Evento do Insper debateu a importância de ajuda profissional para manter o convívio entre os gestores sem precisar recorrer aos tribunais

 

Tiago Cordeiro

 

Em uma empresa familiar centenária, havia dois núcleos diferentes no comando. A tensão aumentou gradativamente, até que todos concordaram em contratar um mediador de conflitos. Nos primeiros dois meses de trabalho, parecia não haver solução. Mas o cenário foi ficando mais claro.

“O que aconteceu é que os líderes dos dois núcleos queriam deixar de atuar no operacional da organização. Mas ninguém verbalizava esse desejo. Quando conseguimos que essa situação fosse apresentada às claras, com sinceridade, tudo se resolveu”, disse o advogado Tadeu Navarro, especialista em Direito Tributário e Planejamento Sucessório e Patrimonial. “A situação foi resolvida em oito meses, um tempo infinitamente menor do que se o conflito chegasse a vias judiciais.”

Navarro relatou o caso durante o evento O Papel da Mediação no Negócio Familiar, realizado pelo Insper no dia 17 de março. Ele dividiu a tela com Amedeo Papa, sócio fundador da Pracis, cujo propósito é apoiar famílias empresárias a se desenvolver e prosperar, em um bate-papo mediado por Fernanda Brasil, diretora da consultoria Banyan Global e professora da Plataforma de Empresas Familiares do Insper, e por Aline Porto, sócia da Banyan Global e co-chair da mesma plataforma.

“Conflito e empresas familiares são quase sinônimos”, disse Fernanda Brasil. “Mas os conflitos são importantes, desde que sua escala não aumente. Quando eles não existem, é sinal de que não há democracia e as relações são frias, distantes. Geralmente há uma bomba relógio pronta para explodir.”

Nesse caso, o mediador assume um papel crucial, o de um observador externo confiável, capaz de trazer à tona não apenas questões profissionais, mas também diferenças pessoais que impactam na gestão do negócio. “Em toda empresa existe aquela pessoa que chega mais cedo, ou aquela que vende mais. No caso de uma organização familiar, essas diferenças atingem níveis de conflito que envolvem também questões emocionais”, afirmou Amedeo Papa.

O mediador também faz, portanto, o papel de um psicólogo. “Mediação é negociação assistida. É um espaço para conversar e negociar, apresentando interesses, sentimentos, necessidades, valores”, disse ele. “Nossa opinião pessoal, nesses casos, não interessa. Nosso papel é fazer boas perguntas como agentes de realidade.”

 

Respeito à cultura

Para executar bem a tarefa, disse Papa, é crucial saber escutar. “É importante gostar de lidar com pessoas e ter resiliência, sem desistir e sem medo do conflito — que, afinal, não é do mediador”. Em geral, esses profissionais atuam por recomendação, já que essa é uma atividade sigilosa.

Já Tadeu Navarro lembrou que a mediação tem um impacto positivo que vai além de evitar que conflitos sigam para os tribunais. “O que mais acontece não é a judicialização, é a procrastinação. Os gestores passam anos adiando encarar questões mais difíceis, muitas vezes esperam que a próxima geração as solucione. Isso só aumenta a dor da empresa, porque o silêncio acaba empurrando os problemas adiante.”

Ele relatou também que o primeiro desafio do mediador é romper a influência daquela pessoa da família que tradicionalmente faz esse papel e que tem a tendência natural de se tornar parcial em situações de confronto. “O mediador não é só uma pessoa bem intencionada. Ele tem técnicas para isso. Entende o contexto e usa recursos, faz conversas isoladas com quem precisa de mais privacidade”, explicou.

Navarro sugeriu também que é importante conhecer a cultura da família. “Algumas são mais formais, outras mais expansivas. Conhecer a cultura da família ajuda a trazer o mediador ou mediadora mais próximo, e ele acaba por conquistar a confiança de todos os envolvidos em menos tempo.”

 

Webinars Insper

Organizadora do evento, a Plataforma de Empresas Familiares do Insper foi criada para alinhar conteúdos acadêmicos, assim como direcionar e integrar eventos, grupos, cursos e pesquisas aplicadas relacionados às empresas familiares. Na avaliação da instituição, elas possuem vantagens competitivas únicas no atual cenário de negócios mundial. Têm compromisso inequívoco com as comunidades na qual atuam e exercem um impacto positivo extraordinário para o desenvolvimento do Brasil.

Entre os cursos disponibilizados pela plataforma estão: Gestão de Empresas Familiares, Owners and Presidentes Program, Family Office: Legados e Valores, Negócios Familiares: Somando Esforços para a Perpetuidade e Family Office: Fundamentos, Práticas e Soluções.

Por sua vez, o evento O Papel da Mediação no Negócio Familiar foi realizado no contexto do Insper Talks, uma série de encontros on-line, gratuitos, que têm por objetivo divulgar conteúdos relevantes, como panorama econômico, aspectos trabalhistas, ferramentas jurídicas aplicáveis, desafios para startups, liderança e gestão de equipes remotas, gestão do capital de giro em tempos de crise, impactos nas cadeias de suprimento e em empresas familiares.

Confira a programação completa e assista, na íntegra, aos eventos que já estão disponíveis no canal.