O aluno Pedro Ribeiro pode ser visto praticando música no instrumento instalado perto do auditório do Insper
Leandro Steiw
Não é incomum encontrar Pedro Ribeiro, aluno do 2º semestre do curso de Engenharia de Computação, no piano Yamaha instalado no térreo do prédio do Insper, perto do auditório. Embora na maior parte das vezes ele esteja estudando a técnica do instrumento, se você der sorte também pode encontrá-lo tocando alguma valsa de Chopin ou um prelúdio de Rachmaninoff, dois dos compositores preferidos de Ribeiro.
As primeiras aulas de música, aos 7 anos de idade, foram mais por determinação dos pais do que por convicção do garoto. “Eles decidiram que eu teria que tocar algum instrumento”, recorda Ribeiro. “Eu queria aprender violão, mas meus pais escolheram o piano — e o piano clássico. Os meus pais sabiam que tocar um instrumento me ajudaria em muitas coisas. O acesso a um instrumento, como eles pensavam, ajuda a criança a se desenvolver culturalmente.”
De fato, embora tenha parado os estudos de música dos 10 aos 13 anos, o interesse pela arte já estava plantado. “Até os 10 anos, eu não escutava música clássica”, diz Ribeiro. “Eu ia para aula, tinha exercício de técnica, voltava para casa e não conseguia tocar, porque ainda não tinha um piano. E, aos 8 anos, também não tinha muito acesso à internet para ouvir. O meu conhecimento de música era muito pequeno naquela época. Mas, aos 13, comecei a escutar música clássica, voltou a vontade de tocar piano e retornei às aulas.”
Ribeiro não lembra exatamente como se deu a descoberta. Provavelmente, o primeiro vídeo no YouTube tenha levado ao segundo, ao décimo, ao centésimo e assim por diante. “Aos poucos, comecei a aprender o que é bom na música clássica”, conta. “Porque, normalmente, todo mundo tem uma noção muito superficial. Quando começa a ver as coisas geniais que já foram feitas e que poucos conhecem, você começa a criar um gosto forte. Daí deslanchei e comecei a estudar muito.”
A obra do polonês Frédéric Chopin (1810-1849) foi afeição à primeira vista. “Como ele era ‘o’ pianista, e também o mais famoso, acho que todo mundo quer tocar Chopin”, afirma. “E também porque Chopin é muito difícil. Você é pequeno, quer tocar e não consegue. A primeira peça do Chopin que se executa completa é um marco na sua trajetória de piano.” No caso de Ribeiro, foi a Valsa em Lá Menor da Opus póstuma. À playlist, logo se acrescentaram composições do húngaro Franz Liszt (1811-1886) e do russo Sergei Rachmaninoff (1873-1943) e uma seleção eclética de jazz, rock, rap, soul e blues.
Teclado por teclado, porém, Ribeiro ainda está mais tentado pelos usados na Engenharia de Computação. “Desde pequeno, eu queria ser engenheiro”, diz. “Nunca pensei em ser pianista profissional. Primeiro porque deveria ter começado muito antes, aos 4 anos, e treinar muito. Quando comecei a gostar de música clássica, aos 13, já era meio tarde para ser profissional. Mas tenho certeza de que, no futuro, vou fazer alguma coisa relacionada à música. Só não sei ainda o quê.”
Ribeiro conta que, entre os primeiros vídeos a que assistiu no YouTube, estavam os de pianistas tocando em praças e lugares públicos. “Gosto de tocar em público desde que não tenha o compromisso de tocar em público, como num recital, mas quando me sinta à vontade”, afirma. O piano Yamaha que ele toca no Insper foi doado à escola por Claudio Haddad, presidente do Conselho Deliberativo da instituição.
“Às vezes, estou passando pelo Insper, vejo o piano e tenho vontade de tocar. Na primeira vez, acionei o pedal abafador, deixei a tampa fechada e toquei baixinho, afinal é um piano Yamaha de cauda. A acústica dele é perfeita. Pensei em não fazer um escândalo naquele dia, mas agora já tenho intimidade com ele. Aquele piano é tão bom, tão bom, que acaba com a vergonha de tocar.”