A professora Cláudia Costin e a pesquisadora Gabriela Moriconi destacam a necessidade de valorização dos docentes, cujas atividades não devem se restringir às salas de aula
Mariana Skaf, Juliano Nassar e José Antônio Maluf *
Apesar de imensas conquistas para ampliar o acesso ao ensino básico no Brasil ao longo das últimas décadas, ainda enfrentamos importantes desafios para garantir a aprendizagem de nossos alunos. Os dois anos de pandemia geraram novos obstáculos e inúmeros atores serão fundamentais para recuperar o atraso e melhorar o ensino básico no país — e os professores têm um papel relevante nesse sentido.
Com o intuito de conhecer melhor os atuais e futuros desafios do ensino fundamental público brasileiro, o Comitê Alumni de Gestão e Políticas Públicas (CAGPP) recebeu, ao longo do mês de fevereiro, em duas conversas, a professora Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (Ceipe) da Fundação Getulio Vargas, e Gabriela Moriconi, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e especialista em políticas educacionais. O objetivo deste texto é relatar os tópicos mais importantes abordados durante essas conversas.
Entre os muitos desafios, o primeiro citado é o reconhecimento do papel do professor na vida de seus alunos. Cláudia Costin lembrou que, em um momento histórico no qual as crianças estão alcançando maior escolaridade formal do que seus pais, os professores assumem um papel central, capaz de transformar destinos.
Já Gabriela Moriconi apontou que muitos de nós, brasileiros, ainda esperamos dos professores estritamente a passagem de conteúdos acadêmicos, não incluindo outras tarefas igualmente relevantes, como o desenvolvimento integral, a participação na gestão da escola e outras atividades relevantes para a comunidade e a gestão escolar. Ambas defendem que o papel de mudar a percepção dos professores em relação a sua profissão não está restrito ao corpo docente — a participação das redes escolares, dos órgãos públicos e da comunidade civil é essencial para alinhar as expectativas do que é uma formação mais ampla que o professor deve dar aos seus alunos.
Além da percepção cultural do papel do professor, algumas políticas e operações cotidianas do sistema educacional refletem e, por vezes, perpetuam as atribuições exclusivamente curriculares. Além de questões salariais, a valorização da profissão docente enfrenta outras barreiras, como a forma contratual, a formação inicial, a formação continuada e até o início da atuação. Gabriela observou que, em muitas redes de ensino, os profissionais ainda são contratados com suas agendas dedicadas exclusivamente à sala de aula, o que impede que eles se engajem em outras atividades que ampliariam sua influência sobre seus alunos e a comunidade escolar, como planejamento de aula, correção e devolutiva de exercícios, contribuição para a gestão escolar, atendimento às famílias, entre outras tarefas, além de mentoria de novos professores.
Ter espaços reservados na agenda de trabalho para a realização de atividades fora da sala de aula é uma maneira de reconhecer e valorizar o papel do professor, mas isso deve começar antes mesmo da contratação desses profissionais. A professora Cláudia explorou em sua fala como a formação dos professores impacta a sua entrada no mercado da educação, apontando que durante o curso de formação de um professor há uma ênfase em teoria, sem muito esforço para reuni-la com as práticas futuras em sala de aula. Os desafios não acabam só na formação, no início da carreira, em vez de receber a vivência prática da sala de aula e todos os seus desafios, há uma sobrecarga teórica que não habilita o enfrentamento da realidade cotidiana.
Não há uma solução imediata, precisaremos construir um passo a passo para as políticas educacionais que nos levarão a um futuro melhor. Há inúmeras iniciativas de sucesso espalhadas pelo Brasil e, apesar da carência de apoio federal, outras organizações estão se preocupando em reportar e divulgar boas práticas. O Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e a cultura de apoio criado pelas inúmeras organizações do terceiro setor são exemplos de iniciativas importantes para implementar medidas de recuperação de aprendizado.
Não podemos permitir que crianças percam seu direito à educação. Em relação à alfabetização, por exemplo, precisamos ir além de avaliações diagnósticas e encontrar maneiras de apoiar os professores a suprirem as necessidades de seus alunos. Alfabetizar uma criança não é tarefa fácil, e precisamos de profissionais capacitados e divulgar as boas práticas para garantir o cumprimento dessa etapa educacional tão importante.
Com o intuito de participar dessa frente, o Comitê Alumni de Gestão e Políticas Públicas decidiu focar neste ano no tema do direito à educação. Este conteúdo é o início da nova fase de pesquisa e desenvolvimento do CAGPP. Fiquem ligados em nossos canais de comunicação.
* Mariana Skaf, Juliano Nassar e José Antônio Maluf são membros do Comitê Alumni de Gestão e Políticas Públicas (CAGPP). Para saber mais e participar das atividades do Comitê, entre em contato pelo e-mail capoliticaspublicas@insper.edu.br