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Os desafios para a inteligência artificial seguir sua evolução

O que se espera dessa tecnologia não é fazer de modo diferente coisas que já eram feitas por outros meios — a verdadeira inovação seria fazer algo inteiramente novo

Seminário Internacional de Inovação: painel sobre inteligência artificial

O que se espera dessa tecnologia não é fazer de modo diferente coisas que já eram feitas por outros meios — a verdadeira inovação seria fazer algo inteiramente novo

 

Bárbara Nór

 

A inteligência artificial não é mais uma inovação. Essa foi uma das conclusões da sessão “The Evolution of Innovation: AI and its challenges”, que aconteceu durante o Seminário Internacional de Inovação, promovido pelo Insper. O debate reuniu Beny Rubinstein, diretor de estratégia global e inovação no Banco BV, Tushar Parikh, country head da TCS (Tata Consultancy Services) no Brasil, e Fabio de Miranda, coordenador do curso de Ciência da Computação do Insper. O painel foi medidado por Rodrigo Amantea, coordenador acadêmico de Educação Executiva e do Hub de Inovação do Insper.

Durante suas falas, os convidados comentaram seu envolvimento com inteligência artificial e o quanto o tema passou por transformações nas últimas décadas. No entanto, segundo eles, a ferramenta ainda está longe de ter atingido seu ápice.

“Estive no ramo da tecnologia por 20 anos e vimos muita inovação nas plataformas de nuvem, mas não vemos muita inovação na forma como os cientistas de dados operam hoje”, disse Beny Rubinstein. Brasileiro que emigrou para os Estados Unidos e, depois, para Israel, país definido por ele como um centro efervescente de inovação e tecnologia, Rubinstein vem trabalhando com tecnologia e inovação em grandes empresas e foi um dos membros da equipe que fundou a Microsoft Azure, plataforma em nuvem.

Segundo Rubinstein, cerca de 70% do tempo dos cientistas de dados hoje é gasto na mineração e na preparação de dados — um processo ainda majoritariamente manual e pouco eficiente. Outro problema é o fato de ainda se pensar na inteligência artificial como uma ferramenta para fazer de modo diferente as mesmas coisas que já eram feitas por outros meios — o inovador seria fazer algo inteiramente novo.

Essa é também uma das ideias por trás do “IA para IA”, que significaria usar a inteligência artificial para construir os próprios sistemas de inteligência artificial. “Parece algo louco e recursivo, mas é isso”, comentou Rubinstein. Para ele, essa seria também uma saída para um dos maiores entraves na evolução da inteligência artificial: com a tecnologia avançando cada vez mais, os limites do poder humano, e não computacional, são barreiras para o desenvolvimento da própria inteligência artificial. “Queremos inverter esse processo e dizer que talvez seja melhor deixar a IA identificar a melhor maneira de coletar e preparar os dados, em vez de fazermos isso primeiro”, disse Rubinstein.

 

Longa evolução

Por sua vez, Tushar Parikh, indiano que há 11 anos reside no Brasil, comandando a operação no país da TCS, consultoria global de transformação digital, lembrou a longa curva de evolução da IA. “A inteligência artificial já existe há cerca de seis décadas”, disse.  O termo foi criado já em 1956 por John McCarthy, cientista da computação americano, e o primeiro chatbot surgiu em 1966. Desde então, a IA vem evoluindo, mas não na mesma velocidade do aumento da capacidade de computação, por exemplo.

Entre os avanços mais recentes, Parikh mencionou o uso da IA nas comunicações, como em dispositivos como a Alexa, da Amazon, ou como ferramenta para otimizar o deslocamento, como no  Waze, que usa crowdsourcing de dados combinados com IA. Apesar disso, ainda estamos no início da “educação” para a inteligência artificial. “Isso quer dizer que a IA tem um grande potencial, mas que ainda precisa ser atingido da forma correta”, disse Parikh.

Na TCS, a tentativa tem sido usar a ferramenta para melhorar a jornada do consumidor. Os chatbots, por exemplo, que antes dependiam de scripts para responder aos usuários, agora devem ser capazes de buscar ativamente informações sobre o cliente para fornecer respostas mais customizadas. O futuro estaria também na capacidade das máquinas de fazer um autoaprendizado para, depois, prover soluções para diversos problemas enfrentados pela indústria. “Estamos vendo o uso de analytics para compliance, por exemplo, na identificação de riscos.”

Por outro lado, ainda há nas organizações empecilhos para que essa transformação de fato ocorra, como ter as pessoas com as competências certas tanto no negócio quanto na tecnologia e dados com qualidade. Além disso, há uma dificuldade de convencer o negócio da necessidade de usar IA e, depois, ter uma governança apropriada para a segurança e a privacidade dos dados. “Esses são obstáculos para os quais todos os líderes deverão ficar atentos”, disse Parikh.

 

Para todos os profissionais

O professor Fabio de Miranda, coordenador do curso de Ciência da Computação do Insper, comentou que a proposta de ensinar inteligência artificial na escola também seguiu um curso de evolução conforme o avanço do uso da tecnologia. “Antes, a inteligência artificial era dada uma aula específica, mas não havia ainda dados suficientes para aplicá-la”, disse. Agora, ela passa a ser uma ferramenta mais comum de resolução de problemas em diversas áreas — algo que tem impacto direto no ensino.

“A inteligência artificial não será mais só para engenheiros de computação e programadores. Ela será ferramenta de todos os profissionais, incluindo economistas e advogados”, afirmou Miranda. Por isso, o Insper vem incluindo o tema na grade de todos os seus cursos de graduação. “Nós não vemos a inteligência artificial como algo isolado, mas como algo em um processo que começa com design focado no usuário.”

A ideia é também entregar profissionais mais bem preparados para o mercado. O próprio Hub de Inovação do Insper vem sendo procurado por organizações interessadas em resolver problemas por meio da tecnologia. “Temos um time de estudantes de Engenharia e de outros cursos que trabalham durante seis meses para resolver problemas para as empresas”, disse Miranda. Um desses projetos, por exemplo, envolveu o uso da inteligência artificial para identificar palavras-chave em áudios, tornando desnecessário fazer uma transcrição para depois buscar no texto.

Além de solução para problemas, outro foco do Insper é entender a inteligência artificial como uma forma de montar negócios do zero. Uma das novidades é uma disciplina chamada “Startup IA”, oferecida na graduação de Ciências da Computação. “Em vez de dar uma aula genérica de empreendedorismo, queremos olhar para os problemas das companhias que podem ser resolvidos com inteligência artificial e sair daí com planos de negócios para novas empresas baseadas na IA e no aprendizado de máquina”, disse Miranda.

 

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