estadual de Educação do Espírito Santo; Hubert Alquéres, secretário estadual de Educação de São Paulo; e Maria Medeiros, secretária-executiva de Educação Integral e Profissional de Pernambuco.

“Vivi a experiência do nascimento do modelo de educação integral no colegiado pernambucano. O estado ocupa patamar de excelência na média do Ideb no Brasil”, afirmou José Mendonça Filho. “Como ministro da Educação, levei adiante a reforma do ensino médio, estabelecendo prazo de implementação gradual de cinco anos. No corpo dessa política de reforma do ensino médio, adotamos o modelo de educação integral a ser apoiado como política educacional pelo MEC.”

De acordo com o ex-ministro, em cinco anos, o Brasil saiu de 5% de matrículas em tempo integral no ensino médio público para os atuais 15%. Além disso, eram 8% de escolas públicas em tempo integral no Brasil, chegando a 22% hoje em dia. “Considero que tenha sido bem-sucedida essa política pública implementada em uma época difícil, de crise nacional e de antagonismo político”, disse Mendonça Filho.

Já Maria Medeiros, que foi professora da rede pública de Pernambuco, afirmou que o jovem com seu projeto de vida deve estar no centro da educação. “O estado de Pernambuco sempre esteve aberto para receber pesquisadores e estudiosos, liberando o acesso aos dados. Entendemos que, quando alinhamos a pesquisa científica à prática das escolas, ao seu dia a dia, criamos elementos para defender a continuidade de determinada política pública, que deixa de ser de governo para se tornar de Estado”, afirmou. “Neste ano, em Pernambuco, atingimos 75% das matrículas no primeiro ano do ensino médio em escolas de tempo integral.”

O secretário Vitor de Angelo disse que o Espírito Santo deu inicialmente prioridade para a expansão do tempo integral em lugares vulneráveis. “Escolhemos os municípios mais violentos, considerando para isso o número de homicídios. A partir daí, ampliamos a educação integral para praticamente todos os municípios capixabas: 76 dos 78 existentes. Temos hoje 132 escolas nesse modelo, em comparação com as 32 que existiam inicialmente”, disse.

Por fim, o secretário Hubert Alquéres disse que, nos últimos três anos e meio, São Paulo aumentou a rede de escolas de ensino em tempo integral para 2.050, com presença em quase 500 municípios. “Já temos a maior rede do Brasil, com 1,1 milhão de vagas de educação integral. São Paulo tem hoje 43% das escolas nesse modelo, com 30% das matrículas”, afirmou.

Segundo Alquéres, a nova carreira dos professores foi pensada nesse contexto. “O professor em início de carreira recebe 7 mil reais por mês para atuar na educação integral. Essa dinâmica é ótima em termos de relacionamento, já que os professores não precisam ficar se deslocando entre as escolas e podem, assim, estreitar os laços com os alunos.”

Para assistir ao evento na íntegra, clique aqui.

 


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