A contratação de profissionais de perfis variados em gênero, raça, origem social e faixa etária, entre outros aspectos, costuma trazer resultados concretos

 

O americano Steve Jobs, fundador da Apple, deixou inúmeras lições de negócios. Uma delas é que, desde o início da empresa, em 1976, ele começou a aplicar conceitos de diversidade que se revelaram vencedores. Equipes multidisciplinares, formadas por especialistas em informática, matemáticos, designers e até filósofos, de origens distintas, trabalharam juntos para criar produtos que fizeram sucesso no mundo inteiro, como o computador Macintosh, o tocador de música iPod e o telefone celular iPhone.

Mesmo após a morte de Jobs, em 2011, a Apple continuou avançando na ampliação da diversidade em seu quadro de funcionários. Hoje, 56% da força de trabalho da empresa nos Estados Unidos é formada por profissionais de comunidades sub-representadas — que incluem grupos cuja participação na área de tecnologia é historicamente baixa, como mulheres, negros, hispânicos e indígenas. Há cinco anos, essa proporção era de 44%.

A Apple é hoje a empresa mais valiosa do mundo (com um valor de mercado de quase 2,4 trilhões de dólares no dia 1º de novembro de 2022) e a segunda companhia mundo em volume de lucros (120 bilhões de dólares nos últimos 12 meses, atrás apenas da petroleira Saudi Aramco).

 

LEIA TAMBÉM:

• A importância de atrair talentos de outros países para promover a inovação

 

Contar com profissionais de diferentes perfis passou a constituir uma das principais estratégias de negócios de alto impacto. A intenção é acolher perspectivas distintas para criar um ambiente plural, com um repertório mais amplo para encarar os desafios e as necessidades das organizações.

Não à toa, a diversidade está cada vez mais no radar das empresas. Uma pesquisa da consultoria Willis Towers Watson, realizada em 2021, mostra que 90% das companhias consideram o tema muito importante e pretendem implementar ações voltadas à inclusão até 2023. Hoje, 37% das empresas brasileiras já possuem um orçamento específico para iniciativas de promoção da diversidade, segundo um levantamento da consultoria Korn Ferry.

No mercado corporativo, a implementação de práticas de diversidade, com a contratação de profissionais de perfis diversos de gênero, raça, origem social e faixa etária, entre outros, costuma trazer resultados objetivos. Outro estudo, da consultoria McKinsey, revela as vantagens da estratégia: as empresas com maior diversidade de gênero em sua equipe executiva têm 25% maior chance de apresentar lucratividade acima da média do que empresas com baixa diversidade, ajudando a pavimentar o crescimento sustentável.

 

Como aplicar a diversidade nos negócios?

É preciso implementar uma série de iniciativas para promover um ambiente de trabalho inclusivo. Uma medida importante é capacitar os recrutadores e o RH ou, caso não haja ninguém com experiência nessa área, contratar profissionais especializados em programas de promoção da diversidade. A definição de metas e um passo a passo da inclusão, com um cronograma de ações e objetivos, é outra estratégia importante. Veja, a seguir, como aplicar a diversidade na empresa:

• Seleção: em primeiro lugar, é recomendável examinar os processos de seleção e verificar se preconceitos inconscientes, de raça e gênero, entre outros, podem interferir na escolha dos candidatos.
• Promoção: qual é o perfil dos profissionais que foram promovidos nos últimos anos? Os cargos de chefia são ocupados por pessoas com características parecidas, em termos de gênero, idade e questões raciais, por exemplo? Essas perguntas são importantes para identificar padrões.
• Minorias: outra iniciativa essencial é mapear a participação de minorias nas mais variadas equipes e, a partir daí, estabelecer diretrizes para o aumento da diversidade.
• Ambiente de trabalho: é preciso também trabalhar temas como a aceitação ao diferente entre os funcionários da empresa para que profissionais com diferentes perfis sejam aceitos pelo time.
• Liderança: os gestores devem se envolver com a estratégia e as ações de promoção da diversidade com o objetivo de dar maior visibilidade ao processo e transmitir sua importância.
• Educação: campanhas sobre a importância da diversidade e a possiblidade de interação com diversos grupos de trabalho constituem outro ponto importante da gestão da diversidade.

 

LEIA TAMBÉM:

• Black in Tech: a inclusão de jovens negros e negras no mercado de TI

 

Por que negócios do futuro devem investir em diversidade?

Em um mundo complexo e um ambiente de negócios em transformação, a pauta da diversidade ocupa cada vez mais um lugar de destaque.

Fundos de investimentos globais e stakeholders de forma geral já adotam práticas que impedem ou dificultam o relacionamento com organizações não inclusivas. Além disso, indicadores baseados em conceitos ESG e de diversidade passaram a fazer parte das métricas de avaliação do negócio.

Até o mercado financeiro vem adotando um posicionamento a respeito. Em 2020, a Nasdaq, segunda maior bolsa de valores do mundo, exigiu a implementação de uma política baseada na diversidade nas organizações que negociam ações em seu pregão.

É preciso lembrar também que as gerações mais novas valorizam ambientes de trabalho inclusivos — e, para atrair talentos, será primordial investir em uma cultura de diversidade. Um levamento do instituto de pesquisa canadense ThoughExchange mostra que 71% dos jovens analisam o perfil da empresa em relação à inclusão e à sustentabilidade antes de se candidatar a uma vaga de emprego.

Com a evolução da tecnologia e do trabalho remoto, a convivência com profissionais de outros países e culturas também segue em alta. Times formados por especialistas de diferentes nacionalidades, formação profissional e origens deixaram de ser incomuns nas empresas.

Preparar a cultura organizacional para essas mudanças se tornou algo essencial no ambiente corporativo. Os negócios do futuro que não investirem em aspectos inclusivos da gestão de pessoas deverão ter menos chances de sucesso em atrair capital, se posicionar de forma positiva junto aos consumidores e conquistar um crescimento sustentável.

 

LEIA TAMBÉM:

• O momento não é mais apenas de debater a diversidade, mas de realizar ações