Érico Pilatti, docente de curso de pós-graduação no Insper, fala sobre a importância de usar o conhecimento para tornar sua atuação mais estratégica para cada cliente

 

Bárbara Nór

 

Trazer o olhar estratégico e de negócios para sua atuação como advogado. Essa foi a principal lição, ao longo da carreira, para o alumnus e agora professor Érico Pilatti, que está há dois anos à frente das áreas de tributação do mercado financeiro e de capitais e de planejamento patrimonial no escritório  Cepeda Advogados. Seu momento atual, conta, é resultado de experiência que acumulou no mercado financeiro em quase 20 anos — durante os quais não faltaram desafios.

A atuação de Pilatti no mercado financeiro começaria no segundo estágio, quando ele passou a trabalhar na então BM&F, em 2003. Em 2005, depois de se formar em Direito na Universidade de São Paulo, ele foi efetivado e, já em 2007, passaria por um importante momento do mercado brasileiro: a desmutualização das bolsas brasileiras, quando elas viraram sociedades anônimas e, ato contínuo, empresas de capital aberto. Como se trata de um processo jurídico, no qual os títulos patrimoniais das empresas são convertidos em ações, Pilatti participou ativamente das operações, um desafio marcante, em suas palavras.

“Tive essa visão interna da empresa que passa por um processo de transformação e pude atuar nesse dia a dia dessa integração”, diz Pilatti. “Era preciso entender tanto do ponto de vista dos negócios, porque era uma bolsa, superintegrada ao mercado, e também o lado corporativo, o do funcionamento interno dessas instituições.”

Tanto que foi nesse ano que Pilatti buscou sua primeira complementação à graduação: um LL.M. (pós-graduação lato sensu) de dois anos em Mercado de Capital e Financeiro no Insper (então Ibmec). “Esse era o curso que mais se destacava na área de regulação e mercado financeiro”, diz Pilatti. Para ele, um dos maiores frutos da formação foi a visão mais ampla que ele passou a ter do mercado e das dinâmicas das operações — algo que ia muito além dos conhecimentos jurídicos e que ele carrega até hoje. “Isso ajudou muito no meu entendimento e na forma como pude participar do que acontecia na Bolsa”, afirma. Em 2008, o curso se revelaria ainda mais útil, quando as bolsas brasileiras passaram por uma integração. Depois da fusão, a BM&F e a Bovespa Holding deram origem à BM&FBovespa.

 

Área tributária

O desempenho de Pilatti durante esses dois momentos rendeu uma posição de destaque na Bolsa, onde ele passou a ser responsável pela área tributária jurídica. Como o trabalho envolvia também, além das questões regulatórias, as áreas de contrato e propriedade intelectual, Pilatti buscaria, em 2010, o Insper pela segunda vez, agora para um LL.M. em Direito Tributário. “Queria um conhecimento mais profundo em operações sob a ótica tributária, tendo em vista a área que havia começado a gerir desde 2008.”

Como superintendente jurídico da Bolsa, ele chegou a liderar uma equipe de mais de 20 advogados e estagiários, tendo completado 18 anos de carreira no mercado financeiro, em 2020. Foi o tempo de Pilatti atuar em um terceiro grande evento no mercado brasileiro: uma nova fusão, quando a BMF&Bovespa se uniu à Cetip, dando origem à atual B3, em 2017.

Em paralelo, Pilatti continuou seus estudos e em contato próximo com o Insper, mesmo depois de terminar o segundo LL.M. “Sempre tive muito acesso aos professores. Tinha um networking muito rico e uma contribuição muito forte na academia.” Ele atribui aos estudos e à experiência que teve no Insper parte da sua formação, a qual permitiu a sua entrada no mestrado em Direito Tributário na USP, por meio do qual obteve o título de mestre, em 2017. E ele não pensa em parar por aí. Em 2019, Pilatti fez outra extensão, mais voltada à gestão jurídica, dessa vez em Harvard.

“Uma coisa que sempre me pautou na atuação de mercado foi o quanto o conhecimento e a circulação do conhecimento são essenciais para você formar bons profissionais, e não só bons alunos”, diz Pilatti, que também deu aulas durante sua experiência na BM&F. “Sempre foi importante, para mim, buscar a melhor informação, que pudesse agregar valor diferenciado a quem recebe.”

 

Nova fase

Se, durante seus 18 anos de carreira no mercado financeiro, Pilatti pôde acumular experiências únicas, ele ainda tinha vontade de desbravar outros caminhos. “Foram temas grandes e interessantes que conduzi como superintendente jurídico na Bolsa, mas sempre quis experimentar o mercado do outro lado e atuar em escritório.” Foi aí que ele deu um salto: em junho de 2020, saiu da Bolsa e passou a integrar o Cepeda Advogados, escritório focado em mercados financeiro e de capital, com grande especialização na indústria de fundos e assets, e com sede em São Paulo. “Minha intenção era poder contribuir e agregar para outras entidades que não só a empresa que eu atendia.”

Para ele, um dos aspectos mais importantes é usar o conhecimento que acumulou para tornar sua atuação como advogado mais estratégica para cada cliente. “Não basta só ver o contrato ou o enquadramento tributário. Você, como profissional, precisa entender da operação, quais são as bases, como ela se enquadra no mercado, as lógicas que estão por trás disso”, diz. “É essencial ao advogado conhecer também o business.”

É isso também que está por trás dos cursos do Insper para advogados, ressalta — algo que ele busca também reforçar em sua atuação como docente e um dos coordenadores acadêmicos do LL.M. em Direito dos Mercados Financeiro e de Capitais no Insper, função para a qual foi convidado depois de uma aula que deu para alunos da escola, em 2019. “Quisemos trazer justamente essa visão transversal das operações do mercado financeiro e de capitais e trazer uma vivência de mercado para os alunos”, diz Pilatti. “Um profissional jurídico que conhece a operação pode auxiliar e atuar como um conselheiro, agregando para os negócios.”