Rápida transição para o modo remoto mostrou esforço da escola para inovar no ensino e na pesquisa em um ambiente cada vez mais desafiador
Em 2020, estudantes de todo o mundo tiveram suas formas de aprendizado impactadas pela pandemia. De acordo com a Unesco, órgão das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, mais de 90% da população estudantil mundial teve de deixar as salas de aula, necessitando de adaptação dos estudos.
No início da pandemia, o Insper acompanhou de perto o crescimento do número de casos de covid-19 na Europa e a consequente transição das universidades para o modelo remoto. O exemplo europeu levou a diretoria da escola a convocar uma reunião emergencial e a elaborar um plano de ação para a transição ao modelo de ensino à distância. Toda a experiência de transição foi compartilhada em um webinar do Programa de Contingência para Escolas.
Muitas das transformações tecnológicas e digitais que aconteceram já vinham sendo estudadas, com planos de longo-prazo. Para Irineu Gianesi, diretor de Assuntos Acadêmicos do Insper, o processo que havia começado antes ganhou intensidade. ”A educação superior já estava mudando, mesmo antes da pandemia, e isso vai certamente continuar. A mera transmissão do conhecimento centrado no conteúdo não será mais o foco das instituições, ao menos daquelas que quiserem se manter relevantes no futuro.”
Paulo Furquim, diretor de Ensino e Aprendizagem do Insper, diz que essa experiência quebrou alguns tabus quanto à utilização de ferramentas digitais para o aprendizado. ”Mesmo após o fim da pandemia, quando os encontros presenciais serão retomados, é esperado que diversos desses recursos sejam utilizados em complemento ao ensino presencial.”
Ensino e aprendizagem
O grande desafio da pandemia para as instituições de ensino foi manter a qualidade técnica e didática dos cursos em um ambiente repleto de situações desconhecidas. Nesse cenário, além de transformar as aulas presenciais em remotas, o Insper também promoveu inovações para aprofundar sua adaptação ao mundo digital.
Entre essas inovações, é possível incluir novos formatos didáticos, como a parceria firmada com o Emeritus Institute of Management para lançar cursos online assíncronos na Educação Executiva. ”A maior mudança foi, sem a menor dúvida, o emprego de ferramentas e técnicas pedagógicas aptas ao ensino remoto, nas modalidades síncrona e assíncrona”, afirma Furquim.
Para ele, há um efeito secundário que também foi fundamental: a utilização de algoritmos voltados ao aprendizado. “Isso possibilita criação de material didático com interação e feedback instantâneo para memorização e reforço de conceitos básicos, em complemento ao desenvolvimento de competências mais complexas.”
Mas, a transformação vivenciada na escola foi além das ferramentas para manter o ensino e aprendizagem em pleno funcionamento. Na visão de Gianesi, a tecnologia mostrou seu potencial durante esse período, mas também foi preciso utilizar diferentes meios e estratégias de ensino-aprendizagem dependendo das competências desejadas. ”Este tem sido um erro de muitos professores e instituições ao enfatizar muito mais o meio do que o resultado, que deve sempre ser o aprendizado dos alunos“, diz.
Para o diretor de Assuntos Acadêmicos, houve um salto de qualidade na capacidade didática do corpo docente, notadamente nos professores que conseguiram um bom resultado. “Se as instituições souberem aproveitar, esse salto vai gerar melhoria no ensino quando voltarmos ao presencial, certamente utilizando mais tecnologia, a favor do desenvolvimento das competências dos alunos.“
Pesquisa acadêmica
O processo de digitalização também traz benefícios para a pesquisa acadêmica produzida dentro do Insper. Essa evolução já vinha ganhando força ao longo dos últimos anos, com o investimento na análise de dados.
Para Paulo Furquim, a digitalização de informação é um fenômeno amplo que ganhou força nos últimos anos e afetou imensamente a pesquisa. Com a ampliação dos dados disponíveis para investigações, bem como a capacidade de processamento desses dados, pesquisas que eram inimagináveis há 10 ou 15 anos hoje estão incorporadas ao repertório de pesquisadores.
Esse cenário não tem seu crescimento relacionado unicamente à pandemia. É fruto de uma tendência fortalecida ao longo de anos. ”A pandemia pouco afetou a relação entre digitalização e pesquisa, que já estava bastante desenvolvida e em trajetória de aprofundamento“, diz Furquim. “Antevejo um crescimento ainda maior da utilização de ciência de dados, da programação e de grandes bases de dados, mas não ligaria tal crescimento à pandemia.”
Digitalização em outros ambientes
O Insper também investiu em formas de digitalização do seu ambiente administrativo, possibilitando que, ao longo da pandemia, esse setor conseguisse manter seu funcionamento. “Essa experiência quebrou alguns tabus quanto à adequação de ferramentas digitais”, afirma Furquim. Na parte administrativa, de acordo com ele, é esperado também maior emprego de reuniões remotas em situações específicas e, para algumas funções, uma composição de home-office com atividades presenciais.
Outra medida importante criada para permitir as atividades remotas do Insper foi a transformação do vestibular de ingresso à Graduação em uma prova online, acompanhada de inteligência artificial para assegurar a confiabilidade do processo.