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“Todos os negros deveriam ter o direito de conhecer a África”

O professor Rodolfo Avelino relata as experiências que teve em recente viagem a Joanesburgo e Soweto, na África do Sul

O professor Rodolfo Avelino relata as experiências que teve em recente viagem a Joanesburgo e Soweto, na África do Sul

Rodolfo Avelino na Casa de Mandela
Rodolfo Avelino na antiga casa de Nelson Mandela, hoje um museu, em Soweto

 

Leandro Steiw

 

A viagem mais recente do professor Rodolfo Avelino à África do Sul teve um enorme sentido simbólico. “Acredito que todos os negros deveriam ter o direito de conhecer a sua terra-mãe”, diz Avelino, que ministra a disciplina Tecnologias Hacker no Insper e é especialista em segurança da informação e proteção de dados. “Para mim, é muito forte saber a forma que nós fomos retirados da África, levados para outra terra, a contragosto e com violência. Então, todos nós deveríamos ter o direito de retornar ou de conhecer as nossas origens.”

Avelino conta que os sinais do apartheid ainda estão presentes na África do Sul, pois o fim regime de segregação e discriminação racial ainda é recente. A política oficial de privilégio aos brancos no país perdurou de 1948 a 1994, uma referência que, no contar dos anos, mal completou uma geração. “Há ainda os reflexos da desigualdade, que é muito evidente nas ruas por onde tive a oportunidade de passar”, afirma o professor.

Para praticar a língua inglesa nas férias, Avelino pediu as impressões de um amigo que fizera intercâmbio em uma escola na África do Sul, pois queria unir o exercício do idioma com a vontade de conhecer o país. “Era algo que vinha me despertando nos últimos anos”, diz Avelino. “Dois anos atrás, tive a oportunidade de conhecer regiões periféricas dos Estados Unidos para ter registros de todos os símbolos da resistência dos negros americanos. Então, fui ao Bronx, em Nova York, e a Compton, na Califórnia. Quero conhecer um pouquinho mais sobre toda essa história de luta e resistência dos povos, não só dos negros, mas de todos os que, de certa forma, sofrem algum tipo de restrição.”

 

Museu do Apartheid
O Museu do Apartheid, em Joanesburgo

 

Em Joanesburgo, o Museu do Apartheid expõe os horrores do período por meio de fotografias, textos, vídeos e artefatos que reconstroem os eventos e as histórias pessoais. “O museu é importante para a história pela forma como ele foi construído, tentando, de uma maneira mais viva, mostrar um pouco de como era questão da segregação”, afirma Avelino. “A primeira experiência que se tem, antes de entrar, é justamente esta: eles mostram uma entrada para brancos e outra para não brancos. Só quando você compra o ticket para entrar no museu, fica sabendo por qual porta vai entrar, aleatoriamente. Isso é muito impressionante.”

Avelino relata a experiência: “É um local onde tiveram uma atenção grande com o registro histórico. Cada espaço tem exposições externas e internas que seguem uma lógica histórica, desde quando não havia nada de resistência até a criação dos primeiros movimentos organizados. O museu vai reconstituindo o processo de perseguições e manifestações de resistência, como a criação do partido de Nelson Mandela e o movimento estudantil liderado por Steve Biko, também lembrado no museu. Tudo muito bem registrado por meio de vídeos e fotos. Você vai percorrendo todas as salas até chegar ao momento em que o Mandela se torna presidente”.

 

Rodolfo Avelino no Museu Hector Pieterson
No Museu Hector Pieterson, perto do local do massacre de jovens em 1976

História de resistência

Além do museu, Avelino conheceu Soweto, criado como bairro de Joanesburgo para segregar as pessoas negras durante o apartheid. “Eu já tinha alguns roteiros em mente, e um dos primeiros era conhecer Soweto, que simbolicamente também tem uma história linda de resistência, linda no sentido de superação, mas também de muita tristeza”, diz. Foi em Soweto que, em 16 de junho de 1976, a polícia sul-africana reprimiu uma passeata de milhares de estudantes que pediam melhores escolas para os negros. Centenas de jovens morreram no massacre.

O professor queria manter os planos de imersão pelo país e contratou um passeio de cinco horas de bicicleta por Soweto, com um guia que morava na cidade. “Tive a oportunidade de conhecer as casas de Mandela, que hoje também é um museu também, e de Desmond Tutu”, recorda. “Também pude entrar lá no que nós conhecemos aqui por favela, mas que são moradias de lata que o governo fez um pouco antes da Copa do Mundo da África do Sul, em 2010. Junto com o Museu do Apartheid, Soweto era um dos grandes lugares que eu queria conhecer mais a fundo.”

 

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