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Carmen Silva recebe o 1º Prêmio Ecoa por sua luta pela moradia digna

Com quase três décadas de trabalho em defesa de moradores de rua, a professora do Núcleo Mulheres e Territórios do Laboratório Arq.Futuro de Cidades é premiada na categoria Causadores

Com quase três décadas de trabalho em defesa de moradores de rua, a professora do Núcleo Mulheres e Territórios do Laboratório Arq.Futuro de Cidades é premiada na categoria Causadores

 

Tiago Cordeiro

 

A baiana Carmen Silva chegou a São Paulo em 1993. Depois de alguns meses, o dinheiro acabou e ela passou a morar na rua, no centro da capital paulista, cercada por prédios desocupados. Em 2000, Carmen participou ativamente da criação do Movimento dos Sem-Teto do Centro (MSTC), onde desenvolve um trabalho em prol do acesso a saúde, educação, bibliotecas, parques e atividades esportivas.

Desde então, ela já contribuiu para amenizar dificuldades de mais de 3 mil pessoas em situação de vulnerabilidade. O MSTC coordena cinco ocupações, incluindo a 9 de Julho, em um prédio localizado entre a avenida 9 de julho e a rua Álvaro de Carvalho, na Bela Vista. O edifício, construído em 1943, foi sede do INSS até 1976 e depois esvaziado. Permaneceu sem uso por 21 anos, até ser ocupado pelo MSTC. Hoje abriga mais de 120 famílias.

Os imóveis são selecionados pelo tempo sem ocupação, em função do alto valor das dívidas em impostos. Os novos moradores então fazem uma faxina e se alojam. Seguem normas rígidas e contribuem para a manutenção do edifício.

Esse trabalho é agora reconhecido: Carmen Silva foi uma das vencedoras do 1º Prêmio Ecoa, concedido pela plataforma do UOL dedicada a destacar iniciativas que promovem transformações sociais positivas no Brasil. Carmen venceu na categoria Causadores, por sua luta pelo direito à moradia digna para famílias na região central da cidade de São Paulo.

A líder, que é também professora do Núcleo Mulheres e Territórios do Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper, celebra a conquista, mas aponta que o reconhecimento aumenta a responsabilidade sobre sua atuação. “Receber o prêmio Ecoa significa, por um lado, que o trabalho que fazemos está indo pelo caminho certo”, afirma. “Por outro lado, quando se é observado, precisamos fazer uma grande autocrítica. E a minha avaliação é que, como liderança de movimento, tenho que ser cada dia atenta à escuta, à sensibilidade, para somar. A luta contra a desigualdade tem que ser continuada.”

 

Tecnologia social

Nascida em Santo Estevão, a 160 quilômetros de Salvador, Carmen tem 61 anos e é filha de um militar e uma trabalhadora doméstica. Viveu em Salvador a partir dos 4 anos. Casou-se com 17, teve oito filhos e, aos 35, precisou fugir para São Paulo de ônibus.

As primeiras semanas na nova cidade foram difíceis. “Quando cheguei, me senti uma refugiada. Para mim, São Paulo parecia um outro país”, ela relata. “Mas foi na rua que compreendi que minha luta não é maior do que a de ninguém. Nossa dor é conjunta, e ela é resultado da falta de acesso a direitos básicos dos cidadãos.”

Carmen diz que esse é seu papel como educadora: articular diferentes setores da sociedade. “É por meio do diálogo entre as diferenças que vamos construir um território melhor, mais acolhedor”, afirma.

A ativista relata que ficou muito satisfeita ao ser convidada pelo Insper a participar do Laboratório Arq.Futuro de Cidades, uma parceria entre a escola e o movimento Arq.Futuro. Firmada em 2019, a parceria tem na interdisciplinaridade a base de uma plataforma para o ensino e a pesquisa sobre o meio urbano, com foco na inovação.

“A minha relação com o Insper é pautada na escuta. Quando faz esse esforço na direção de colocar lideranças da sociedade em contato direto com a base, a instituição traz para a pauta sua capacidade de implementar ações de tecnologia social em busca de equidade”, diz.

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