[{"jcr:title":"Brasil enfrenta o desafio de gerenciar os extremos da chuva e da seca"},{"targetId":"id-share-1","text":"Confira mais em:","tooltipText":"Link copiado com sucesso."},{"jcr:title":"Brasil enfrenta o desafio de gerenciar os extremos da chuva e da seca","jcr:description":"Webinar promovido pelo Insper antecipa os debates sobre segurança hídrica do curso Gestão das Águas no Contexto das Mudanças Climáticas"},{"subtitle":"Webinar promovido pelo Insper antecipa os debates sobre segurança hídrica do curso Gestão das Águas no Contexto das Mudanças Climáticas","author":"Ernesto Yoshida","title":"Brasil enfrenta o desafio de gerenciar os extremos da chuva e da seca","content":"Webinar promovido pelo Insper antecipa os debates sobre segurança hídrica do curso Gestão das Águas no Contexto das Mudanças Climáticas Rua alagada na cidade de Paraty (RJ)     Leandro Steiw   As crises hídricas no Brasil alternam momentos de extremos. Quase simultaneamente à seca que esvaziava os reservatórios da região metropolitana de São Paulo, menos de 300 quilômetros adiante a chuva destruía cidades e deixava mortos em Paraty, no Rio de Janeiro. “Essa aparente contradição é um dado da nossa realidade e que coloca a gestão das nossas águas num grau elevado de complexidade”, disse Guilherme Barbosa Checco, coordenador de pesquisas no Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), durante o webinar Muita chuva ou seca: como lidar com os extremos na gestão das águas? , promovido pelo Insper no dia 19 de maio. Mediador do encontro, Checco questionou os convidados sobre estratégias para a gestão das águas em meio a crises permanentes de escassez e excesso num território que tem a maior reserva de água doce do mundo e abriga a Bacia Amazônica, a mais volumosa bacia hidrográfica do planeta. “Ao mesmo tempo, o Brasil vive uma situação medieval de acesso à água. Ainda não alcançamos a universalização do saneamento e metade da nossa população não tem coleta de esgoto”, observou Checco. Coordenadora nacional do 2030 Water Resources Group, ligado ao Banco Mundial, Stela Goldenstein afirmou que a gestão depende de políticas nas esferas global, de bacias hidrográficas e local — portanto, são necessárias ações estratégicas em todas as três dimensões. “Pouca água é um fato que depende de questões globais, e aqui no Brasil já aprendemos que desde o desmatamento da Amazônia até a ocupação de mananciais locais influenciam na disponibilidade hídrica”, comentou. “Muita água afeta principalmente, ou pelo menos tem um efeito mais danoso, na escala local, nos municípios. Claro que excesso de água pode atrapalhar safras e levar a inundações de áreas rurais, mas a ocupação do território urbano feita de forma tão desordenada e com uma infraestrutura frequentemente insatisfatória, seja no padrão, seja na sua manutenção, faz com que enfrentar muita água seja difícil nas cidades.” Para Stela Goldenstein, que já foi secretária de Meio Ambiente no município e no estado de São Paulo, essas estratégias não podem considerar a água no sentido estrito. “Temos que olhar para uso do solo, cobertura de vegetação, capacidade de reservação, padrões de manutenção da infraestrutura. Existe uma mescla de temas que temos de enfrentar transversalmente. Caso contrário, ficamos totalmente à mercê desses eventos que, em boa parte, são exacerbados pelas mudanças climáticas, por fatos causados por nós mesmos”, complementou. Para Vicente Andreu, ex-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), é preciso incorporar as incertezas climáticas e hídricas ao processo de planejamento de operação, mudança que enfrenta resistências. “O setor elétrico é contra mudar o padrão de operação dos reservatórios brasileiros e se fixa em algumas caixas-pretas para essa operação, o que tem consequências sobre grandes bacias brasileiras”, afirmou. “As empresas de saneamento se recusam a trazer as incertezas, como se não estivesse acontecendo nada, e tentam passar uma tranquilidade que, muitas vezes, não existe. Porque, se você não incorpora essas incertezas e deseja manter certas condições que não existem mais, temos consequências de toda ordem, principalmente econômicas.” Na opinião de Andreu, essas incertezas que levam à gestão dos extremos deveriam penetrar no meio empresarial, principalmente no público. “Acho até que o privado tem um cuidado maior com o seu negócio, mas o público tem como orientação geral parecer que existe uma normalidade em tudo que está acontecendo, que são fatos esporádicos”, afirmou. “Temos um novo normal de padrão. E esse novo normal, que é uma incerteza, precisa ser mais bem assimilado pelas empresas, juntamente com a temática ambiental, porque os principais usuários de água no Brasil são resistentes. As empresas de saneamento, as empresas de energia e os produtores rurais são resistentes a aceitar esse nível de incerteza que estamos vivendo, para pelo menos especular situações novas que pudessem trabalhar no sentido de oferecer mais garantia. O passado não oferece mais essa garantia.”   