Para Bret Waters, professor de empreendedorismo da Universidade Stanford, as empresas buscam profissionais com capacidade de engajar suas equipes
Bruno Toranzo
O investidor Bret Waters, que vive no Vale do Silício, referência em inovação e tecnologia, falou durante uma sessão no Seminário Internacional de Inovação, promovido pelo Hub de Inovação Paulo Cunha, do Insper. Professor de empreendedorismo na Universidade Stanford, Waters, que comanda a aceleradora de startups 4thly, foi provocado a responder se existe um tipo de mindset dos empreendedores bem-sucedidos.
Para encontrar uma resposta, o estudioso conversou com investidores de capital de risco e empreendedores como Kent Hawryluk, Bob Webster, Danielle D’Agostaro, David Weekly, Thane Kreiner, Olivia Moore e Tim Connors. “Há muitas evidências de que os colaboradores são engajados por uma missão compartilhável. As empresas que sabem comunicar sua missão aumentam o desempenho dos seus times”, afirmou Waters. “O problema é que há empresas grandes que criam missões que, apesar de engajadoras, não têm relação com seus negócios principais.”
Independentemente disso, a capacidade de comunicação ou de articulação é uma das características do mindset do empreendedor de sucesso, segundo Waters: “A partir dela, como fez Steve Jobs na Apple, você recruta e mantém engajados os melhores profissionais”.
Outro fator muito importante dessa mentalidade é perseguir a oportunidade, mesmo sem ter os recursos para isso. “Ou seja, você ainda não tem os colaboradores, a infraestrutura necessária, os recursos financeiros, mas, ainda assim, está abraçado à sua ideia de negócio”, disse Waters.
Além da capacidade de comunicação, são fundamentais, na visão do especialista, o foco na resolução do problema e na execução das soluções ou possíveis soluções, não se incomodar com a incerteza ou a insegurança, testar rapidamente hipóteses de negócio, ser obcecado pelo cliente e, claro, perseverar sempre.
Há uma busca incessante das empresas por profissionais com mindset empreendedor. “Neste momento, há quase 22 mil empregos disponíveis em uma plataforma online de recrutamento que mencionam como requisito o tal do mindset empreendedor”, afirmou o professor. Ao longo da história, esse perfil empreendedor foi considerado como algo diferente, até mesmo oposto ao encontrado no ambiente corporativo, especialmente dos diretores. “Lembro-me muitas vezes de a discussão de carreira ser entre empreender ou optar por uma carreira convencional nas empresas, tamanha a distância entre os dois mundos.”
No passado, os diretores corporativos escreviam planos de cinco anos para seus departamentos, com o cuidado de não se desviarem das ações traçadas. Além disso, cuidavam de políticas internas durante boa parte do tempo de trabalho e contratavam pessoas fáceis de ser administradas, pois não tinham como hábito questionar ou fazer diferente. Esses gestores também respeitavam a forma como as coisas eram feitas, sem procurar por novas soluções.
Hoje em dia, o cenário mudou completamente. “Os diretores precisam ser ágeis, respondendo ao mercado rapidamente e revendo seus planos diariamente. Também devem se comunicar bem com suas equipes, com foco na contratação de profissionais que pensem fora da caixa. Por fim, devem buscar resolver os problemas de forma criativa”, disse Waters.
Para o estudioso, essa mudança se deveu principalmente à transformação do mercado, que exige hoje respostas rápidas por parte das empresas. As organizações precisam saber qual é sua visão e o que deseja ser em três anos ou onde quer estar no mercado. Ao mesmo tempo, elas devem tomar as decisões do dia a dia — por menores que sejam — alinhadas a essa visão e a esse desejo.
Os melhores profissionais são aqueles que trafegam com naturalidade por esses dois universos — o de curto e o de longo prazo — e, mais do que isso, sabem comunicar com qualidade todos esses objetivos, aumentando assim o engajamento das equipes.