Pesquisadores do Insper e da instituição americana trabalham em conjunto para desenvolver uma metodologia eficiente e escalável de estudos organizacionais
Tiago Cordeiro
Detectar e caracterizar comunidades em grafos — área da matemática que estuda as relações entre os objetos de um determinado conjunto. Essa é uma tarefa tradicional para especialistas em estudos organizacionais que pretendem analisar como grupos se formam e se conectam. A atividade se apoia em metodologias capazes de descrever os agrupamentos de forma precisa e escalável, já que as conexões se tornam mais complexas à medida que mais participantes são levados em consideração.
São esses os objetivos da pesquisa “Meso-scale Structures in Large Graphs: Finding Communities with Substructure”, resultado do trabalho conjunto de Fábio Ayres e Charles Kirschbaum, do Insper, e George Chacko e Tandy Warnow, da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (UIUC).
“A iniciativa poderá estimular o desenvolvimento de outras pesquisas na área, especialmente dentro das duas universidades, com a produção de materiais informativos aplicáveis aos cursos do Insper e da UIUC”, diz Ayres, que atua no desenvolvimento dos cursos de Engenharia e pesquisa visão computacional, aprendizado de máquina, processamento de imagens, recuperação de informação e computação de alto desempenho.
“A proposta é analisar redes distribuídas na sociedade, começando pelas interconexões entre artigos acadêmicos, considerando como eles citam uns aos outros”, reforça Kirschbaum, que é Ph.D. em administração de empresas pela FGV e realizou pós-doutorado em Sociologia Econômica na Columbia University, além de professor associado do Insper. Também leciona o curso Análise de Redes Sociais no doutorado em Economia dos Negócios. Atualmente, sua pesquisa explora as redes de relacionamento entre startups, investidores e outros atores em ecosistemas empreendedores.
O professor já produziu artigos sobre estudos organizacionais utilizando o ecossistema formado em torno do jazz como foco. É autor de “Categories and Networks within Jazz Evolution: bandleaders’ jazz sidemen overlap from 1930 to 1969” e “How social network role, geographical context and territorial mobility mediate the adoption of transgressive styles in the jazz field” — este último publicado em coautoria com Priscila Fernandes Ribeiro.
Aliás, num segundo momento, a pesquisa realizada em parceria com os pesquisadores de Illinois vai retomar o tema do jazz. “Em meu doutorado, analisei de que forma músicos de jazz tocavam juntos no século passado, detalhando como um artista específico atuava em diferentes bandas. É uma abordagem que pode ser aplicada para organizações em geral”, diz Kirschbaum.
O projeto de pesquisa é resultado de uma parceria firmada em 2022 entre o Insper e a UIUC. É a primeira vez que a universidade americana firma uma aliança com uma instituição de ensino superior da América Latina na área de tecnologia. “Na interação com a UIUC, nós nos beneficiamos, principalmente, ao entrar em contato com novas ferramentas analíticas. E eles passam a acessar um banco de dados que nós implementamos, e que pode enriquecer o trabalho de análise”, afirma Kirschbaum.
O acordo firmado com o Grainger College of Engineering fortalece a área de Ciência de Computação do Insper, assim como os cursos de Engenharia, beneficiados por tecnologias educacionais, preparação de professores, desenvolvimento de pesquisa aplicada e intercâmbios.
No primeiro ano, estão sendo desenvolvidos cinco projetos, conduzidos em parceria por professores do Insper e da UIUC. Iniciados em agosto deste ano, os projetos reúnem 17 pesquisadores.
Surgida oficialmente em 1982, mas com raízes que remontam a 1859, a UIUC tem mais de 3 mil colaboradores e quase 95 mil alunos. Entre os 470 mil alumni da instituição, incluem-se 24 ganhadores de Prêmio Nobel — é a 24ª instituição de ensino no mundo que mais produziu vencedores do Nobel.
O Insper conta também com a expertise da UIUC no desenho de cursos de graduação e pós-graduação que mesclam Data Science e Ciência da Computação às outras áreas do conhecimento, como Negócios, Economia, Filosofia e Engenharias.
Além disso, a colaboração em tecnologias educacionais para feedback e personalização da aprendizagem, que já é utilizada nos demais cursos do Insper, será aprofundada. O Grainger College of Engineering vai ajudar o Insper a incorporar feedback automático e customização de percursos de aprendizado e itens de avaliação em diversas disciplinas. Esse recurso permite que o aluno progrida em ritmo próprio.