A democracia enfraquecida Instigados por Guilherme Checco a apontar caminhos para a integração entre os distintos setores econômicos, Stela Goldenstein e Vicente Andreu citaram o processo democrático, que estaria sendo enfraquecido pelas políticas ambientais e de gestão de recursos hídricos do atual governo federal. No processo de redemocratização do país depois da ditadura militar, constituíram-se instâncias de diálogo representadas pelos comitês de bacias hidrográficas e pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). Parte do desmonte teria começado com a transferência do CNRH para o Ministério do Desenvolvimento Regional, retirado da alçada do Ministério do Meio Ambiente, mencionaram os convidados. Conforme Stela Goldenstein, o Brasil sempre foi patrimonialista e corporativo no processo de tomada de decisão. “O que define é a capacidade de pressão de cada setor, mais do que somos capazes de tomar decisões coletivas. Precisa de reforma do Estado, para que de fato coloquemos em prática processos colegiados permanentes e sistêmicos de tomada de decisão. Isso implica a reforma do Estado e profundas mudanças culturais. E essas mudanças culturais tardam. Às vezes, damos passos adiante; às vezes, damos passos para trás. Neste momento, estamos andando para trás”, disse. Vicente Andreu acredita que os comitês de bacias precisam ser reformulados, mas não enfraquecidos, como prevê o Projeto de Lei 4.546/2021. Ele justificou: “Quando você tira todo o sistema de água do Ministério de Meio Ambiente e manda para o Ministério de Desenvolvimento Regional, está dizendo que a gestão de água no Brasil é simplesmente obra, não tem que ter mais relação com a sustentabilidade, com as questões ambientais, com o clima. Isso não ganhou a dimensão da opinião pública. Porque as pessoas se movimentam, em geral, sobre esse tema quando se está diante de uma situação de crise. E, numa situação de crise, é muito difícil produzir acordos, que são construídos, se possível, antecipadamente. A água não alcança a agenda política porque não alcança a opinião pública fora de situações extremas com as quais temos que lidar: ou com seca ou com escassez”. Prioritário e permanente Para responder ao que significa cuidar das águas, tornando o tema uma agenda prioritária e permanente do país, o [Laboratório Arq.Futuro de Cidades](https://www.insper.edu.br/laboratorio-de-cidades/) do Insper preparou o curso [Gestão das Águas no Contexto das Mudanças Climáticas](https://www.insper.edu.br/educacao-executiva/cursos-de-curta-duracao/cidades/gestao-das-aguas-no-contexto-das-mudancas-climatica/) , que se inicia no dia 21 de junho de 2022. O curso é dirigido tanto para um público mais próximo à temática — formado por gestores de empresas de saneamento, profissionais do setor financeiro, investidores, analistas de risco, membros de organizações da sociedade civil, pesquisadores, integrantes de comitês de bacias hidrográficas, representantes de órgãos de governo e de agências reguladoras —, como para interessados em geral nos temas relacionados ao meio ambiente. Além de Guilherme Checco, Stela Goldenstein e Vicente Andreu, o corpo docente conta com Paulo Furquim de Azevedo (professor titular e coordenador do Centro de Regulação e Democracia e professor em tempo integral nos cursos de graduação, mestrado e doutorado do Insper), Karla Bertocco (consultora em infraestrutura e saneamento, associada da Mauá Capital e conselheira de administração da Corsan), Samuel Barreto (gerente nacional de água da The Nature Conservancy no Brasil), Marussia Whately (diretora do Instituto Água e Saneamento), João Paulo Capobianco (vice-presidente do Instituto Democracia e Sustentabilidade) e Teresa Vernaglia (presidente da BRK Ambiental).  "}]