Conheça a trajetória acadêmica e profissional do novo coordenador, além de seus planos para o Centro e sua visão sobre o cenário nacional de empreendedorismo
Neste mês de julho, Thomaz Martins de Aquino assume a coordenação do Centro de Empreendedorismo (CEMP) do Insper. Graduado em Economia e Controladoria pela Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto e mestre em Estratégia Empresarial pela Fundação Getulio Vargas, com pesquisa na linha de empreendedorismo, Aquino estruturou e coordenou o programa de aceleração FGV Ventures, no qual atuou para o desenvolvimento de cerca de 40 startups, com avaliação de mercado na casa de R$ 125 milhões.
Saiba mais sobre os planos de Thomaz para o CEMP e a respeito de sua visão sobre o cenário nacional de empreendedorismo na entrevista a seguir:
1) Em resumo, qual a sua trajetória acadêmica e profissional?
A minha trajetória acadêmica se mistura bastante com a minha trajetória profissional. Sempre busquei levar para a prática os conhecimentos acadêmicos e de pesquisa. Em 2011, entrei em Física na Unicamp. Eu tinha uma visão bem idealista e buscava entender o mundo para poder explicá-lo melhor e ajudar na resolução de problemas.
Lá, tive oportunidade de trabalhar com organizações estudantis e fui presidente de empresa júnior. Passei a entender que todas as pessoas, em seu cotidiano, estão tentando resolver os problemas de seu próprio mundo, e não do mundo inteiro.
Percebi também que a função de empresas e organizações é orquestrar pessoas em prol da resolução de problemas comuns, e que por meio delas eu talvez encontrasse um melhor caminho para causar impacto positivo no mundo.
Então, mudei para o curso de Economia e Controladoria na USP de Ribeirão Preto, onde me graduei. Durante o curso, fiz minha iniciação científica sobre como estruturar empresas. Publiquei artigos e construí minha empresa para ajudar organizações, principalmente pequenas e médias, a se constituírem.
No final, eu já estava olhando mais para a inovação. Facilitei workshops de open innovation para a Votorantim e o banco Sicoob, por exemplo, e prestei consultorias para mapeamento de processos no Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto e para o Instituto Butantan.
Em 2015, tentei abrir uma edtech, startup com foco em tecnologia educacional. A ideia mal saiu do papel, mas nesse processo eu passei por uma pré-aceleração e ajudei outros empreendedores. Nesse momento, vi que eu poderia navegar melhor por este caminho: trabalhar no apoio ao empreendedorismo de base tecnológica, com potencial de crescimento e com foco na resolução de um problema de mercado.
Em 2018, iniciei meu mestrado na FGV para entender como os programas de apoio, principalmente aceleradoras de startups, ajudam o processo empreendedor desses novos negócios. E no mesmo ano fui contratado pela FGV para estruturar e dirigir o programa de aceleração da faculdade.
De lá pra cá, passaram na minha mão cerca de 40 startups, de 52 do total do programa, com valuation na casa de R$ 125 milhões. Essa foi uma experiência incrível para mim. Liderei sete processos de aceleração, cada um com quatro meses de duração e envolvendo cinco ou seis startups por batch, com as quais mantive um contato muito próximo.
2) Como surgiu o convite para assumir o Centro de Empreendedorismo do Insper?
Eu já conhecia o Victor Macul, coordenador anterior do CEMP. Havíamos trabalhados juntos em duas edições da Semana de Empreendedorismo Universitário, que envolveram diversas escolas. Em 2019, eu já havia mantido conversas com a Liga de Empreendedorismo do Insper e, neste ano de 2021, tive duas conversas com a organização estudantil Insper FinTech.
O convite aconteceu de modo natural, por essa aproximação, e fez muito sentido para mim. Fiquei muito feliz pela confiança. É um cargo que olha de forma muito sistêmica como o empreendedorismo é tratado no Insper, em todas as suas instâncias: graduação, pós-graduação, educação executiva e alumni. Estou muito animado com esse desafio de construirmos uma lógica de competência empreendedora dentro da escola.
3) Quais são os seus planos para o Centro de Empreendedorismo do Insper?
