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Pós-graduação em Direito debate o papel do Jurídico em negócios inovadores

Instigados pela professora Luciana Lima, advogados das empresas Bitso, iFood e Petlove contaram como é trabalhar no ecossistema das startups

Instigados pela professora Luciana Lima, advogados das empresas Bitso, iFood e Petlove contaram como é trabalhar no ecossistema das startups

 

Leandro Steiw

 

O universo das startups é reconhecido por uma informalidade pouco usual nos escritórios tradicionais. Como os demais profissionais, os advogados que trabalham em plataformas ou ecossistemas inovadores precisaram — e conseguiram — se adaptar ao perfil de relacionamento das plataformas inovadoras.

No dia 23 de março, os advogados Bárbara Cabrera Espir, da Bitso, Tatiane Neves Alves, do iFood, e Vinícius Guarnieri Sala, da Petlove, convidados pelo professor Fernando Peluso, do escritório Peluso, Stupp e Guaritá Advogados, debateram com os alunos da pós-graduação em Direito do Insper o papel do Jurídico em negócios de estratégias inovadoras, sob a mediação da professora Luciana Lima.

Os 40 alunos da disciplina atuam em diversas áreas do Direito, como societário, empresarial e tributário. Até então, as aulas haviam focado em negócios e estratégias, sem abordar aspectos relacionados diretamente aos assuntos jurídicos. Tratou-se das diferenças entre o modelo de negócios tradicional (pipeline) e o inovador (plataforma ou ecossistema). Em seguida, a discussão foi sobre o papel e impacto dos diferentes stakeholders nos dois modelos e a forma como ambos constroem valor, contando, inclusive, com palestras realizadas por diferentes representantes. O debate foi uma oportunidade — propositadamente planejada — de os estudantes relacionarem os temas, uma vez que, ao término da disciplina, devem apresentar o modelo de negócio de uma legaltech.

Instigados por Luciana Lima, doutora em Administração pela Universidade de São Paulo e que leciona a disciplina Estratégias Inovadoras de Negócios para Advogados, os três convidados contaram como é trabalhar na chamada economia disruptiva. Depois de dez anos em escritório tradicional de Direito, Bárbara Espir foi estudar governança corporativa na Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Lá, focou nos temas de energia renovável e criptomoedas. “Precisava mudar totalmente de carreira, encontrar um propósito”, diz. Hoje, é head of Legal da Bitso, plataforma que negocia 28 criptomoedas.

Tatiane Alves, que há três anos é coordenadora jurídica da empresa de delivery iFood, incomodava-se com a impossibilidade de participar da tomada de decisões. “Apesar de advogada, odeio burocracia”, afirma. Sua primeira experiência em startup foi na empresa de serviços de transporte Cabify, na qual percebeu que, aos 20 e poucos anos de idade, tinha voz ativa na empresa. Por sua vez, Vinicius Sala nunca trabalhou em escritório, nem no estágio. “A grande virada de chave da startup é que você estará confortável em coisas que nunca fez”, comenta o chief compliance officer da Petlove, empresa online de produtos para animais de estimação.

 

O advogado como parceiro em um negócio de plataforma

Mesmo na nova economia, algumas cobranças inesperadas podem gerar um processo administrativo ou judicial. Num modelo tradicional de negócios, a questão é como lidar: pagamento ou discussão? Entretanto, em modelos inovadores, o papel da área jurídica transcende essas opções típicas do modelo de atuação de consultoria interna.

Ex-aluna do curso LL.C. em Direito Empresarial do Insper, Tatiane diz que a decisão depende das particularidades do caso. No segmento de delivery, um dos golpes mais tradicionais é o da maquininha. O entregador inventa uma cobrança extra e passa um valor altíssimo no cartão da vítima, com um dispositivo que não está pareado com o iFood. “A empresa não tem responsabilidade pela fraude, mas, por causa do impacto na conta dos clientes e na imagem do iFood, optamos por uma solução conjunta”, afirma.

Para a professora Luciana, é nesse tipo de posicionamento que reside a essência — e os desafios — do papel do Jurídico em negócios inovadores. Não se trata apenas de pagar ou discutir, mas de pensar e agir como um real parceiro do negócio. Nesse sentido, novas competências são demandadas aos advogados.

Bárbara, Tatiane e Vinicius concordam que competências como comunicação, gestão de stakeholders, liderança de times e inteligência emocional são fatores condicionantes para a atuação como um parceiro de negócio, aspectos que são muito pouco, ou quase nada, desenvolvidos na graduação em Direito. Isso porque, segundo Tatiane, os advogados se comunicam bem entre iguais, quando dominam o vocabulário do Direito, mas acabam não sendo compreendidos por quem é de fora do meio. Vinicius defende que, às vezes, é preciso ignorar os argumentos jurídicos para a conversa fluir.

Egressa do curso LL.M. Direito dos Mercados Financeiro e de Capitais do Insper, Bárbara acredita no papel protagonista dos departamentos jurídicos em empresas de tecnologia, especialmente em setores com grandes discussões regulatórias, como é caso de Bitso, Petlove e iFood. “Numa empresa inovadora, o advogado precisa entender profundamente sobre a indústria e ser grande parceiro do negócio”, diz. “E o advogado gestor deve ter uma grande capacidade de criar times fortes e bem capacitados, dado que muitos assuntos estratégicos são definidos in-house.”

Vinicius acrescenta: “Gosto muito de falar que o profissional do Direito inovador tem que viver os temas de sua companhia, ter paixão pelo desafio e funcionar como parceiro de negócios, não como uma consultoria interna na companhia. Ao final, não é um processo de veto, mas um processo de construção conjunta do novo”.

 

Pensando no futuro

Como provocação final, a mediação instigou o pensamento de longo prazo, considerando as tendências do ecossistema de negócios inovadores no Brasil, solicitando a identificação dos conhecimentos necessários ao mercado de trabalho dos profissionais do Direito. Destacou-se a importância de permanecer conectado com as novas tendências, tais como o Legal Design, uma lacuna a ser preenchida no mercado de escritórios jurídicos, que se adaptem às demandas de velocidade, simplicidade, linguagem e soluções digitais dos negócios inovadores. Por fim, ressaltou-se a importância da visão multidisciplinar do negócio.

Professora Luciana Lima
Professora Luciana Lima

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