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O comércio internacional de bovinos vivos

A exportação de gado vivo ainda é uma atividade importante globalmente. Mas questões sanitárias e de bem-estar animal podem afetar o futuro desse negócio

A exportação de gado vivo ainda é uma atividade importante globalmente. Mas questões sanitárias e de bem-estar animal podem afetar o futuro desse negócio

 

Artur Arantes, assistente de pesquisa do Insper Agro Global

 

Em 2021, o mundo exportou cerca de 2,4 milhões de toneladas de bovinos vivos, movimentando em torno de 9 bilhões de dólares. Esse volume representou aproximadamente 20% de todo o comércio internacional de bovinos, considerando a soma de animais vivos e carnes.

O comércio de animais vivos não é nada trivial e exige uma operação logística complexa. Para chegar ao país de destino, o animal geralmente precisa enfrentar uma estressante viagem de milhares de quilômetros, com duração de semanas, que vai desde a fazenda fornecedora ao porto de origem, passando pelo transporte marítimo e por terra, até o frigorifico ou a fazenda de destino. Muitas vezes ainda se exige um período de quarentena no mercado de destino.

Além das características que envolvem a movimentação de cargas vivas, o volume transportado nesse tipo de operação costuma ser imenso, justamente para compensar os custos elevados — o navio especializado chamado NADA, de origem panamenha e que é o maior desse tipo no mundo, chega a carregar até 30 mil animais.

Mesmo com a alta complexidade (e custo) operacional, esse mercado segue relevante em termos financeiros. Ao analisar dados históricos, pode-se perceber uma estabilidade no volume comercializado em águas internacionais, com pouca ou nenhuma variação relevante em 10 anos. Em termos das exportações, a França domina esse mercado, com estáveis 0,4 milhão de toneladas de bovinos vivos exportados por ano, em média, seguida por Austrália (0,35 milhão ton/ano), Brasil e Canadá (ambos com cerca de 0,3 milhão de ton/ano).  Do outro lado da mesa, os maiores importadores de bovinos vivos são os Estados Unidos e a Itália.

Esse mercado internacional segue relevante por diversos motivos. Um deles é o interesse de frigoríficos locais em manter processos produtivos específicos e por isso importam animais para o abate nacional. Outra questão relevante é a religiosa, que em alguns casos, como nos procedimentos Halal vigentes no mundo islâmico, exigem especificidades na preparação e abate dos animais. Mas também existem mercados importadores que recebem esse tipo de carga simplesmente por não terem estrutura adequada para receber, industrializar e comercializar cargas frigorificadas.

 

 

 

 

 

 

 

 

O Brasil vem perdendo espaço e representatividade nesse mercado. Em 2021, a participação do país foi de pouco mais 1% do total, contrastando com o mercado de carne bovina, no qual o Brasil é líder, representando 19% das exportações globais.

Percebe-se a volatilidade nas exportações brasileiras de bovinos vivos, com uma tendência de queda. O ápice no embarque de bovinos vivos pelo Brasil foi em 2009, quando o país exportou cerca de 600 mil animais. Entretanto, desde então, a diminuição atingiu 90% até 2022.

Tal fato pode ser explicado pelo crescimento das exportações brasileiras de carnes no período, mas também por entraves existentes nesse mercado. Há diversos projetos de lei que hoje tramitam no Legislativo com o objetivo de proibir as exportações de animais vivos como carga.  Também houve no período um aumento das regulações e normas, justificado por crescentes restrições nas questões relacionadas com bem-estar dos animais.

Como já citado, as questões que envolvem a movimentação de carga viva são complexas e muitas vezes implicam percepções de maus-tratos. Questões sanitárias também são problemáticas, dado que o transporte de animais vivos entre países eleva os riscos relacionados a contaminações e doenças. Vale lembrar o caso da peste suína africana (PSA), que se alastrou pela África, Oriente Médio, Europa, Rússia e Ásia, matando milhões de suínos, notadamente na China.

Entretanto, trata-se de um mercado relevante economicamente no contexto global, gerador de renda e que merece um olhar mais cuidadoso e estratégico, uma vez que alguns dos principais concorrentes do Brasil no setor de carnes têm forte atuação nesse mercado.

 

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