Estamos em fase de definições, incluindo o redesenho da atuação do próprio CEMP. Mas algo já é possível afirmar: o desafio passa por posicionar a escola como a mais empreendedora da América Latina. Não faz sentido não ser algo disso para cima. E esse é o nosso grande norte.
Uma escola empreendedora não se baseia apenas na geração de novos negócios, e sim em pensar no empreendedorismo como competência, com mais pessoas possuindo um olhar direcionado para a solução de problemas, e que poderão aplicar esse conhecimento independentemente se será no próprio negócio ou não.
A busca será por estruturar essa visão sistêmica, de ponta a ponta, da jornada empreendedora da nossa aluna ou aluno. Devemos começar pensando nos estudantes que estão no ensino médio, buscando formas de atrair os que já demonstram afinidade para a resolução de problemas e que tenham uma visão mais empreendedora. Uma vez que ele se torne nosso aluno, vamos inspirá-lo para desenvolver melhor essas competências e, caso escolha construir um negócio, vamos apoiar para que a iniciativa consiga acelerar e crescer cada vez mais rápido.
4) Como você vê o cenário nacional para o empreendedorismo? Quais são as principais oportunidades e desafios?
O jogo de empreendedorismo, principalmente quando falamos de startups, é de longo prazo. Quanto mais iniciativas surgem, maior a possibilidade de grandes negócios darem certo e de termos referências nos ecossistemas. Se não fosse há dez anos, com a criação das primeiras startups no Brasil com essa visão de crescimento, não teríamos quase 20 unicórnios hoje (startups com valor de mercado de mais de 1 bilhão de dólares).
Vemos que o nível de maturidade do ecossistema empreendedor brasileiro já cresceu bastante. Mas quando olhamos para Estados Unidos e China, que já têm mais de 200 unicórnios cada um, observamos que é apenas depois das 10 ou 20 primeiras startups unicórnios que a curva de crescimento inclina rapidamente.
Estamos entrando nesse momento no cenário brasileiro. Com o surgimento de muitas startups relevantes, a própria composição do mercado muda. Estamos falando da entrada forte de fundos de investimento globais no Brasil, com aportes acontecendo em rodadas já bem avançadas. Com essa abundância de startups e capital distribuídos ao longo da faixa de desenvolvimento de um negócio, todos os outros stakeholders crescem em volta.
Para mim, essas são grandes oportunidades: uma pessoa interessada em empreender pode criar a própria startup, com mais financiamento hoje para crescer, ou trabalhar em uma startup já existente, em fundos de venture capital, em corporate venture capital, em áreas de empreendedorismo e de inovação dentro de empresas, em agências de fomento ou em aceleradoras.
Com o aumento das oportunidades, os desafios também crescem exponencialmente. Para o profissional que quer atuar em empreendedorismo, é necessário se posicionar dentro desse mercado, que ainda é muito fechado em termos de pessoas que circulam. Os fundos de investimento de nome ainda são poucos no Brasil e quem quer atuar com eles possui dificuldade de encontrar vagas e oportunidades. De todo modo, na minha visão, vamos entrar em um momento de crescimento vertiginoso do número de startups, e esta é a melhor época para pensar em empreendedorismo no Brasil.
5) Que recado você gostaria de deixar para os alunos do Insper que desejam empreender, ou que já estão dando seus passos nessa área?
Tem uma frase que gosto de dizer sempre: “o jogo da startup nos primeiros anos não é o de crescimento. É o de descobrir e validar a melhor forma de crescer”.
Vemos notícias sobre altas quantias de investimentos em startups, o que chama muita a atenção e pode passar a impressão de que tudo é muito fácil. A realidade não é assim. A taxa de mortalidade dessas empresas é altíssima, são poucos os negócios que dão certo. Vale destacar que o empreendedorismo talvez não seja o caminho mais fácil para uma carreira, mas certamente é um dos que mais trazem aprendizados.
No final, é isto que importa: o desenvolvimento e o aprendizado que obtemos no processo. E quem sabe com isso, um dia, nós consigamos resolver os problemas do mundo.